terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

PASTOREIO DE PASTORES: APONTAMENTOS

"Pastores também são ovelhas!"

O açodamento do Ministério Pastoral – exercício cada vez mais insalubre e de alta periculosidade – não tem freado a fila dos que buscam tão augusta vocação. Se por um lado temos demandas hercúleas que tem custado a saúde de ministros e desafios indescritíveis – já enfocados aqui neste espaço, vemos cada vez mais jovens se apresentando para a carreira sob olhares ingênuos, fruto de pouca ou nenhuma orientação, desinformados sobre os riscos pessoais e familiares impostos pela labuta.

Não objetivo apontar um diagnóstico preciso, mas pelas parcas experiências na jornada, há algumas notas que ouso apresentar, a contribuir num cenário hostil e desalentador:

As comunidades já não investem no despertamento e cultivo de vocacionados específicos para o ministério pastoral como um “criadouro” extensivo de sua lide evangelical e protestante. O despertamento em muitas áreas já não recebe a devida importância – para as missões, para o ministério pastoral etc. Dá a impressão que alguns se tornaram pastores, fato, mas não reunem as mínimas condições. O diácono ou o servo alçado à condição de pastor. As igrejas precisam aprofundar, explorar as credenciais de um candidato ao pastorado. Alguém que sirva com boa oratória ou habilidade para o discipulado, tão somente, corre o sério risco de "virar" pastor!..

Quanto mais preparo para tão alta missão, melhor. Na contramão desta máxima, os seminários, institutos, escolas ou Faculdades – raras as exceções, tem oferecidos cursos menos densos, mais curtos, cuja grade curricular privilegia o preparo intelectual, científico e religioso, menos a fundamentação prática e de campo. (Nego-me a divagar sobre os cursos do tipo “fast-food” curtos, à distância, superficiais etc.)

Um dos indícios da perigosa perda de qualidade é a apresentação de monografias produzidas por candidatos formados e sob o exame do Concílio: Em sua grande parte – para não dizer quase total, são mesmíssimas, sem criatividade, sem pesquisa, sem fundamentação teórica rigorosa... Muitas, escandalosas cópias! Há distanciamento entre a formadora (Instituição) e a mantenedora (Igreja), entre o orientador (Professor) e o mentor (pastor) – quando há estas figuras!

O Concílio de Pastores já não encerra os rigores de outrora. No passado era um período que levava à apreensão, preparo exaustivo, um verdadeiro embate entre um calouro promissor e seus examinadores cônscios do filtro que representava o fórum. Demandava quase um dia inteiro, quando não consumia manhã e tarde. Eram exposições de aprendizado e aprofundamento para seus personagens. (Barreira bem menor que as encontradas na labuta do ministério...)

Hoje – louváveis as exceções, são encontros de compadrio. Exames rasos, exposições pálidas, uma representação entre amigos. Em poucas horas um aspirante está “apto” para ingressar na carreira em tela. Em muitos casos o exame é um “vexame”. (Árduo defensor que o Concílio aproxime-se do exame da Ordem dos Advogados do Brasil). E ainda sugiro que o mesmo seja submetido a testes psicológicos efetuados pelas instituições normativas (OPBB/SP) por profissionais credenciados – equilíbrio, resistência às adversidades etc. são imprescindíveis!

Ministros – juntamente com policiais e professores - são vítimas da Síndrome de Bornout (to burn out = queimar por inteiro; 1974, CID 10), quando o estado de tensão emocional e estresse crônicos provocado por condições de trabalho emocionais e psicológicas desgastantes, nocauteiam o paciente sob todos os aspectos. Portanto, todo cuidado é pouco!

O volume (quantidade) dos aptos contrasta com a qualidade dos militantes. Estamos diante de um quadro que mescla uma tríade preocupante: Igrejas que já não acompanham e investem, cursos atrofiados e filtros cada vez menos rigosos. Vou na contra-mão: Na ante-sala do ministério pastoral,  sugiro um período denominado “estágio” – quando o aspirante é acompanhado por um mentor e, somente então, após (a) formado, (b) aprovado em concílio, (c) supervisionado, é que o mesmo é (d) oficializado na consagração.

De um lado, aspirantes, jovens sem visão mínima do que os aguarda, mormente entusiasmados por umas poucas celebridades na vitrine. Por outro, os desgastados, cansados e desencantados no ministério, sob pressão de demandas sobre-humanas até.

