quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

"CASAMENTO-SHOW": ONDA PERIGOSA

Adesivos “Família Feliz”: Fora de moda

(Uma crítica aos investimentos ilimitados de noivos e seus pais, ao evento social em que foi reduzida a cerimônia de casamento. Para o evento, tudo, nada pode dar errado; para a conjugalidade, a vida a dois, a construção familiar, nem tanto... Que poderá dar errado! A começar pela dívida mastodôntica para se realizar o evento...)

O adesivo “Família Feliz” foi moda em 2010 e 2012. Caiu em desuso por causa da criminalidade: Bandidos observavam a sofisticação cada vez maior das ilustrações, ricas em detalhes no desenho da família – quantos, profissão e como viviam. Os desenhos sumiram dos carros. Na Grande SP, sumiram todos os adesivos que porventura marcassem ou identificassem um alto.

A modinha do adesivo criou a sensação de que a família estava em “alta”. Ante estratosféricas taxas de divórcios, voltamos a visualizar a família unida, feliz. Ao menos nos adesivos. Mas, até lá (no porta-malas), a modinha passou.

Casar virou onda. Não o casamento – construir, preservar, ser e viver família, mas o evento social em que foi reduzido a cerimônia. Por isso os casamentos explodiram – tal e qual as taxas de descasamentos.

Afirmar que casar virou onda é um oxímoro. Casamento e onda não combinam. Ondas são emocionais, turbulentas, irracionais - a antítese da razão.

Ondas chamam a atenção - brilham... Explodem... Produzem ruídos, belezas, mas... Arrebentam, quebram na praia, desfazem-se; são instáveis - borbulham, vão e voltam.

O "casamento-show" virou onda. Parece que todo mundo deseja e se esforça, dispostos a sacrifícios hercúleos para oferecer uma "Casolândia" - mistura de casamento com Disneylândia: Um dia glamouroso, num lugar mágico, com gente perfeita, em roteiro épico, banhados à holofotes sofisticados.

O altar onde se faziam solenes compromissos, tornou-se cenário: Chácaras ou buffets caríssimos. Um filme hollywoodiano, "conto de fadas" com os mais criativos gestos para clicks a alimentar redes sociais. Totens sagrados - paus de selfies, smartphones etc. erguidos sob o ritual da fotografia. Se não for show, não vale. Não há limites para o espetáculo. O noivo chega de tirolesa; a noiva, de helicóptero. Padrinhos, em modelos F1. Os pais dos noivos, de triciclos. A limusine é apenas mais um mimo.

Convidados são modelos; padrinhos, celebridades, "estrelas" de Caras: Figurinos irretocáveis - vestir-se de pinguim é coisa do passado!

Prestadores de serviços, terceirização... Pague, e a indústria realiza seu sonho.

O conceito de sim-pli-ci-da-de para um casamento hoje é tão fácil quanto determinar a raiz quadrada de um número primo vezes pi, elevado à terceira potência, menos a soma da hipotenusa e seus catetos ao cubo...

Denuncio que jovenzinhos iludidos dão tudo nisso, no evento, e nada, nos pós festa que deveria ser para a eternidade. Para aquelas 6 horas mágicas que envolvem o espetáculo preparação meticulosa, envolvendo vultosas somas de dinheiro, mas, para o porvir familiar... Nada ou pouco são investidos...

Mas... Ondas arrebentam, quebram, desfazem-se; se formam para se desfazerem. São, para depois não ser. O fenômeno não deveria ser metáfora para o casamento.

A onda dos "casamentos-show" tem produzido casais desajustados sem noção mínima de convivência, relações pra torcida, pra inglês ver – diferente das imagens felizes nas redes ...

Lembro de noivinhos que viviam unidos por fios desencapados. Exaustivamente ocupados com o banquete olímpico prometido na avant premiere, viviam às turras. Apesar de chamados à conexão com a realidade pagaram pra ver:

Advertidos sobre discernir entre o real e o surreal, contaminados em oferecer a "Noite do Oscar", investiram as economias de 6 anos entre namoro e noivado, mais as economias de seus pais em contratos com "fornecedores de sonhos" cheios de asteriscos e cláusulas em nada românticas. Nas vésperas do "conto-de-fadas", brigados, a crise era:

Se se casariam para fazer valer o patrimônio investido e se separariam depois que usufruíssem a Lua-de-Mel, pagas 12 parcelas ou... Ou se separariam o quanto antes e encarariam as contas. (Enfim: Na dúvida, a dívida. O "Conto" ou a conta! Aff, imagine na primeira hipótese!). Deu a segunda. Multas desde o aluguel da casa, serviços, encomendas, fornecedores e afins. Presentes ganhos, convites enviados... Na melhor das hipóteses, após acordos, teriam dívidas por 3 anos sem computar a saúde dos ex-futuros sogros. Considerando que não ficariam desempregados nos próximos 36 meses e, de preferência, "vendendo" as férias...

Noutra situação a discussão dos amigos era sobre o segundo tudo do Noivo: Segundo "casamento-show", segunda lua-de-mel, segundo espiral de dívidas etc... Como já haviam presenteado e locado roupas caríssimas no primeiro espetáculo, raciocinavam se o fariam no dejavù... E se ouviriam o eco de "até que a morte os separe"... Um deles, "bi-padrinho", ainda arcava parcelas do show original; confessava não ter condições de desembolsar no replay.

Já há quem abra mão do prestígio de ser padrinho. Pra virar protagonista no show é caríssimo duas vezes.  Um amigo confidenciou: Ser escolhido é estar "condenado" à dívida. Alguém te pune com o convite. O outro me disse: "Sou da plebe. Editarei as imagens. Pra quem assistir estarei casando na Capela Sistina com Messi e Cristiano Ronaldo de padrinhos; e, em seguida, Lua-de-Mel no Caribe: Mesmo que case em Diadema e siga pra Poços de Caldas..." Kkkkk

Atenção, pais dos noivos, “melhores amigos”, candidatos a padrinhos e pessoas de juízo: Atentem para a qualidade da relação dos nubentes. (São inúmeros os casais que promoveram um espetáculo a la Steven Spielberg, mas que hoje agonizam em divãs, quando não negociam o espólio...).

O fim de uma família é mais caro que a "Casolândia". Vidas - expectativas, desencantos, traumas e o desafio de recomeçar - são mais caras que coisas pagas com cartão de crédito.  

Jovens, não aconselhamos surfar em ondas perigosas. Todo o cuidado e preparativo pa-ra-a-vi-da-a-do-is é pouco. Que isto (o evento caríssimo), não seja tudo em relação àquilo (a conjugalidade). Sejam "bem-casados" não apenas o nome do doce servido. By Geraldinho Farias

Um comentário:

  1. Mais vale um casamento na sacristia de uma igreja, do que uma parafernália que nos leve a uma infernália de vida conjugal, para não dizer que nos leve a lugar nenhum a não ser na infelicidade...

    ResponderExcluir

A SANTA QUE O MUNDO TENTOU APAGAR

Maria da cidade de Magdala - uma vila de pescadores do Mar da Galileia, na Judeia, a popular Maria Madalena, ou, apenas Madalena, é das pers...