No final de 2013 três pastores cometeram suicídio na América e num espaço de 30 dias - Teddy Parker Jr., 42, pastor da Igreja Batista Bibb Mount Zion, na Geórgia; Ed Montgomery, que estava de luto pela perda da esposa atirou em si mesmo na frente de sua mãe e filho; e Isaac Hunter, o ex-pastor da igreja Summit em Orlando, Florida... No Brasil o suicídio do líder Agnaldo Freitas Júnior em 9/9, pastor da Primeira Igreja Batista de Serrinha/BA, suscitou debate sobre as condições e pressões no exercício do ministério pastoral. Aqui, algumas reflexões de um aprendiz e observador desta augusta atividade:
- Expectativas altas, encanto, fascínio. Apesar dos assustadores
casos conhecidos de ministros em desencanto, frustrados ante os desafios
impostos – alguns até desistindo, a procura ainda é relativamente grande.
Cursos de teologia ainda são razoavelmente procurados por calouros e
vocacionados com a ilusão de que o ministério resume-se em visitar e pregar
algumas vezes na semana.
- Desorganização pessoal. Dois polos: Num extremo, o ministro em
tempo parcial qual malabarista precisa equilibrar-se ante o ministério e seu
trabalho; noutro extremo, o ministro em tempo integral que não estabelece
prioridades, investe energia desnecessária.
- Preparação inadequada e insuficiente. Cresce os cursos à
distância, cursos curtos etc Para tamanha e diversa demanda, todo o preparo é
pouco. Ouço de muitos jovens: “Preciso construir a nova sede da igreja e não
sei por onde começar”. Hoje, a construção de um prédio é um desafio menor em relação
a outros problemas... Para ser missionário, psicólogos aplicam testes como
parte do processo. Um dos objetivos é saber da capacidade, equilíbrio e
resiliência que o candidato tem para enfrentar situações-limites. Prática
deveria ser adotada para vocacionados ao ministério.
- Descuido com a própria saúde. Retiros e Acamps – quando os
ministros se juntam, eis a cena: A maioria está acima do peso; sedentários;
hipertensos e descuidados. Eis uma combinação suicida!
- Excessiva centralização. Grande parte não treina a equipe; não
delega. É um faz-tudo. “Cobra o escanteio e corre pra cabecear”. O sujeito leva
o trabalho para casa – muitos acham irrelevante ter um escritório para “separar
as coisas”. Quem deve disciplinar o povo sobre abusos e invasões, a começar por
sua equipe?
- Comunidades movem-se pela produtividade e ativismo dos seus
líderes. O ministro aceita a exigência. É difícil avaliar quem trabalha com a
mente. Logo, para muitos, não basta fazer é preciso mostrar que faz. O
ministro, portanto, vive numa engrenagem perigosa. Ser líder, pai, marido,
professor...
- Demandas. Os problemas compartilhados pelos paroquianos exigem
cada vez mais conhecimento, atualização, atuação pessoal... Há comunidades por
demais exigentes; ouço de pastores sobre exigências abusivas, quando não
absurdas. Com relação à educação dos próprios filhos; à apresentação pessoal; à
efetiva atuação (não apenas participação) da mulher no ministério. Tempo
precioso é investido na administração de crises intragrupo, interpessoais; na
resolução de conflitos entre paroquianos.
- Pathos pessoal. O sofrimento pessoal é tocante:
Sofrimento pelos resultados da comunidade – sobretudo os qualitativos e
quantitativos; por sentir-se incompetente, despreparado; cobrado pela família,
comunidade; o ministério torna o ministro numa “esponja”. Absorvedor de
problemas em diversos níveis. Isso é crítico. Stress é um diagnóstico comum -
passou do nível de alerta, resistência, e, finalmente, para a exaustão - está
doente!
- A manutenção da família. O comum em comunidades pequenas (até
200 membros e nas periferias ou no interior), são pastores recebem gratificação
insuficiente para a manutenção da família.
- Na preparação de vocacionados há necessidade de se aprofundar
o “estágio”. O Curso de Teologia + Concilio somente não podem dispensar um período
de estágio com mentor. Quanto mais filtros e aprimoramento, melhor.
- O dia de descanso é negligenciado. Guardar o sábado é um dos
mandamentos mais desprezados por muitos líderes.
- Não há uma única razão para o grau de insalubridade e
periculosidade de um ministro. A soma destes fatores aqui descritos são apenas
a ponta de um iceberg.