O papel das instituições. Graça em nosso meio ainda expectativas que cada vez menos correspondem aos ventos da pós pós-modernidade. Os tempos mudaram. As corporações já não fazem o sentido que fizeram no passado. Espera-se uma representatividade política, de classe, que proteja, alinhe, recicle e zele pelos associados. Há descrédito, lentidão e distanciamento. Evidente que há iniciativas de bons resultados de instituições operantes cujo gerenciamento repercute nesta terra continental, como também muitas iniciativas e poucas "acabativas". Mas as instituições – partidos, sindicatos, associações – são submetidas à uma necessária revisão de seus papéis. Também associação de igrejas, ordem de pastores etc.

Não consigo mirar na denominação sem mirar em mim mesmo. A Denominação não é composta por anjos perfeitos, sendo também sujeita a erros e desvios. Aí somos chamados à contribuição. Sugerir, refletir e contribuir é melhor que a crítica sem sentido e generalizada. A Denominação somos todos nós. Isso diz respeito à expectativas.

O Pastoreio de Pastores. A iniciativa de grupos de ajuda entre ministros deve ser não "institucionalizada" ou "oficializada". Que os ministros não esperem que a demanda seja suprida, organizada, implantada pela Corporação (OPBB). Grupos de ajuda informais, interativos e frutíferos são feitos e mantidos a partir de amigos próximos, que se respeitam e se admiram. Visam compartilhar experiências, aprendizados e nutrir afetos em relações sinceras e de mentoria. Serve para minorar o sofrimento, disponibilizar de ouvidos ativos e compreensivos. Um laboratório de aprendizado e crescimento.

Alguns soldados perderam o “direito” à “aposentadoria”. Obreiros com vasta experiência, eméritos, com capital moral admirável e vasta folha de serviços prestados à Denominação, deveriam fazer a vez de orientadores, mentores dos mais novos. As Ordens poderiam mediar a incumbência.

Convênios e parceria entre profissionais da saúde mental - psicólogo, psiquiatra - para prestar serviço voluntário ou sob condição especial aos associados. As corporações poderiam alistar entre os membros das paróquias equipes interdisciplinares - profissionais da saúde mental - para munir e orientar as diversas regiões que compõe esse Estado continental.

Desde minha consagração em 1998 ví muitos absurdos afetando obreiros e suas famílias. Atendí muitos líderes doentes e mutilados, desencantados com a vocação na Clínica. Uma massiva campanha da CBB/OPBB deveria inundar nossos prédios. O que é, o que faz,... Uma exposição bíblica sobre o ministério pastoral - descrever o desafio do ser pastor, seria muitíssima útil.

Boas ideias são ameaçadas pela desconfiança e falta de crédito correntes em relação às instituições. Talvez as instituições sirvam para apontar caminhos e sugerir iniciativas. Mas a vivência é “horizontal” – entre amigos próximos, não “vertical” – da instituição para seus associados. Em S. Caetano do Sul/SP há anos se cumpre uma vivência pastoral interessante entre os obreiros da cidade (A geografia da cidade também contribui). Há outras iniciativas Brasil a fora que somam, contribuem e animam líderes.

A confissão (Tg 5.16), a mutualidade (Rm 12.15) e a fraternidade (I Co 13.7) são bíblicas. Então, vamos lá!

A visão aqui demonstradas são frutos de um aprendiz. Não pretende esgotar o tema. Há pesquisas, estudos e análises melhores. Não faço coro com aqueles que depredam as instituições. Liderar grêmios tem sido tarefa das mais inglórias. Um percentual considerável já não soma com a instituição – decepcionados, abandonados, decidiram pelo distanciamento. Talvez tenham razões legítimas para tanto. A Ordem já não entusiasma os novos obreiros. Ainda assim, o pastoreio de pastores é iniciativa humana e solidária, apropriada para os desertos que o exercício pastoral impõe. By Geraldinho Farias

2 comentários:

  1. Parabéns!
    Vide comentário anterior.
    Pr. Abel Pereira de Oliveira

    ResponderExcluir
  2. Texto excelente !!!
    Mas como dizia Dr. Purin ,o papel aceita tudo ,o difícil é a prática , não vamos desistir uma estrela que volta ao mar faz a diferença.

    ResponderExcluir

A SANTA QUE O MUNDO TENTOU APAGAR

Maria da cidade de Magdala - uma vila de pescadores do Mar da Galileia, na Judeia, a popular Maria Madalena, ou, apenas Madalena, é das pers...