terça-feira, 12 de janeiro de 2016

PASTORES QUE PASSAM DO PONTO

Ministérios longevos estão/são cada vez mais raros. Lembremos que o Rei Pelé virou símbolo daquele que para no auge, no ponto, campeão, sob insistentes apelos para que continuasse. Refiro-me ao fato de que o Atleta do Século encerrou carreira ainda em condições de jogar as copas de 1974 e de 1978! Desde então queremos parar como Pelé.

O episódio nos remete a uma das questões mais críticas da liderança: A hora de transitar. Transitar é termo melhor que parar, mudar, dar “um tempo” (“sabático”) ou desistir. Transitar faz parte da experiência humana. Em qualquer dos cenários não é experiência simples ou fácil para “seu” ninguém.

Muitos líderes passam do ponto e ignoram os sintomas do fim do ministério. Não estão sensíveis à voz de Deus ou não são afeitos à avaliações periódicas, trazendo, assim, dificuldades para a igreja e para si mesmo. (Aqui protestamos àqueles que se arrogam serem depositários da fala divina – supostamente sendo comunicados em primeira mão da vontade de Deus para a vida do pastor...)

Um fator que se impõe é a falta de preparo de muitos obreiros que se dedicam integralmente e exclusivamente à obra. Não possuem formação ou se prepararam noutra ocupação para prover o sustento da família. Têm de ser pastor. (Sim, o Senhor provê nosso sustento, mas é dramático acompanhar líderes que precisam estar no exercício – e por vezes aguentando hercúleas pressões, noutras, permanecem a custo dos colaterais). E estar no, não é opção.

Há líderes sob enfrentamentos que valem a pena por conta de sua didática: Oportunistas, amotinadores devem receber a devida disciplina, e a igreja deve prevenir-se de ataques de aventureiros. O pastor não deve subestimar rebeldes profissionais: Himineus, Alexandres e Diótrefes estão a promover ruídos por aí (I Tm 1.20, II Tm 4.14, III Jo 9,10) e devem ser advertidos com elegância e confrontação bíblica por amor à igreja. A omissão em advertir opositores e o receio em intervir em situações críticas, são gatilhos para motins e divisões – demandas que também contribuem para que o ministro se veja cercado, intimidado e receoso.

Por outro lado às vezes não vale a pena travar duras lutas ao custo da própria saúde sob danos de sua família ou, superado os conflitos, o ministro se vê diante de uma comunidade esvaziada e sem condições de administrá-la. Lembremos: A igreja é de Jesus, não do ministro.

Também há os que faltam com manejo político – entenda-se a arte de relacionar-se com os pares, colecionando intrigas com um a um do staff, tornando o ambiente tenso e sem alegria. A falta de habilidade em negociar (no bom sentido) tem abreviado gestões.

Alguns líderes - por diversas razões - acumulam ministérios curtos, o que por vezes confirmam decisões precipitadas. E acompanham-no a família que deve sacrificar-se para adaptações céleres – mudança de cidade, às vezes, de estado...

Sabemos de igrejas que se mobilizam pra dar um final honroso para o ministério do líder insensível aos sintomas do término da jornada. Esses são exemplares dos que passaram do ponto: Passar do ponto é desconhecer que já não edifica como outrora; outros, sem saúde para tocar o ministério ignoram até mesmo advertências médicas! Líderes que insistem em permanecer, apesar do sofrimento da comunidade. Aqueles deveras ausente do cotidiano comunitário; aquele não cumpridor de suas obrigações; o “gastão”, mau gestor; entre outros, devem comemorar se a instituição age a proteger os símbolos do ministério. Assim, muitos transitam saindo “menores” que quando assumiram. São “parados” pela igreja porque não pararam ou saíram (transitaram) usando bom senso.

Há aqueles que “saem” sem sair. Permanecem na membresia como éminence grise (do francês: Eminência Parda). Nome dado na política àquele que não possui poderes oficiais, mas que, nos bastidores, agitam e comandam. Na rotina da paróquia, constrange o sucessor; ainda “apita” nas decisões; e “causa” nas assembleias. Quando não faz comparações inapropriadas entre ele mesmo e seu sucessor. Ao exercer liderança branca, o "caudilho" (outro nome usado na política para aqueles que agem para se perpetuar no poder) presta desserviço aos seus pares.

