Ao contrário do que se possa imaginar, não estou aqui a falar do templo
construido por Herodes e local sagrado do judaísmo, o Muro das Lamentações, mas
do meu do seu, do nosso Facebook.Aquela rede social criada menos por motivos
religiosos que para relacionamento de pessoas. Isso, claro, era o que se
pensava. Lá nos primórdios do Facebook, quando Mark Zuckerberg tinha mais
espinhas que milhões, a ideia era essa: Um espaço virtual para
compartilhar idéias e interesses comuns.
Um muro de lamentações no sentido mais lamentável da palavra. Lá se depositam
não só as amarguras da vida terrena, como a esperança de dias melhores e
milagres, sejam eles a volta do Messias ou os números premiados da mega sena.
Mark nunca imaginou, no entanto, que das profundezas do universo virtual iriam surgir tantos “quero ser Paulo Coelho quando crescer”. Nunca pensou, suponho, que a autoajuda invadiria quente e pegajosa, as timelines do mundo.
Ao criar o Facebook não enxergou, lá no breu de 2004, as lamúrias,
choramingos, indiretas, orações, desabafos, frases de efeito e fotos de pôr do
sol (com aquela ajudinha do photoshop) que ocupariam o lugar do saudável
contato social.
Chorar no ombro alheio não é novidade nem veio com o advento da
tecnologia, mas assim, em público, pra todo mundo ler, é moda que pegou com as
redes sociais.
Fins trágicos de relacionamentos amorosos, dor de cotovelo ou ressaca... lamentos e a eterna busca pela vitimização seguida de acolhimento virtual, é boia, como diriam meus conterrâneos pernambucanos.
Eu lamento, tu curtes, ele compartilha. E assim, sem nenhum laço de
parentesco com Herodes nem com judeus, seguimos, sem nem perceber, a tradição.
Somos, sem saber, aquele povo que acredita na repetição das lamúrias. Assim como eles, que colocam seus pedidos nas fendas do muro sagrado da antiga Jerusalém, colocamos nossas esperanças nas linhas da timeline.
Tanta tecnologia para tão pouco avanço do ser humano. Quase um
desperdício.
By Téta Barbosa, jornalista e publicitária (Noblat - 22/04)
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