“Existem coisas
que o dinheiro não pode comprar...” A pós-modernidade imprimiu nosso jeito
mercantilista de ser e fazer. Numa sociedade que quantifica, consome e descarta
as relações, o shopping tornou-se templo; o consumo, atividade religiosa; e o
cartão de crédito, fetiche; comprar, adquirir e andar na moda tornaram-se
necessidades absolutas de sobrevivência. Estética é bem supremo e ética,
supérfluo. Nunca o narcisismo aflorou tanto!
Muitas igrejas
importaram práticas de marketing para arrebanhar novos discípulos (clientes?).
As estatísticas saltam aos olhos de pastores que medem o sucesso do
ministério em números. A cada ano surge no mercado novas fórmulas
para “turbinar”, multiplicar o número de adesões.
Na mídia
testemunhos são iguais ao pregão na Bolsa de Valores: Saíram os relatos de
mudança de vida, transformação de caráter e confissões de arrependimento.
Entraram os testemunhos espetaculares sobre o ganho, a aquisição de bens, a
ascensão profissional. Deus é uma “escada” para subir na vida, saída para
falidos. É nessa atmosfera materialista que focalizo um dos desafios do
ministério pastoral: O sustento ou gratificação do ministro.
A proliferação de
“ministros”, profissionais da religião, falsos pastores, clones de missionários, “apóstolos”, “bispos” e afins, têm alimentado o descrédito
que afeta a todos, e principalmente aqueles que labutam com honestidade à luz
dos princípios bíblicos. “Pastores são ladrões” ou “Todos (os pastores) são
ricos”, são alguns dos achaques em voga. Diante das generalizações aqui
lembradas as igrejas necessitam de instrução sobre o sustento do ministro. Não
é incomum que muitos pastores tenham que enfrentar falácias e ilações sobre o
sua renda. Contaminados pelo consumo e materialização, irmãos, famílias e
grupos questionam a gratificação dos obreiros, sabotam a contribuição e,
pasmem, se portam como instrumentos de constrangimento e desestímulo para seus
líderes.
A “Coisificação” Estabelecida
A “Coisificação” Estabelecida
Muitas igrejas
tentam apresentar justificativas para não manter ministros vivendo
integralmente do ministério. Alisto aqui algumas delas:
A construção do
prédio é suficiente para cortar gratificações; a alternativa do “fazer tendas”,
isto é, exercer atividade extra para completar o sustento; ou até mesmo o
“viver pela fé” (= nada receber) - o mito de que pastor de verdade deva ser
pobre e necessitado. (Neste último caso, talvez seja mais conveniente a uma
comunidade manter o ministro com privações. A “intervenção branca” - famílias
influentes, fundadores - tem sido causa freqüente no adoecimento comunitário).
A Pergunta Que
Não Quer Calar
O que diz a
Bíblia sobre o sustento do pastor? A Palavra de Deus contém orientaçoes
especificas:
Deus escolheu a
tribo de Leví dentre as tribos de Israel para ter exclusividade em tempo
integral no serviço do Santuário. Os levitas tinham o direito de usar para seu
sustento: Parte de todos os dízimos trazidos (Nm 18.25-31); o dinheiro da
redenção dos primogênitos (Nm 3.44-51 e 18.14); as primícias = os primeiros
produtos (Nm 18.8-13); os pães da proposição (Lv 24.9, I Sm 21.4-6, Mt 12.4);
parte dos sacrifícios (Lv 7.6-10 e 31-34, Nm 6.19-20 e 18.8-11, Dt 18.3); todas
as coisas devotadas (Nm 18.14); e outros (Nm 31.29-41). A omissão na concessão
dos direitos acima foi denunciada por Neemias: “Também soube que os quinhões
dos levitas não se lhe davam... Por que abandonaram a Casa de Deus?” (Ne
13.10,11).
Jesus, quando
convocou seus discípulos, convocou-os em tempo integral (Mt 4.19-20 e 8.21,22;
Mc 2.13,14). O fato do grupo ter um tesoureiro significa que recebiam ofertas
usadas para o sustento pessoal e para dar aos pobres (Jo 12.6 e 13.27-29).
Quando Jesus enviou-os aos campos, recomendou que não levassem dinheiro: “Não
vos provereis de ouro, nem prata, nem de cobre...”. Não levassem cintos,
alforjes (bolsa com objetos de uso pessoais), túnicas (roupas), alparcas
(calçados), nem bordões (carros), pois o obreiro tem o direito de receber o que
precisa para viver (Mt 10.5-10). O campo a ser visitado deveria suprir suas
necessidades, não deixando nada lhes faltar (Lc 22.35).
