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"Pastores também são ovelhas!" |
O açodamento do Ministério Pastoral – exercício cada vez mais insalubre e de alta periculosidade – não tem freado a fila dos que buscam tão augusta vocação. Se por um lado temos demandas hercúleas que tem custado a saúde de ministros e desafios indescritíveis – já enfocados aqui neste espaço, vemos cada vez mais jovens se apresentando para a carreira sob olhares ingênuos, fruto de pouca ou nenhuma orientação, desinformados sobre os riscos pessoais e familiares impostos pela labuta.
Não objetivo
apontar um diagnóstico preciso, mas pelas parcas experiências na
jornada, há algumas notas que ouso apresentar, a contribuir num cenário hostil
e desalentador:
As comunidades já
não investem no despertamento e cultivo de vocacionados específicos para o
ministério pastoral como um “criadouro” extensivo de sua lide evangelical e
protestante. O despertamento em muitas áreas já não recebe a devida importância
– para as missões, para o ministério pastoral etc. Dá a impressão que alguns se
tornaram pastores, fato, mas não reunem as mínimas condições. O diácono ou o
servo alçado à condição de pastor. As igrejas precisam aprofundar, explorar as
credenciais de um candidato ao pastorado. Alguém que sirva com boa oratória ou
habilidade para o discipulado, tão somente, corre o sério risco de
"virar" pastor!..
Quanto mais preparo
para tão alta missão, melhor. Na contramão desta máxima, os seminários,
institutos, escolas ou Faculdades – raras as exceções, tem oferecidos cursos
menos densos, mais curtos, cuja grade curricular privilegia o preparo
intelectual, científico e religioso, menos a fundamentação prática e de campo.
(Nego-me a divagar sobre os cursos do tipo “fast-food” curtos, à distância,
superficiais etc.)
Um dos indícios da
perigosa perda de qualidade é a apresentação
de monografias produzidas por candidatos formados e sob o exame do
Concílio: Em sua grande parte – para não dizer quase total, são mesmíssimas,
sem criatividade, sem pesquisa, sem fundamentação teórica rigorosa... Muitas, escandalosas
cópias! Há distanciamento entre a formadora (Instituição) e a mantenedora
(Igreja), entre o orientador (Professor) e o mentor (pastor) – quando há estas
figuras!
O Concílio de
Pastores já não encerra os rigores de outrora. No passado era um período
que levava à apreensão, preparo exaustivo, um verdadeiro embate entre um
calouro promissor e seus examinadores cônscios do filtro que representava o
fórum. Demandava quase um dia inteiro, quando não consumia manhã e tarde. Eram
exposições de aprendizado e aprofundamento para seus personagens. (Barreira bem
menor que as encontradas na labuta do ministério...)
Hoje – louváveis as
exceções, são encontros de compadrio. Exames rasos, exposições pálidas, uma
representação entre amigos. Em poucas horas um aspirante está “apto” para
ingressar na carreira em tela. Em muitos casos o exame é um “vexame”. (Árduo
defensor que o Concílio aproxime-se do exame da Ordem dos Advogados do Brasil).
E ainda sugiro que o mesmo seja submetido a testes psicológicos efetuados pelas
instituições normativas (OPBB/SP) por profissionais credenciados – equilíbrio,
resistência às adversidades etc. são imprescindíveis!
Ministros –
juntamente com policiais e professores - são vítimas da Síndrome
de Bornout (to burn out = queimar por inteiro; 1974, CID 10),
quando o estado de tensão emocional e estresse crônicos provocado por
condições de trabalho emocionais e psicológicas desgastantes, nocauteiam o
paciente sob todos os aspectos. Portanto, todo cuidado é pouco!
O volume
(quantidade) dos aptos contrasta com a qualidade dos militantes. Estamos diante
de um quadro que mescla uma tríade preocupante: Igrejas que já não
acompanham e investem, cursos atrofiados e filtros cada vez menos rigosos. Vou
na contra-mão: Na ante-sala do ministério pastoral, sugiro um período
denominado “estágio” – quando o aspirante é acompanhado por um mentor e,
somente então, após (a) formado, (b) aprovado em concílio, (c) supervisionado,
é que o mesmo é (d) oficializado na consagração.
De um lado,
aspirantes, jovens sem visão mínima do que os aguarda, mormente entusiasmados
por umas poucas celebridades na vitrine. Por outro, os desgastados, cansados e
desencantados no ministério, sob pressão de demandas sobre-humanas até.
