segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A MORTE DA BARBIE

A queda das vendas da Mattel nos últimos trimestres, puxada por uma demanda cada vez menor das tradicionais bonecas Barbie, está levando analistas de varejo e especialistas em estudos comportamentais de consumo se interrogarem se não haverá chegado ao fim uma era. A receita da companhia vem caindo drasticamente nos últimos meses.

A Mattel e outras produtoras de brinquedos convencionais vem amargando o aparente desinteresse por sua boneca, que já foi um marco para gerações de crianças. Mas, por que as crianças estão dando as costas para a Barbie?

O principal fator é sem dúvida os brinquedos de alta tecnologia sobretudo as telas; os estímulos sensoriais oriundos das plataformas digitais parecem cada vez mais substituir o mundo fantasioso dos brinquedos convencionais, como as bonecas. Esses estímulos tornaram-se “naturais” para as crianças das gerações pós-internet, que navegam com desenvoltura por essas plataformas.

Além disso, há mudanças drásticas no formato de consumo de hoje. O consumidor está cada vez mais consciente de sua condição. Nos tornamos agentes políticos importantes ao definir uma agenda que vai do respeito aos nossos direitos a decisões ideológicas, como a associação do brinquedo aos seus valores - hábitos alimentares, por exemplo.

A Barbie é associada a uma imagem de mulher dona de casa, tradicional, submissa, uma contradição à luta da mulher do Séc. XXI.  A Barbie é o protótipo de mulher escultural, perfeita, modelo para adolescentes.

O consumo tomou o lugar do trabalho como definidor de identidade de indivíduos e grupos. Há uma moralidade que norteia o ato da compra, pois ele se refere ao que nos sentimos. Então, consumir é um processo de satisfação de necessidades básicas, ou mesmo supérfluas, mas igualmente de posicionamento na sociedade. O consumidor contemporâneo deduz para a inadequação dos valores simbolizados pela boneca.

Educadores alertam para a exposição precoce de crianças às telas. Crianças cada vez mais dependentes, compulsivas, consumidoras de aplicativos de tablets e smartphones. E o abandono das formas lúdicas do brincar – artesanato, imaginação e improviso. Na contramão, o movimento Slow Parenting (“pais sem pressa”), apregoam a imersão de crianças nas artes e na natureza. Um contraponto à sociedade de consumo que tem transformado crianças em miniexecutivos, com compromissos à exaustão.

Os Slow Kids são eventos de desaceleração da infância, surgido nos EUA e que tem tomado corpo por aqui. É a reunião de crianças para brincar à “moda antiga”, ou seja, com a total exclusão de brinquedos eletrônicos: Pintura, pega-pega, amarelinha, pular corda etc. As iniciativas reforçam a denúncia de educadores e antropólogos sobre uma infância cada vez mais ativista e monitorada.

Pode ser que a queda nas vendas de Barbies sejam apenas circunstanciais e, num passo de marketing, elas sejam “ressuscitadas”. Ou, que o fenômeno seja indício de uma transformação cultural mais profunda, em que gadgets e aplicativos eletrônicos tomam o lugar dos brinquedos convencionais. A Mattel e outras “maternidades” de brinquedos seguramente estão em estado de alerta. A conferir. By Geraldinho Farias

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