Chiquinha e Exibildo subirão ao altar nos próximos dias.
Empolgados, querem viver o que sempre sonharam: Uma cerimônia de casamento que
abale os pilares do mundo, ou, como dizia Exibildo: “Que todos digam: Nunca
houve nada parecido em Boa Impressão”.
Os pais da noiva não queriam fazer feio. Teria de ser algo maior
e mais espetacular que o enlace de Ilda e Tomezinho, os amigos que casaram
por estes dias. Também teria de superar o casório de Bina e Hipérboles, os
próximos a subirem ao altar.
Os nubentes já haviam contraído dívidas para as primeiras cinco
bodas. Os pais da noiva ("paitrocinadores"), já estavam pendurados
“até o pescoço”. Fazer algo comum,
nem pensar - o que diriam os amigos e
parentes após a festança? Decidiram ir fundo.
Seu Exibildo, ou, como era conhecido, Seu Exibildão, o pai
do noivo, fora contaminado com a empolgação da família de Chiquinha. Tomou um
empréstimo pra bancar a sua parte na cerimônia. Aquele casório já havia
entrado para a história dele - nunca havia feito um empréstimo a “perder de
vista”.
Chegou o dia dos noivos! Ele, dentro de um terno alugado a
peso de ouro. Ela, chegou à cerimônia de helicóptero, pousando no
Cruzeiro – supimpa, arrasaram!
Não se pode dizer que aquilo era uma ce-ri-mô-nia. Tudo chique
“no úrtimo”, diziam os convidados – os pais e os noivos haviam conseguido
impressionar to-do-mun-do. Um luxo só. Casamento num Cruzeiro, na praia
mais próxima do Município de Boa Impressão - a cidadezinha parou
pra comentar o espetáculo. Buffet, inclusive para aqueles que nem se
relacionavam bem com eles; afinal, não perderiam a chance de “mandar uns
recados” pra turma do contra. Comida de prima. Música ao vivo. Serviço e
produção a lá Stieven Spielberg.... Nunca houve nada parecido em Boa Impressão
e região. Serviço completo!
Bem, não pararia por ai. Depois de um evento desses, lua-de-mel
não combinaria com Poços de Caldas, não é mesmo? Lua de mel lembra...
Lembra a lua! Isso mesmo, foram para a lua, numa viagem inigualável!
Mas, como tudo o que é bom... Chegaram as contas. Uma atrás
da outra. O problema foi o Cruzeiro, afirmou Ezibildão preocupado com o
cartão de crédito. Sua esposa discordava: Foi o buffet, afinal, só não
convidaram quem já havia morrido. Do lado da noiva as coisas ficaram tensas.
Fizeram um empréstimo pra cobrir o outro empréstimo pra cobrir o outro...
Bem, tinham que honrar o valor dos convites em pedra de mármore, a equipe
de produção, aluguel das roupas, decoração, helicóptero, viagem especial, digo,
espacial... e um punhado de outras coisas.
E sete dias depois os noivos chegaram da lua-de-mel. Ainda
estavam com a cabeça na... Lua. Estranharam o fato de que tinham deixado todo
mundo contente e, agora, a turma de Seu Exibildo não falava com a família
da Chiquinha. A coisa tava feia. Acusações de um e outro lado.
Ao chegarem em casa, ainda sob efeito das núpcias discutiram
porque os Correios haviam se enganado tanto: "Essas contas não são
nossas", suspeitaram. Mas a visita do homem de camisa amarela e calca azul
passaria a ser frequente entupindo todos os dias a caixinha de
correspondências.
A culpa é de quem mesmo? Os convidados da “festa do ano”
conversaram a boca pequena sobre o que deu errado no Buffet: O tempero da
lagosta, a forte ventania que assanhou muitas chapinhas, o calor no convés...
Os padrinhos, escolhidos a dedo, estavam ocupados pagando presentes – não
queriam fazer feio, por isso, não economizaram. As famílias, atoladas em
dívidas e brigadas. Chiquinha concluiu a duras penas que o cartão de
crédito não compra paz para o lar, seja à vista ou no prazo:
"O dinheiro de plástico pode fazer maravilhas, menos essa", pensou.