O papel das
instituições. Graça em nosso meio ainda expectativas que cada vez menos
correspondem aos ventos da pós pós-modernidade. Os tempos mudaram. As
corporações já não fazem o sentido que fizeram no passado. Espera-se uma
representatividade política, de classe, que proteja, alinhe, recicle e zele
pelos associados. Há descrédito, lentidão e distanciamento. Evidente que há
iniciativas de bons resultados de instituições operantes cujo gerenciamento
repercute nesta terra continental, como também muitas iniciativas e poucas "acabativas".
Mas as instituições – partidos, sindicatos, associações – são submetidas à uma
necessária revisão de seus papéis. Também associação de igrejas, ordem de
pastores etc.
Não consigo mirar
na denominação sem mirar em mim mesmo. A Denominação não é composta por anjos
perfeitos, sendo também sujeita a erros e desvios. Aí somos chamados à
contribuição. Sugerir, refletir e contribuir é melhor que a crítica sem sentido
e generalizada. A Denominação somos todos nós. Isso diz respeito à
expectativas.
O Pastoreio de
Pastores. A iniciativa de grupos de ajuda entre ministros deve ser não
"institucionalizada" ou "oficializada". Que os ministros
não esperem que a demanda seja suprida, organizada, implantada pela Corporação
(OPBB). Grupos de ajuda informais, interativos e frutíferos são feitos e
mantidos a partir de amigos próximos, que se respeitam e se admiram. Visam
compartilhar experiências, aprendizados e nutrir afetos em relações sinceras e
de mentoria. Serve para minorar o sofrimento, disponibilizar de ouvidos ativos
e compreensivos. Um laboratório de aprendizado e crescimento.
Alguns soldados
perderam o “direito” à “aposentadoria”. Obreiros com vasta experiência,
eméritos, com capital moral admirável e vasta folha de serviços prestados à
Denominação, deveriam fazer a vez de orientadores, mentores dos mais novos. As
Ordens poderiam mediar a incumbência.
Convênios e
parceria entre profissionais da saúde mental - psicólogo, psiquiatra - para
prestar serviço voluntário ou sob condição especial aos associados. As
corporações poderiam alistar entre os membros das paróquias equipes
interdisciplinares - profissionais da saúde mental - para munir e orientar as
diversas regiões que compõe esse Estado continental.
Desde minha
consagração em 1998 ví muitos absurdos afetando obreiros e suas famílias.
Atendí muitos líderes doentes e mutilados, desencantados com a vocação na
Clínica. Uma massiva campanha da CBB/OPBB deveria inundar nossos prédios. O que
é, o que faz,... Uma exposição bíblica sobre o ministério pastoral - descrever
o desafio do ser pastor, seria muitíssima útil.
Boas ideias são
ameaçadas pela desconfiança e falta de crédito correntes em relação às
instituições. Talvez as instituições sirvam para apontar caminhos e sugerir
iniciativas. Mas a vivência é “horizontal” – entre amigos próximos, não
“vertical” – da instituição para seus associados. Em S. Caetano do Sul/SP há
anos se cumpre uma vivência pastoral interessante entre os obreiros da cidade
(A geografia da cidade também contribui). Há outras iniciativas Brasil a fora
que somam, contribuem e animam líderes.
A confissão (Tg
5.16), a mutualidade (Rm 12.15) e a fraternidade (I Co 13.7) são bíblicas.
Então, vamos lá!
A visão aqui
demonstradas são frutos de um aprendiz. Não pretende esgotar o tema. Há
pesquisas, estudos e análises melhores. Não faço coro com aqueles que depredam
as instituições. Liderar grêmios tem sido tarefa das mais inglórias. Um
percentual considerável já não soma com a instituição – decepcionados,
abandonados, decidiram pelo distanciamento. Talvez tenham razões legítimas para
tanto. A Ordem já não entusiasma os novos obreiros. Ainda assim, o pastoreio de
pastores é iniciativa humana e solidária, apropriada para os desertos que o
exercício pastoral impõe. By Geraldinho Farias
Parabéns!
ResponderExcluirVide comentário anterior.
Pr. Abel Pereira de Oliveira
Texto excelente !!!
ResponderExcluirMas como dizia Dr. Purin ,o papel aceita tudo ,o difícil é a prática , não vamos desistir uma estrela que volta ao mar faz a diferença.