Quando os filhos atingem o chamado
período da adolescência, em geral os pais sofrem. Todo santo dia eles enfrentam
problemas: saídas noturnas, horários, namoros, estudo, entretenimentos,
vestuário etc. Tudo é motivo para preocupações, discussões, desentendimentos de
todos os tipos.
É que nessa etapa da vida os filhos precisam
encontrar um novo lugar para ocupar. E esse novo lugar é complexo porque
envolve pelo menos três dimensões que são interdependentes: a pessoal, a
familiar e a social. Ou seja, os filhos também sofrem nessa fase e não apenas
pelos conflitos que têm com os pais.
Eles sofrem porque, na busca desse novo lugar que
ocuparão, precisam conquistar a maturidade, condição necessária para a saída da
adolescência.
Amadurecer é a finalidade desse período, portanto, e ninguém amadurece sem conhecer a realidade da vida.
Amadurecer é a finalidade desse período, portanto, e ninguém amadurece sem conhecer a realidade da vida.
Hoje, muitos adolescentes da classe média
desconhecem a realidade da vida. Eles acreditam que a realidade é o que sentem,
o que querem, o que pensam que precisam. Ignoram solenemente o outro, as interdições
que são necessárias para a vida em grupo, e desprezam as leis que nos protegem.
São escravos de seus caprichos.
Como isso acontece? Essa história começa bem antes
da adolescência. Começa com o início da infância e a base dela é o tipo de
relacionamento que muitos pais estabelecem com seus filhos.
Outro dia, fiquei sabendo que existe uma camiseta
de tamanho pequeno, destinada a crianças com menos de seis anos, com a seguinte
frase estampada: "O Poderoso Chefinho". E muitas mães e pais vestem
seus pequenos filhos com a tal camiseta. E, devo dizer, com o maior orgulho.
Eles talvez não saibam, mas essa brincalhona frase
é reveladora: aponta o lugar que muitas pequenas crianças ocupam na família.
Qual o cardápio costumeiro da família, qual o restaurante
preferido do grupo, quais os lugares a que a família costuma ir para passear,
para viajar, para passar as férias? Quem decide? Você já deve imaginar, caro
leitor: os filhos. Ou melhor, os poderosos chefinhos.
Muitos pais, agora, têm medo de perder o amor dos
filhos, por isso nem cogitam desagradar seus pimpolhos, que são, portanto, o
centro da família.
Mas isso não faz bem para quem ainda está em
processo de socialização, ou seja, de se conhecer, de conhecer o outro e de se
relacionar com grupos. Ao colocar crianças pequenas nesse lugar, passamos
algumas mensagens claras a elas. E uma delas é a que afirma que, se elas
querem, elas podem, sem maiores consequências. E ponto final.
À medida que os filhos crescem, muitas famílias
reiteram essas mensagem nas atitudes que tomam com eles e, dessa forma, evitam
que a criança tenha contato com a realidade.
Vou retomar um exemplo que já citei aqui: as festas
de aniversário que crianças entre nove e doze anos, mais ou menos, frequentam.
Os pais providenciam tudo o que é necessário: do presente a ser entregue ao
aniversariante à roupa que será usada. O filho só precisa mesmo é comparecer à
festa e se divertir. Isso não é realidade, é?
É dessa maneira que muitos chegam à adolescência:
vivendo como se todo o mundo girasse em torno deles, como se bastasse querer
para viver. E eles querem muitas coisas. O problema é que não aprenderam a
considerar outras coisas além do querer. "Eu quero. Eu posso? Eu
devo?" é uma conjugação que a maturidade produz.
Pelo jeito, muitos de nossos jovens continuam a
ocupar o lugar de "O Poderoso Chefinho", não é verdade? By
Rosely Sayão é psicóloga
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