Nem no débito ou crédito. Os primeiros meses de amor entre ela e
Exibildo passaram a ser de acusações. Depois, de calorosas discussões. Depois,
xingamentos... Depois... Depois... Não houve depois!
De fato, aquele casamento entrou para a história.
Nunca se viu algo tão eterno quanto... Aquelas contas!
Nunca se viu pessoas tão felizes quanto fornecedores,
prestadores de serviços, advogados.
Nunca se viu algo tão lindo... quanto naquelas fotos que
adornavam o Facebook.
Nunca se viu tanta gente feliz, quanto naquele... Naquele contos
sem fadas, no navio.
O padre, celebridade do DVD, dizia a todos: “Vão-se os
anéis e ficam os dedos. Nesse caso foram-se as alianças e também os noivos.”
Lamentava que aquilo “causou” em Boa Impressão. A cidadezinha nunca mais foi a
mesma, concordavam Ilda e Tomezinho (lembra deles?).
Depois que o casamento foi pro espaço (os noivos já haviam ido),
Bina e Hipérboles (os próximos na fila do altar, lembra?) já se
contentavam com um casório na garagem...
...Pão-com-manteiga e Tang, servido por seus tios...
...E uma lua-de-mel em... Diadema!
Afinal, concluíram que o que realmente importa não é viver
“endividados para sempre” ou casar “até que as dívidas os separe”. Essa lição,
eles aprenderam.
Este é um causo, apenas, pura ficção. Qualquer semelhança
entre fatos e personagens, terá sido mera coincidência.
La Societe du Spectacle é um livro do anarquista Gui
Debord, de 1967. Trata-se de uma crítica ao consumismo, utilitarismo,
narcisismo, hedonismo, e o capitalismo do nosso tempo. Pensando na parábola
acima, algumas considerações:
Celebre os momentos felizes de sua vida – batismo, casamento,
bodas, formatura... – uma celebração pouco tem a ver com um “show” - como
praticam os contaminados pela “sociedade do espetáculo”.
Precisamos desintoxicar: Aqueles que verdadeiramente amam você
se alegrarão com seu momento independente do custo ou valor investido.
Não pense que “tudo o que é bom custa caro”. A simplicidade
de um encontro continua linda, sem custar muito. (Então, quem não tem dinheiro
está proibido de celebrar?)
Prefira a simplicidade à ostentação. Jogarão pra torcida aqueles
que querem exibir-se. Seja você, mostre você, não há nada mais interessante.
Ser e mostrar o que você não é, de fato, custará mais. Se você se preocupar em
agradar a todos, custará mais, afinal: “Quem vê defeito em tudo, vera defeito
até no paraíso”.
Não se comparar. Não competir. A razão de nossa vida não está em
ser “melhor”, mais alto, ter mais ou parecer mais lindo. Cada pessoa é uma
vida irrepetível, singular, especial.
Quem te ama de verdade, se alegrará com você brindando com um copo com água e um pedaço de pão. Porque não há ninguém ou nada mais interessante que você, uma vida irrepetível, singular, especial. Quanto custa ser feliz? Alguém já disse que a gente gasta o que não tem, comprando o que não precisamos, pra mostrar pra quem não gostamos. É isso. By Geraldinho Farias
Quem te ama de verdade, se alegrará com você brindando com um copo com água e um pedaço de pão. Porque não há ninguém ou nada mais interessante que você, uma vida irrepetível, singular, especial. Quanto custa ser feliz? Alguém já disse que a gente gasta o que não tem, comprando o que não precisamos, pra mostrar pra quem não gostamos. É isso. By Geraldinho Farias
É verdade amigo, o casamento tem sofrido bombardeio de todos os lados, as pessoas querem destaque mas não estão dispostas pagar o preço do relacionamento, porem por mais que o sistema mundano, financeiro e meio de comunicação de massa apregoem que o casamento é uma instituição falida, ela vai continuar por ser uma instituição divina...
ResponderExcluirFamilias saudaveis. Dificil, mas possivel.
ExcluirOla, Pastor Geraldinho que honra te-lo conosco, Deus o abençoe com toda sua família e ministério. Acredito ser um grande milagre suas conquistas, e espero que prossiga avançando...
ResponderExcluirGrato, carissimo Raimundo. Estamos do mesmo lado: Da Familia.
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