Que seus filhos desenvolvam senso de responsabilidade é uma das maiores
preocupações de todos os pais. O assunto requer, evidentemente, tratamento
muito mais amplo do que este espaço permite; no entanto aqui vão algumas
recomendações que vale a pena ter em mente:
Atribua responsabilidades levando em conta a idade da criança. Muitos problemas com relação à responsabilidade decorrem de colocar sobre seus ombros tarefas que elas, por uma questão de imaturidade, ainda não tinham condições de executar. À frustração pelo fracasso, podem ainda se acrescentar censuras ou mesmo castigos que ferem profundamente sua auto-estima. Não é de admirar que mais, tarde fujam de situações que se assemelham àquelas que lhes custaram tão caro.
Seu filho precisa de proteção; mas evite os excessos.
O cuidado excessivo dos pais impede a criança de experimentar suas próprias
forças e de aprender com seus erros e acertos. Vai se sentir, depois, incapaz
de se encarregar de tarefas que, para os demais, são corriqueiras. Conheço
poucas coisas tão prejudiciais à formação da personalidade de uma pessoa quanto
a superproteção; ela atua cirando uma sensação de incapacidade difícil de
superar, até mesmo porque o indivíduo acredita que essa é a sua própria
natureza e raramente procura auxílio para mudar. É claro que a superproteção
pode acontecer em diferentes níveis, com consequências leves ou graves, mas é
sempre prejudicial no que se refere a assumir responsabilidades.
Ajude seu filho a aprender a lidar com suas emoções. Hoje em dia
fala-se bastante em “inteligência emocional” e, de fato, ela é muito
importante para uma pessoa sair-se bem na vida. É preciso acreditar e
transmitir à criança que tudo o que ela sente é perfeitamente normal, embora
ela possa e deva lidar com esses sentimentos para não ser controlada por eles.
Por exemplo, se a criança fica zangada com um irmão menor e bate nele
porque este estragou um brinquedo, é preciso mostra-lhe que sentir raiva é
perfeitamente normal (ver, por exemplo Efésios 4.26 “Irai-vos e não pequeis”)
mas nem por isso pode bater nos outros. Ele deve aprender que controlar os
impulsos não é o mesmo que reprimir os sentimentos (o que pode trazer problemas
emocionais) mas sim perceber que, mesmo sentindo uma emoção forte, não
precisamos nos deixar arrastar por ela.
Não ter controle sobre os sentimentos e acreditar que esse controle é
impossível é um dos grandes problemas de nossa época e um dos grandes fatores
relacionados à dificuldade dos jovens de assumir responsabilidades. Os meios de
comunicação divulgam constantemente a idéia de que o indivíduo é uma
vítima passiva de seus impulsos sobretudo quando se trata do amor. Se uma
paixão acontece, não há o que fazer se não ceder a ela, mesmo que às custas do
desmantelamento de famílias e do sofrimento de filhos e cônjuges...
Jamais dê castigos nem prêmios à criança por comportamentos que devem
ser de interesse dela.
Aqui está um dos pontos mais delicados, que se manifesta de forma especial no
que se refere aos estudos. Precisamos, antes de tudo, ter em mente que há áreas
em que a criança não pode ter escolha e outras em que ela deve ter o direito de
escolher (é claro que levando em conta sua idade e capacidade) porque as
consequências recairão apenas sobre ela. Ela não pode, por exemplo, tocar
música em alto volume em um momento em que tem gente dormindo; também não pode
deixar de cumprir horários ou realizar certas tarefas se isso prejudicar outras
pessoas. E isso precisa ser-lhe bem explicado.
Agora veja, assumir responsabilidade por algo ou alguém envolve sempre
duas condições: ter interesse por e ter controle sobre. Logo, é vital suscitar
o interesse da criança por aquilo que consideramos importante na vida, bem como
ajudá-la a entender a possibilidade, os meios, o alcance e as limitações do seu
controle.
Assim, no que se refere aos estudos, o papel dos pais está em criar em
casa uma atmosfera de interesse por assuntos culturais, acompanhar o
desenvolvimento da criança na escola e compartilhar com ela alegrias e
tristezas por sucessos ou decepções. Mas nunca castigar nem oferecer
recompensas por tirar boas notas ou passar de ano; fazer isso é transmitir a
mensagem de que ela está estudando para atender a vocês pais e não porque isso
é bom e importante para ela mesma. Se uma criança captar essa mensagem,
seja ela verdadeira ou não, poderá, por um lado, sentir-se sobrecarregada pela
idéia de que o bem-estar de seus pais depende do desempenho dela nos estudos e,
por outro, aborrecida com as tarefas escolares porque as verá como desagradável
imposição que os pais lhe fazem.
As mesmas considerações podem ser feitas com relação às questões
religiosas; precisamos, por nossas atitudes, mostrar o valor das coisas
espirituais e criar no lar um ambiente que reflita a presença de Deus além de
demonstrar que nos interessamos pelo desenvolvimento espiritual da criança.
Cabe aos pais incentivar seus filhos a práticas como a leitura da Bíblia
, a oração e a freqüência à igreja; mas puni-los ou recompensá-los por fazer
isso transmite-lhes a idéia de que se trata de algo do interesse apenas deles
pais e prejudicará que mais tarde assumam a responsabilidade e o compromisso
com a fé.
Para quem se interessar em ler mais sobre o tema, recomendo o livro
“Educando Filhos Responsáveis – Como evitar a culpa e a tolerância excessiva e
criar filhos conscientes” de Elizabeth M. Ellis, Editora Ática, 1997. By
Rev. Zenon Lotufo Jr. é pastor da Igreja Presbiteriana Independente,
psicoterapeuta, CPPC e professor. (Nov/03)
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