Tem gente que
fascina. Faz, compartilha, aprofunda e mantém laços de amizade. Possui carisma,
íman, atração por pessoas. Ser amigo de gente assim é possuir pontes para
chegar a outros. O repertório só aumenta.
Tem gente que não multiplica amigos. Troca-os. Ao conhecer novos, substituem os antigos. A substituição não constrange. Mas, aquele que manteve a amizade por anos, décadas até, não digere que mudou o status: Tornou-se marginal para aquele por quem nutria respeito e consideração.
Tem amigos mão-única. Suga-lhe sem dó. Usará seus préstimos sempre. Tomará de
você emprestado. Fará de você claque, plateia, expectador, divã, para contar
suas aventuras, dramas e vitórias. Mas não cederá ouvidos a você. Não terá
paciência para ouvir seu drama. Amizade onde só um ganha: Ele(a). Uso e abuso
de tempo, afeto e recursos.
Tem gente que é
movido pela conveniência. É capaz de tornar-se um “grande e velho amigo” de
ocasião. Oportunista poderá fazer de você um Top Ten no rol de
amigos, de acordo pontualmente com uma necessidade que deseja preencher ou
vantagem que precisa aferir de você. Vencida a necessidade, você será devolvido
à insignificância.
Esse é aquele(a)
que quer ser lembrado, mas não lembra. Quer ser visitado, mas não visita. Quer
receber sua felicitação, mas não felicita.
Recebi algumas
“vítimas” da amizade mão-única na Clínica. São pessoas que dividem afeto,
investem, compartilham, mas... São sugadas, abusadas, exploradas afetivamente
pelo “amigo”. Querem fazer, manter e aprofundar as relações, mas, cedem,
investem e inflam o outro(a). O quadro é um amplificador de alta-estima baixa
quando não um processo depressivo.
E basta uma
circunstância para que você prove e experimente do que se trata sua relação –
qual tamanho, diâmetro, peso, altura, profundidade. Só mesmo uma coleção de
tropeços, privações e tristezas, mostrarão onde estão (situadas) as pessoas do
seu ciclo de amizade.
No primeiro caso o
bom praça poderá atrair os do quarto caso – os de conveniência.
Nutrir expectativas
é um lance cada vez mais perigoso. Pode ser que seus restos fique no chão. O
conceito de amizade tem se confundido cada vez mais com "amizade".
Mais ainda quando a sua lista de contatos da Rede Social é nomeada de Amigos.
Ter mil contatos não equivale a possuir uma dúzia de amigos. O substantivo
tornou-se banal.
No segundo caso – o
dos “trocadores”, eles são fáceis de serem identificados. Quando você for
“promovido” à segundo e até terceiro plano, perceberá... Não surpreende
nalguns, mas noutros, verdadeira decepção. Será que você se sentiu trocado por
quem mais afirmou sua amizade ou por aquele(a) que você considerou seu “melhor
amigo”? (É um duro golpe quando aquelas relações que você tinha como de aço,
não passava de vidro... As circunstâncias revelam-na).
Os do terceiro caso
são situações mais complexas. Dá vontade de partir pra cima, denunciar (jogar
na cara) e pagar pra ver: Haverá um realinhamento ou... Esse tipo de diálogo
confrontativo a gente sabe quando começa mas nunca como termina. Vai muito do
quanto você acha que poderá fazer ver o que é amizade de “mão-dupla”. Ou, será
uma amizade ma non troppo.
A figura do Melhor
Amigo é que tem sido algo complicado. Tem gente que consagra alguém ao panteão
dos best friends de forma rápida, leve, solta. Aí tem outras
considerações: Há quem se comporte, socorra, considere de forma pesada,
valorosa como se fosse um Melhor Amigo – mesmo que seja de um conhecimento
recente. E há quem você aguarde gestos à altura de um Melhor Amigo, mas, que
não obstante as muitas experiências de partilha e anos de estrada, lhe deixe na
mão. E lá vem a tal expectativa que formamos dos outros.
Ao ler estas
alucinações você deve estar com seu estoque de compreensão cheio. Compreensão
para não fazer juízo célere sobre aqueles que você se relaciona. Uma
expectativa não respondida numa circunstância pontual não deve ser decisiva
sobre aqueles que corresponderam muitas vezes. Amizade a gente procura manter,
reacender... Quantas vezes a gente acha que valha a pena. Há pessoas melhores
que suas atitudes. O “conjunto da obra” conta sobre um vacilo.
Há amigos que são
resultados de reabilitações diversas. E a gente mesmo não socorre à altura do
que esperam de nós. Portanto, devagar... Dê a compreensão que você também
precisa do outro(a).
Sejamos feitores,
aprofundadores, protetores, protagonistas e proclamadores de verdadeiras
amizades. De mãos-duplas. Desinteresseiras ou isentas. Incondicionais.
Inteiras. Façamos check ups e manutenções das que cultivamos. E nos
preparemos para novas conexões.
(Compartilho
"A Lista", de Osvaldo Montenegro, composição de 1999.) By Geraldinho
Farias
a difícil arte de ser amigo...
ResponderExcluiré muito mais fácil amar o próximo ou os próximos... "os anteriores já não deram certo mesmo, não serve mais... que vá embora, "
Como Edilson citou: "a difícil arte de ser amigo...", contudo refletindo sobre tudo que fora dito podemos lembrar que não há arte que não tenha exigido sacrifícios do seu criador: Um pintor mancha-se de tintas, um músico se "desespera" ante a euforia da inspiração, um poeta inúmeras vezes molha os lábios com palavras que não são pronunciadas, etc.
ResponderExcluirComo disse o autor Geraldinho Farias, quantas vezes também não satisfizemos as expectativas de outros que eram depositas em nós... Creio que a compreensão disto e daquilo, é termos amizades de mão-única, sim... Contanto que esta mão seja a minha, a sua, de maneira que façamos o que Jesus ensinou "o que a mão direita fizer, que a esquerda não veja", ou ainda parafraseando... O que a mão direita fizer, não haja exigências que a "esquerda" tenha que fazer, obrigatoriamente!
Ser amigo, independente do ter amigo, independente da troca desta amizade sincera, corresponde a este fazer com uma mão e não deixar a outra ver... Querer ser o amigo, e não apenas aquele amigo comum, pluralista, daqueles que se fala comumente como um ou outro colega de escola na infância. Acredito que isto nos vacina a não precisar ou não criar tanta expectativa que nos causam dores, tristezas, decepções, raiva, baixa auto-estima, etc.
Parabéns pelo texto, muito interessante e oportuno em dias que vivemos cheios de amigos, mas quase sem companheiros!
Texto muito bom. Acabei de vivenciar isso amizade de mão unica, pena que só percebi quando fui descartada como um copo descartável. Dói muito mas faz parte do meu crescimento como pessoa. Apesar disso eu sei que amigo verdadeiros existem eu tenho e também tenho amigo fiel que nunca vai me decepcionar Jesus Cristo.
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