sábado, 11 de outubro de 2014

O PETER PAN EM CADA UM

Vivemos uma febre retrô. Os usuários das redes sociais mergulharam no “túnel do tempo” e sacaram de seus acervos suas carinhas infantis. Brincadeira dentro de hora: Pelo menos estes dias Facebook é coisa de criança rs. “Coisa de criança” lembra que o Facebook é para menores acima de 13 anos. Não precisa dizer quantos há em seu ciclo de amigos que possuam menos que isso. É que mentem a idade ou, são ajudados pelos pais a falsificar dados.

Se há algo que nos inquieta, confronta e deprime é o tempo. Nossa vã luta contra o tempo fez a ficção parir obras como “A Máquina do Tempo” (2002) e “De Volta Para o Futuro” (1985), só pra ilustrar a brincadeira de voltar atrás.

Nada mais psicanalítico que o ato de fotografar. É provável que nossa fixação por fotografias traga consigo essa pretensa mágica de paralisar o tempo. Queremos congelar o que já foi. Ser possuidores do que ficou na longínqua experiência. Com o advento da digitalização queremos uma simultaneidade impossível: As memórias de nossos equipamentos estão carregados de passados cada vez menos remotos. Corremos atrás do vento, ou melhor, do tempo! Temos sob nosso poder experiências presas em HDs cada vez mais sofisticados. Podemos hoje, inclusive, armazená-las “nas nuvens”.

Ainda não sabemos os efeitos em nossa civilização desse “pega-pega” ilusório, dessa captura imaginária. Como colecionadores de pretéritos concluímos: Nada nos impõe mais nossa pequenez e impotência!

O marcante na Semana da Criança, na troca de perfis é o efeito Benjamin Button. O Estranho (ou Curioso) Caso de Benjamin Button (2008) é um filme baseado num escrito de 1921, de F. Scott Fitzgerald. O personagem vive de forma paradoxal: Nasce velho e involui. Com o passar do tempo, rejuvenesce. A primeira cena é um relógio... Ah, o símbolo de nossa escravidão! A epidemia nas redes sociais nos remete a Button com sua trajetória às avessas.

A cirurgia plástica e a indústria cosmética denunciam nossa fome. Não apenas voltar ao tempo, não apenas capturar o tempo - botox, plásticas, lifting e repaginações são formas de magos e bruxas manipularem as timelifes biológicas, afinal, o tempo... 

Aplico aqui as palavras do Mestre da Galiléia: “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mt 18.3). Num click nossas páginas tornaram-se infantís, dando ar lúdico há muito perdido em nossa convivência. Mas tornar-se criança num click não basta: O desafio é real! 

De tão palpitante tema lembremos a Crônica da Vida, de Chico Anysio; e o brado de Alphaville, “Forever Young”, de 1984:

“Forever young, I want to be forever young
Do you really want to live forever?
Forever, or never...

Some are like water, some are like the heat
Some are a melody and some are the beat
Sooner or later they all will be gone
Why don't they stay young

It's so hard to get old without a cause
I don't want to perish like a fading horse
Youth's like diamonds in the sun
And diamonds are forever”

"Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista

O tempo não para e no entanto ele nunca envelhece..." 

(Caetano Veloso in Força Estranha)

By Geraldinho Farias (O Peter Pan aí em cima sou eu, aos 10 anos...)

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