É didático e exemplar para a comunidade e para o Ministério Pastoral quando a comunidade celebra a transição. Louvam a Deus por um período que, reconhecem, foi abençoador mas que aprouve a Deus conduzir Sua igreja e seu ministro para novas e outras experiências. Isso é cuidar-se e cuidar para transitar.

Preocupa-me ministros que não se reciclam. Que vivem isolados de sua Ordem ou de sua Associação, leia-se Denominação. Transitar é um fenômeno que todos viveremos – com ou sem crises profundas, mas nunca de forma simplista. Manter prática igual, mesmíssima, ignorando que o público está cada vez mais qualificado e as mudanças ocorrem de formas meteóricas. (Aqui referimo-me à forma de liderar, aos projetos para a comunidade etc.) Sem dinâmica, o ministério estaciona...

Há desaceleração em nosso crescimento no modelo usal, concebido há décadas passadas. Há escandaloso encolhimento dos recursos investidos em missões - em pontos ou frentes missionárias e congregações. Isso exige reflexões e questionamentos:

As oportunidades para trabalhar em igreja e viver exclusivamente dela serão mais escassas - há exceções nalgumas regiões. Talvez (repito, talvez) não haja espaço para líderes “à moda antiga”: Pastor com família grande, sem habilitação pra exercer outra atividade. Até mesmo a esposa do pastor como sua companheira de ministério, sem formação para completar a renda da família. Há instabilidades em todos os sentidos.

Bom seria se tivéssemos condição para períodos sabáticos, ainda que breves, para reciclar, para refletir etc. Mas a conjuntura econômica não permite.

Aplicar avaliações periódicas na comunidade para sentir e perceber nossos pontos a melhorar. Resultados positivos e frutíferos não nos dispensam de conhecer a vontade de Deus para nosso ministério e para a igreja.

Saber ouvir conselhos. Reconhecer que há gente experiente, íntegra e equilibrada para nos prover apontamentos para transições. Como é bom sermos acompanhados por gente que nos ama e expressa cuidado!

O líder deve preparar-se para transições e para o final da carreira. Hoje é o tempo para o plano de aposentadoria. Deus é fiel, mas a iniciativa é nossa.

Quando passamos do ponto colocamos em risco o legado produzido por nosso trabalho; colocamos em risco a estabilidade de nossa família. Lembro que há jovens que perderam o fôlego; e há veteranos com ânimo juvenil. Também tem pouco a ver com produtividade: Há ministros idosos realizando obras criativas e frutíferas, como há iniciantes fazendo "lambanças".

Naturalmente não fomos ensinados a parar. Parar está associado ao ócio. Um homem sem trabalho nunca está apenas sem o seu trabalho. Não lidamos bem com transições, quaisquer que sejam. Me lembro de um pastor sem ministério e sua “abstinência”. Aos domingos, passava o dia inteiro de terno e gravata. Confessava sentir falta de administrar a ceia. E apelava para que os amigos o convidassem a pregar. A falta da rotina lhe parecia bem traumática. Seguramente transitar lhe era crítico, pois humano.

Pra gente não passar do ponto reafirmo:

O Senhor Deus cuida de seus vocacionados.

Não sabemos tudo e não acertamos sempre.

Deus usa toda e qualquer circunstância para nosso aprendizado.

E: “Tudo tem seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito embaixo do céu”. By Geraldinho Farias

4 comentários:

  1. Assunto muito relevante. Parabéns! Abraços. Adriano Pereira de Oliveira, Tapiraí, São Paulo, Brasil.

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  2. Realmente muito relevante. Principalmente no cenário de hoje em dia.

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  3. Passar do ponto!

    Que reflexão!Pastores e líderes em geral deveriam ler esse texto. Palavras sábias, dom de Deus e aperfeiçoamento! Hoje é o que mais vemos muitos já quase se arrastando e porque não dizer arrastando a igreja, em vez de passar a oportunidade para outros.

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  4. Muito bom, pura realidade... Peço permissão para compartilhar...

    Abraços...

    Pr. Alecs Ferreira

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