Após a
ressurreição, desanimados e incrédulos, os discípulos voltaram à pescaria. É
improvável que tal rotina tenha se mantido (Jo 21. 1-22; At 2.41-47 e 6.2). O
“fazer tendas” - trabalho secular exercido pelos ministros para suprir as
necessidades de suas famílias - deve ser evitado, afinal, o soldado “não deve
se embaraçar com os negócios dessa vida” (I Tm 2.4). O experiente Paulo orientou
o jovem Timóteo a que não tivesse constrangimento em depender do sustento
exclusivo da igreja: II Tm 2.6,7. Paulo precisou fazer tendas (At 18.1-4),
contudo, este fato é circunstancial (I Co 9.6-14). O trabalho secular para
Paulo era aceitável, mas não desejável (I Co 9.11-14). Por isso “quando Silas e
Timóteo desceram da Macedônia, Paulo dedicou-se inteiramente à Palavra...”
(At 18.5). Nesta ocasião recebeu ajuda (II Co 11.8,9).
Raciocínio de Tio
Patinhas
Concluímos que o
ideal bíblico é o ministro viver do e para o ministério.
Não são todas as igrejas que conseguem uma ajuda razoável para que seu ministro
se dedique inteiramente à Comunidade. A prioridade no ministério distingue
uma igreja pobre de uma pobre igreja. A comunidade deve orar e
se esforçar para que vivam a orientação bíblica. Todos ganham quando o ministro
não se divide no tenso malabarismo entre o ministério e uma atividade
complementar. Portanto, a Igreja de Cristo não deve ser injusta quando assume o
papel de “mantenedora” (Cl 4.1).
Não faltam nalgumas
comunidades os “corneteiros” pelo valor investido no ministério. Todos deveriam
ter um salário digno, de acordo com as necessidades. Os críticos da
gratificação do pastor muitas vezes usam como referência os próprios salários.
Quando a gratificação do obreiro atinge tal nível de mercantilização a
espiritualidade tornou-se irrelevante. O risco de “coisificar” assuntos
espirituais levou Esaú a trocar a primogenitura por pratos de lentilha (Gn
25.34); “Coisificar” atividades sagradas é grave desvio.
O Reino de Deus
deve ser prioridade (Mt 6.33). "Mãos de vaca",
"pães-duros", sovinas e avaros não compreenderão isso. As coisas
espirituais se discernem espiritualmente!
Fidelidade
Implica Constância e Inteireza!
Os críticos da
gratificação do pastor não se indignam com a mesma profundidade em relação aos
infiéis nas contribuições. Perguntemos: O que é fidelidade? Um marido que é
fiel à sua esposa somente nos dias pares pode ser considerado verdadeiramente
fiel? Um filho obediente aos pais somente três vezes na semana é, de fato,
obediente? São verdadeiros fiéis aqueles que dedicam seus dízimos de forma
alternada ou aqueles que esporadicamente dedicam ofertas alçadas? Absolutamente
não!!! A fidelidade implica absoluta constância – o “quase fiel” é infiel! Os
verdadeiros fiéis o são todos os meses “firmes, constantes e abundantes” (I Co
15.58), de janeiro a dezembro. O quanto uma igreja poderia realizar se todos
fossem verdadeiramente fiéis??? Quanto cresceria a Denominação? Quantos
missionários teriam os campos? E quantos obreiros vivendo integralmente no
ministério? Mas, com relação à infidelidade a indignação do “corneteiro” é
pálida...
O infiel não tem
dificuldades de dar “a César o que é de César” na forma de IPTU, IPVA, INSS
etc. Sua dificuldade é “dar a Deus o que é de Deus”. Sob o capitalismo, nada
mais espiritual que a contribuição financeira.
Vale o Quanto
Pesa?
“Deus deu uns
para pastores” (Ef 4.11). Os pastores são presentes de Deus para as igrejas. De
absolutamente nenhuma outra atividade profissional é dito que prestarão contas
a Deus pelas vidas que cuidam (Hb 13.17; Jr 23.1).
Como avaliar
alguém que trabalha com a mente? O ministro deve pesquisar ventos de doutrinas
que ameaçam a sã doutrina (I Tm 4.13). Se os “fiscais” concluírem que o
trabalho do pastor é somente aquilo que mensuram com seus próprios
olhos (pregação, ensino, visitação e aconselhamento), em comparação com
outros profissionais, estão desautorizados: “Mas tu, por que julgas teu
irmão?... Cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus” (Rm 14.10b, 12).