Na altura dos meus 16 anos de ministério e 7 anos de clínica,
essas considerações estão longe de acabar; são apenas uma observação longinqua.
O ministério é insalubre (relacionado ao ambiente nocivo, que faz ou pode fazer
mal à saúde) e de alta periculosidade (relacionado ao trabalho perigoso).
Especificamente na Denominação Batista há pessoas mais capacitadas que eu para
apontar caminhos. Mas, arrisco alguns:
- Formação acadêmica + Concílio + Estágio com supervisão de um
mentor. Alguns jovenzinhos não possuem noção do que os aguarda: São lançados
num mar com tubarões.
- A formação de grupos de ajuda – mentoria, aconselhamento...
ainda esbarra em relações entre ministros sob desconfiança. Refiro-me a
ministros que não se constrangem de fofocar, descortinar confissões alheias e
compartilhar intimidades. Realidade escandalosa! Para ser mentor, um indivíduo
mais experiente deve também ser treinado. Graças a Deus, há ministros cuja
integridade são nossas reservas morais. As ordens deveriam levantar os
ministros experientes, jubilados, líderes altamente respeitados, reuni-los e
desafiá-los a uma colaboração singular com relação aos mais novos.
- A formação acadêmica deve ser a mais exaustiva, abrangente o
possível – falo na contramão de cursos do tipo “macarrão instantâneo”. O aluno
deve saber sobre administração financeira, uso de orçamento, cuidados com a
saúde mental etc.
- Diante de resistências e barreiras existentes com relação aos
profissionais da saúde mental – psicólogo e psiquiatra – alguns profissionais
em parceria ou sob convênios – deveriam ser apresentados ou até mesmo
oferecidos pelas corporações denominacionais – Convenção, ordens, associações
etc. em cada região. Serviços recomendados soam como cuidados para com os que
militam.
- Qualidade de vida. Os líderes devem ser estimulados e
orientados a manterem disciplina e rotina de cuidados básicos na saúde: Alimentação
+ exercícios físicos + consulta médica regular + check-up anual + guarda do
sábado (leia-se dia de descanso semanal).
Sobre o enfrentamento de problemas como depressão, esgotamento
físico e mental, o Instituto Schaeffer, afirma que 70% dos pastores lutam
constantemente com a depressão, e 71% estão “esgotados”. Além disso, 72% dos
pastores dizem que só estudam a Bíblia quando precisam preparar sermões, 80%
acredita que o ministério pastoral afeta negativamente as suas famílias, e 70%
dizem não ter um “amigo próximo”. O Instituto também estima que 80% dos
estudantes de seminário (incluindo os recém-formados) irão abandonar o
ministério dentro de cinco anos. Não há dados consistentes sobre quantos
cometem suicídio, mas está claro que os pastores não estão imunes a isso. Esses
são dados desoladores.
Há problemas no ministério. Mas também há
problemas nos ministros – em sua forma de ser e fazer. Ressalte-se
que há exceções. Exceções valorosas, de comunidades e pastores.
Pra construirmos uma relação melhor entre nós, precisamos rever
primeiro nosso trato. Luiz Antonio dos Santos (IB Jd. do Lago, S. Bernardo/SP),
pastor e psicólogo, há anos denuncia a "coleguice" pastoral. Pastores
referem-se mutuamente a “colega pastor”. Colega vem do Latim colega (com=
junto + legere = escolher, colher, definir). A ideia e de uma pessoa escolhida
para trabalhar junto.
Melhor seria se fossemos “companheiros”; do
Latim companio (com=mais + panis = pão), literalmente companheiro de
pão, parceiro de mesa. Mas, o que mais se aproxima do ministério é a relação do
Cristo: “Já não vos chamo servo... mas de amigos” (Jo 15.15). Para ouvir,
abraçar, carregar, consolar, estimular é preciso que sejamos amigos.
Não é intenção um discurso protecionista e vitimista para com os
que exercem a vocação. Sem generalizações - graças a Deus inúmeros ministros
vivem de forma confortável e estável em suas atividades.
Os clamores de hoje já lançam luzes sobre os papéis das
associações de ministros, ordens de ministros e denominações. Se houver agenda
para iniciativas de socorro aos ministros, afinal, temas como disputa eleitoral
e outras “prioridades” já ocupam bastante espaço. Devemos contar com graça de
Deus. Um ministro só cumpre o bom combate por sua vocação. As demandas são
gigantescas e assustadoras. By Geraldinho Farias
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