Crianças brasileiras das classes
média e alta estão mal preparadas para o esporte e sem vontade de se exercitar.
E pais e escolas não ajudam, segundo Luiz Roberto Rigolin, autor de
"Desempenho Esportivo: Treinamento com Crianças e Adolescentes"
(Phorte). Doutor em educação física com pós-doutorado em filosofia
pela USP, Rigolin, 43, se dedica à formação de atletas e se preocupa com o
desenvolvimento das habilidades físicas na infância. Aqui, ele fala das
dificuldades atuais da educação motora:
(Sobre recuperar habilidades motoras que não foram desenvolvidas:)
"Dá para melhorar, mas nunca vai ser a mesma coisa. E os pais e os
professores têm que estar preparados para ensinar essa criança mais lentamente
e sem forçá-la a fazer atividades que estão fora de suas possibilidades. (FSP -
11/09/12).
"A prática de exercícios resulta do desenvolvimento
motor, processo que começa desde que a criança nasce. Ela precisa experimentar
todas as possibilidades de movimento para desenvolver habilidades físicas. Hoje
tem menos oportunidade de fazer isso. Estamos criando uma geração de
analfabetos motores."
"...A grande preocupação dos pais é com a segurança.
Têm medo de soltar o bebê, ele
pode se machucar. Quando o filho começa a crescer, não pode brincar na rua... O outro elemento é a tecnologia. Com os brinquedos tecnológicos a criança desenvolve várias habilidades cognitivas, sem dúvida, mas muito pouco da parte motora. E as escolas também não querem ter problemas com pais preocupados em proteger os filhos, então dão poucas opções para a criança experimentar seu corpo de forma mais solta, quando o risco de se machucar é maior."
pode se machucar. Quando o filho começa a crescer, não pode brincar na rua... O outro elemento é a tecnologia. Com os brinquedos tecnológicos a criança desenvolve várias habilidades cognitivas, sem dúvida, mas muito pouco da parte motora. E as escolas também não querem ter problemas com pais preocupados em proteger os filhos, então dão poucas opções para a criança experimentar seu corpo de forma mais solta, quando o risco de se machucar é maior."
(Sobre pagar uma escola cara pra dar
mais oportunidade ao filho se desenvolver:) "Pode ser até pior. A
inteligência motora está na periferia, onde as crianças não são superprotegidas
como as de classes média e alta e por isso têm chance de experimentar os
movimentos de forma mais livre. Também têm menos acesso a brinquedos
tecnológicos, então têm que encontrar outras formas de brincar: Soltar pipa,
jogar taco. Por isso a maioria dos atletas de esportes complexos não vem das
classes A e B."
(Esfolar o joelho às vezes faz
parte:)"Sim, isso é fundamental, mas também é natural o adulto querer
ajudar a criança para que ela não se machuque."
Os pais podem ajuar: "Com bebês,
eles precisam estruturar a casa para deixar a criança subir no sofá, empurrar e
puxar objetos etc. É precisa ter alguém acompanhando... o que interessa é que a
criança tenha oportunidade de experimentar. Depois, dos três aos sete anos, os
pais podem fazer com que a criança adquira o gosto pela atividade física...
Isso inclui a escola, o parque, a rua."
(Sobre atividades extras - escolinha
de futebol, natação:) "...Acham que vão incentivar a atividade física
colocando o filho na natação, na escolinha de futebol. Mas às vezes o que a
criança quer é andar de bicicleta ou de skate. A grande colaboração que os pais
podem dar é mostrar as alternativas de atividades para o filho descobrir o seu
caminho."
(Como
estimular uma criança talentosa:) "...A partir do momento em que o filho
passa a praticar um esporte, os pais já querem que ganhe medalhas. Começa a
pressão por desempenho... Imagine como a criança fica nessa história de
precisar atender as expectativas de todas essas pessoas."
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