Aferir atividades espirituais com valores de mercado é reduzir o julgamento de
Deus (I Sm 16.7).
Um Leão Por Dia
A organização
pessoal do pastor exige elasticidade ímpar: Treinamento de líderes, visitações
a famílias, hospitais etc. Socorro aos enfermos, participação em emergências
como crises familiares, óbito etc. Cerimônias de casamentos, fúnebres,
formaturas e outras. Aconselhamentos breves, seqüenciais, permanentes ou
orientações imediatas, sejam individuais, de casais ou grupo. Supervisão das
atividades eclesiásticas – administrativas, de grupos, formulação de programas,
etc. A gratificação do ministro deve dar-lhe condições ao exercício do
ministério (I Tm 4.13, At 6.2).
A preservação,
proteção e suprimento da própria família – o relacionamento conjugal, a
interação e educação dos filhos – deve ser “prioridade prioritária”. A
gratificação deve ser suficiente para a promoção da saúde da família, provisão
de moradia e manutenção do carro usado no ministério. O pastor deve envolver-se
com as atividades da Denominação, participando da associação de igrejas, das
assembléias e convenções. Deve reciclar-se em simpósios, cursos e congressos. O
espaço não permite retratar a maratona hercúlia.
Ovelhas
Apascentando Pastores
Quanto vale o
ministério pastoral? Quanto vale um pastor? A Bíblia é clara:
“Digno é o
obreiro do seu salário” (Lc 10.7).
“...Assim ordenou
o Senhor que os que anunciam o Evangelho, que vivam do Evangelho” (I Co
9.13,14).
“Os pastores que
governam bem sejam tidos por dignos de duplicada honra (grego = remuneração),
especialmente os que labutam na pregação e no ensino” (I Tm 5.17).
“E o que é
instruído na palavra, reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui”
(Gl 6.6).
“Lembrai-vos dos
vossos guias... para que o façam com alegria e não gemendo, porque isto não vos
seria útil” (Hb 13. 7 e 17).
“Apascentai o
rebanho de Deus, que está entre vós... de ânimo pronto.” (I Pe 5.2-4).
Estas palavras
referem-se aos vocacionados legítimos, que entre batistas constitui uma massa
digna. Reconhecemos que muitos ministros ultrapassam o bom senso e utilizam
recursos pesados de comunidades esforçadas no cumprimento da Palavra. Outros
recebem generosas cifras, para viver de forma larga e abusiva, sem
constrangimentos. Outros se aventuram a não respeitar os limites e escandalizam gastando bem mais do que recebem. Não devemos generalizar. Mas a maioria
recebe aquém do que precisaria.
Equilibrado, o
pastor deve viver grato com o que é suficiente para si e sua família (Fp 4.11;
Cl 3.14).
Alguém já disse
que na vida precisamos da graça de Deus e da compreensão dos homens. A graça de
Deus nunca faltará. A incompreensão sobre a gratificação legítima do
ministro tem desestimulado muitos pastores. Voltemos à Bíblia. Louvamos a Deus
por tantas igrejas obedientes ao princípio bíblico, priorizando o ministério
pastoral. Todas são desafiadas a apascentar seus pastores. By Geraldinho Farias
- PIB Boituva/SP
Proponho que todos os pastores recebam o mesmo que os missionários ou vice-versa. hehehe.
ResponderExcluirEdu Montes.
Missionário em Duas Rodas.
Boa tarde Pastor,
ResponderExcluirEstava lendo este artigo e, particularmente, vejo que a “casta clerical” “coisifica” o evangelho como os antigos líderes judeus e fariseus para o seu benefício. Essa “casta clerical” de hoje em dia jogou no lixo o que é viver e ser cristão e vivem como marajás.
Então, eu penso aqui comigo: pra quê me dedicar a uma igreja, a um ministério se hoje a “casta clerical” se alimenta nas duas mesas? Isso é um fato muito tenebroso e hoje em dia é quase impossível combatê-lo. E por causa do desejo do homem e não de Deus, o cristianismo tornou-se mais cruel do que César e do próprio Satanás (analisando como se multiplica as várias denominações ditas cristãs em cada esquina).
Então, analiso, estudo e me distancio. Tenho a mente de um bereano, um coração de um verdadeiro cristão e parte de mim vive no tempo em que Cristo falou que adoraríamos o Pai com espírito e verdade, mas não em templos, igrejas e montes... Sei que é um pensamento falho pois esse tempo é para depois da “grande tribulação” e é na época onde Cristo e Deus irão habitar conosco... Contudo, da maneira como vejo como o cristianismo caminha, acho que é melhor ir agindo como estou.
