(Uma crítica aos
investimentos ilimitados de noivos e seus pais, ao evento social em que foi
reduzida a cerimônia de casamento. Para o evento, tudo, nada pode dar errado;
para a conjugalidade, a vida a dois, a construção familiar, nem tanto... Que
poderá dar errado! A começar pela dívida mastodôntica para se realizar o
evento...)
O adesivo “Família Feliz” foi moda em 2010 e 2012. Caiu em desuso por causa da criminalidade: Bandidos observavam a sofisticação cada vez maior das ilustrações, ricas em detalhes no desenho da família – quantos, profissão e como viviam. Os desenhos sumiram dos carros. Na Grande SP, sumiram todos os adesivos que porventura marcassem ou identificassem um alto.
A modinha do
adesivo criou a sensação de que a família estava em “alta”.
Ante estratosféricas taxas de divórcios, voltamos a visualizar a família
unida, feliz. Ao menos nos adesivos. Mas, até lá (no porta-malas), a modinha
passou.
Casar virou onda.
Não o casamento – construir, preservar, ser e viver família, mas o evento
social em que foi reduzido a cerimônia. Por isso os casamentos explodiram – tal
e qual as taxas de descasamentos.
Afirmar que casar
virou onda é um oxímoro. Casamento e onda não combinam. Ondas são emocionais,
turbulentas, irracionais - a antítese da razão.
Ondas chamam a
atenção - brilham... Explodem... Produzem ruídos, belezas, mas... Arrebentam,
quebram na praia, desfazem-se; são instáveis - borbulham, vão e voltam.
O
"casamento-show" virou onda. Parece que todo mundo deseja e se
esforça, dispostos a sacrifícios hercúleos para oferecer uma
"Casolândia" - mistura de casamento com Disneylândia: Um dia
glamouroso, num lugar mágico, com gente perfeita, em roteiro épico, banhados à
holofotes sofisticados.
O altar onde se
faziam solenes compromissos, tornou-se cenário: Chácaras ou buffets caríssimos.
Um filme hollywoodiano, "conto de fadas" com os mais criativos
gestos para clicks a alimentar redes sociais. Totens sagrados - paus
de selfies, smartphones etc. erguidos sob o ritual da
fotografia. Se não for show, não vale. Não há limites para o espetáculo. O
noivo chega de tirolesa; a noiva, de helicóptero. Padrinhos, em modelos F1. Os
pais dos noivos, de triciclos. A limusine é apenas mais um mimo.
Convidados são
modelos; padrinhos, celebridades, "estrelas" de Caras: Figurinos
irretocáveis - vestir-se de pinguim é coisa do passado!
Prestadores de
serviços, terceirização... Pague, e a indústria realiza seu sonho.
O conceito de
sim-pli-ci-da-de para um casamento hoje é tão fácil quanto determinar a raiz
quadrada de um número primo vezes pi, elevado à terceira potência, menos a soma
da hipotenusa e seus catetos ao cubo...
Denuncio que
jovenzinhos iludidos dão tudo nisso, no evento, e nada, nos pós festa que
deveria ser para a eternidade. Para aquelas 6 horas mágicas que envolvem o
espetáculo preparação meticulosa, envolvendo vultosas somas de dinheiro, mas,
para o porvir familiar... Nada ou pouco são investidos...
Mas... Ondas
arrebentam, quebram, desfazem-se; se formam para se desfazerem. São, para
depois não ser. O fenômeno não deveria ser metáfora para o casamento.
A onda dos "casamentos-show" tem produzido casais desajustados sem
noção mínima de convivência, relações pra torcida, pra inglês ver – diferente
das imagens felizes nas redes ...
Lembro de noivinhos
que viviam unidos por fios desencapados. Exaustivamente ocupados com o banquete
olímpico prometido na avant premiere, viviam às turras. Apesar de chamados
à conexão com a realidade pagaram pra ver:
Advertidos sobre discernir entre o real e o surreal, contaminados em oferecer a
"Noite do Oscar", investiram as economias de 6 anos entre namoro e noivado,
mais as economias de seus pais em contratos com "fornecedores de
sonhos" cheios de asteriscos e cláusulas em nada românticas. Nas vésperas
do "conto-de-fadas", brigados, a crise era:
Se se casariam para fazer valer o patrimônio investido e se separariam depois
que usufruíssem a Lua-de-Mel, pagas 12 parcelas ou... Ou se separariam o quanto
antes e encarariam as contas. (Enfim: Na dúvida, a dívida. O "Conto"
ou a conta! Aff, imagine na primeira hipótese!). Deu a segunda. Multas desde o
aluguel da casa, serviços, encomendas, fornecedores e afins. Presentes ganhos,
convites enviados... Na melhor das hipóteses, após acordos, teriam dívidas por
3 anos sem computar a saúde dos ex-futuros sogros. Considerando que não
ficariam desempregados nos próximos 36 meses e, de preferência,
"vendendo" as férias...
Noutra situação a discussão dos amigos era sobre o segundo tudo do Noivo:
Segundo "casamento-show", segunda lua-de-mel, segundo espiral de
dívidas etc... Como já haviam presenteado e locado roupas caríssimas no
primeiro espetáculo, raciocinavam se o fariam no dejavù... E se ouviriam o
eco de "até que a morte os separe"... Um deles,
"bi-padrinho", ainda arcava parcelas do show original; confessava não
ter condições de desembolsar no replay.
Já há quem abra mão do prestígio de ser padrinho. Pra virar protagonista no
show é caríssimo duas vezes. Um amigo confidenciou: Ser escolhido é estar
"condenado" à dívida. Alguém te pune com o convite. O outro me disse:
"Sou da plebe. Editarei as imagens. Pra quem assistir estarei casando na
Capela Sistina com Messi e Cristiano Ronaldo de padrinhos; e, em seguida,
Lua-de-Mel no Caribe: Mesmo que case em Diadema e siga pra Poços de
Caldas..." Kkkkk
Atenção, pais dos noivos, “melhores amigos”, candidatos a padrinhos e pessoas
de juízo: Atentem para a qualidade da relação dos nubentes. (São inúmeros os
casais que promoveram um espetáculo a la Steven Spielberg, mas que hoje
agonizam em divãs, quando não negociam o espólio...).
O fim de uma
família é mais caro que a "Casolândia". Vidas - expectativas,
desencantos, traumas e o desafio de recomeçar - são mais caras que coisas pagas
com cartão de crédito.
Jovens, não aconselhamos surfar em ondas perigosas. Todo o cuidado e preparativo pa-ra-a-vi-da-a-do-is é pouco. Que isto (o evento caríssimo), não seja tudo em relação àquilo (a conjugalidade). Sejam "bem-casados" não apenas o nome do doce servido. By Geraldinho Farias
Mais vale um casamento na sacristia de uma igreja, do que uma parafernália que nos leve a uma infernália de vida conjugal, para não dizer que nos leve a lugar nenhum a não ser na infelicidade...
ResponderExcluir