Particularmente, concordo que um pastor deva receber apoio da Igreja onde reside pois foi essa a forma que Deus estabeleceu desde o princípio. Contudo, é INADMISSÍVEL que um pastor se enriqueça a custa do rebanho. Devemos armazenar “tesouros no céu” onde nada pode destuir!
Agora, essa “casta clerical” com carro importado, mansão, casa na praia, fazenda, etc; é o cúmulo! Ensinam que o cristão deve ficar alegre em ter “o que comer e vestir” enquanto estes fazem completamente o contrário, utilizando de suas ofertas e dízimos que é feito com muito suor, luta e labuta de maneira indigna... Ah sim... É benção de Deus por trabalhar na obra do Senhor, por isso essa “casta clerical” tem tudo que o mundo oferece enquanto a maioria do povo vive as mínguas.
Não se sinta ofendido com o meu texto. Estou falando de uma forma generalizada e de como vejo e analiso o que está acontecendo com o cristianismo de hoje em dia e com o “sustento” de uma vasta parte da “casta clerical”. Da maneira que está sendo feita, cada vez mais as pessoas se afastam do “verdadeiro cristianismo”. Pelo menos as que realmente estudam a palavra de Deus e se preocupam com o cristianismo.
Você disse ontem na IB em Boituva que é “punk” ser cristão. Eu acho que “punk” é pouco. Hoje em dia ser cristão é “deity hardcore”. Deity (divindade) é um nível num jogo de simulação de império (Civilization) quase impossível de passar. Precisa de muito conhecimento, treino e sorte. Junta com hardcore que é treino ultra pesado, temos o nível cristão hoje em dia... rsrsrsrsrs.
Agora para ser pastor, aí é “deity maniac hardcore”. Digo isso porque tentar mostrar para o povo e para a Igreja que não se pode generalizar tudo e todos é “mui dificir”. Imagina nos outros assuntos? TENSO! Rsrsrsrsrs.
Abraços e sucesso no seu ministério. Que Deus o abençoe.
Sven Mages – Boituva
Olá, caríssimo Sven Mages: Grato pela apreciação. Você tem razão em muitos aspectos. A maior religião de hoje - engoliu o cristianismo simples - é o capitalismo ("capetalismo"?), a coisificação. O texto se refere a uma massa de operários que vive de forma limitida e pela graça de Deus, num universo que aparece mais, o dos profissionais da religião. Portanto, a generalização é injusta. Isso explica o 1/4 de cristãos que se apresentam assim ("cristãos"), mas não aderem a nenhuma igreja (IBGE 2010). São pessoas desencantadas com a "casta", a Bolsa de Valores da Fé, a manipulação da piedade etc. Digo o MSI - Mov. dos Sem Igreja. Cristãos sem igreja. Há iniciativas de resistência a esse negócio em voga no País. Há comunidades que pretendem o Cristo e o jeito de ser dos discípulos. Acredito que a PIB Boituva seja destas. (Parabéns pela forma lúcida e lógica como se expressa...)
ResponderExcluirBom dia Pastor,
ResponderExcluirEu sei que a generalização é injusta, mas é o que povo está vendo e sentindo. A horda do "inimigo" está guerreando contra o "restante ungido de Deus" e está aparentemente vencendo...
Admiro a dedicação e zelo de pessoas que lutam e enfrentam essa horda e conseguem manter-se de pé. Que conseguem manter-se na "unidade da fé" como pessoas e Igreja. O pastor Aníbal foi uma dessas pessoas e isso demonstra que Deus e Cristo está do lado de seus filhos.
Você, pelas coisas que posta em seu blog também é uma dessas. É, eu fui ler todas as suas postagens e conhecer um pouco mais do trabalho que você desenvolve... Continue nesse caminho e NÃO ESMOREÇA! O mundo precisa conhecer mais sobre o que é ser "cristão" em "espírito e verdade". Começar a conhecer que a "casta clerical", a "coisificação", a "bolsa de valores da fé", etc; nunca foi e nunca será o desejo de nosso salvador e rei entronizado Cristo Jesus.
Abraços e um ótimo ministério.
Sven Mages - Boituva
Olá, amigo. Voltando à Boituva (provavelmente em junho) gostaria de conhecê-lo pessoalmente. Boituva é uma cidade querida (mas ainda não topei pular de para-quedas rs) de pessoas especiais como você! Abração.
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