quarta-feira, 4 de abril de 2012

O CASAMENTO QUE FOI PRO ESPAÇO

Chiquinha e Exibildo subirão ao altar nos próximos dias. Empolgados, querem viver o que sempre sonharam: Uma cerimônia de casamento que abale os pilares do mundo, ou, como dizia Exibildo: “Que todos digam: Nunca houve nada parecido em Boa Impressão”.

Os pais da noiva não queriam fazer feio. Teria de ser algo maior e mais espetacular que o enlace de Ilda e Tomezinho, os amigos que casaram por estes dias. Também teria de superar o casório de Bina e Hipérboles, os próximos a subirem ao altar.

Os nubentes já haviam contraído dívidas para as primeiras cinco bodas. Os pais da noiva ("paitrocinadores"), já estavam pendurados “até o pescoço”. Fazer algo comum,
nem pensar - o que diriam os amigos e parentes após a festança? Decidiram ir fundo.

Seu Exibildo, ou, como era conhecido, Seu Exibildão, o pai do noivo, fora contaminado com a empolgação da família de Chiquinha. Tomou um empréstimo pra bancar a sua parte na cerimônia. Aquele casório já havia entrado para a história dele - nunca havia feito um empréstimo a “perder de vista”.

Chegou o dia dos noivos! Ele, dentro de um terno alugado a peso de ouro. Ela, chegou à cerimônia de helicóptero, pousando no Cruzeiro – supimpa, arrasaram!

Não se pode dizer que aquilo era uma ce-ri-mô-nia. Tudo chique “no úrtimo”, diziam os convidados – os pais e os noivos haviam conseguido impressionar to-do-mun-do. Um luxo só. Casamento num Cruzeiro, na praia mais próxima do Município de Boa Impressão - a cidadezinha parou pra comentar o espetáculo. Buffet, inclusive para aqueles que nem se relacionavam bem com eles; afinal, não perderiam a chance de “mandar uns recados” pra turma do contra. Comida de prima. Música ao vivo. Serviço e produção a lá Stieven Spielberg.... Nunca houve nada parecido em Boa Impressão e região. Serviço completo!

Bem, não pararia por ai. Depois de um evento desses, lua-de-mel não combinaria com Poços de Caldas, não é mesmo? Lua de mel lembra... Lembra a lua! Isso mesmo, foram para a lua, numa viagem inigualável!

Mas, como tudo o que é bom... Chegaram as contas. Uma atrás da outra. O problema foi o Cruzeiro, afirmou Ezibildão preocupado com o cartão de crédito. Sua esposa discordava: Foi o buffet, afinal, só não convidaram quem já havia morrido. Do lado da noiva as coisas ficaram tensas. Fizeram um empréstimo pra cobrir o outro empréstimo pra cobrir o outro... Bem, tinham que honrar o valor dos convites em pedra de mármore, a equipe de produção, aluguel das roupas, decoração, helicóptero, viagem especial, digo, espacial... e um punhado de outras coisas.

E sete dias depois os noivos chegaram da lua-de-mel. Ainda estavam com a cabeça na... Lua. Estranharam o fato de que tinham deixado todo mundo contente e, agora, a turma de Seu Exibildo não falava com a família da Chiquinha. A coisa tava feia. Acusações de um e outro lado.

Ao chegarem em casa, ainda sob efeito das núpcias discutiram porque os Correios haviam se enganado tanto: "Essas contas não são nossas", suspeitaram. Mas a visita do homem de camisa amarela e calca azul passaria a ser frequente entupindo todos os dias a caixinha de correspondências.

A culpa é de quem mesmo? Os convidados da “festa do ano” conversaram a boca pequena sobre o que deu errado no Buffet: O tempero da lagosta, a forte ventania que assanhou muitas chapinhas, o calor no convés... Os padrinhos, escolhidos a dedo, estavam ocupados pagando presentes – não queriam fazer feio, por isso, não economizaram. As famílias, atoladas em dívidas e brigadas. Chiquinha concluiu a duras penas que o cartão de crédito não compra paz para o lar, seja à vista ou no prazo: "O dinheiro de plástico pode fazer maravilhas, menos essa", pensou. Nem no débito ou crédito. Os primeiros meses de amor entre ela e Exibildo passaram a ser de acusações. Depois, de calorosas discussões. Depois, xingamentos... Depois... Depois... Não houve depois!

De fato, aquele casamento entrou para a história.
Nunca se viu algo tão eterno quanto... Aquelas contas!
Nunca se viu pessoas tão felizes quanto fornecedores, prestadores de serviços, advogados.
Nunca se viu algo tão lindo... quanto naquelas fotos que adornavam o Facebook.
Nunca se viu tanta gente feliz, quanto naquele... Naquele contos sem fadas, no navio.

O padre, celebridade do DVD, dizia a todos: “Vão-se os anéis e ficam os dedos. Nesse caso foram-se as alianças e também os noivos.” Lamentava que aquilo “causou” em Boa Impressão. A cidadezinha nunca mais foi a mesma, concordavam Ilda e Tomezinho (lembra deles?).

Depois que o casamento foi pro espaço (os noivos já haviam ido), Bina e Hipérboles (os próximos na fila do altar, lembra?) já se contentavam com um casório na garagem...

...Pão-com-manteiga e Tang, servido por seus tios...

...E uma lua-de-mel em... Diadema!
Afinal, concluíram que o que realmente importa não é viver “endividados para sempre” ou casar “até que as dívidas os separe”. Essa lição, eles aprenderam.

Este é um causo, apenas, pura ficção. Qualquer semelhança entre fatos e personagens, terá sido mera coincidência.

La Societe du Spectacle é um livro do anarquista Gui Debord, de 1967. Trata-se de uma crítica ao consumismo, utilitarismo, narcisismo, hedonismo, e o capitalismo do nosso tempo. Pensando na parábola acima, algumas considerações:

Celebre os momentos felizes de sua vida – batismo, casamento, bodas, formatura... – uma celebração pouco tem a ver com um “show” - como praticam os contaminados pela “sociedade do espetáculo”.
Precisamos desintoxicar: Aqueles que verdadeiramente amam você se alegrarão com seu momento independente do custo ou valor investido.

Não pense que “tudo o que é bom custa caro”. A simplicidade de um encontro continua linda, sem custar muito. (Então, quem não tem dinheiro está proibido de celebrar?)

Prefira a simplicidade à ostentação. Jogarão pra torcida aqueles que querem exibir-se. Seja você, mostre você, não há nada mais interessante. Ser e mostrar o que você não é, de fato, custará mais. Se você se preocupar em agradar a todos, custará mais, afinal: “Quem vê defeito em tudo, vera defeito até no paraíso”.

Não se comparar. Não competir. A razão de nossa vida não está em ser “melhor”, mais alto, ter mais ou parecer mais lindo. Cada pessoa é uma vida irrepetível, singular, especial.

Quem te ama de verdade, se alegrará com você brindando com um copo com água e um pedaço de pão. Porque não há ninguém ou nada mais interessante que você, uma vida irrepetível, singular, especial. Quanto custa ser feliz? Alguém já disse que a gente gasta o que não tem, comprando o que não precisamos, pra mostrar pra quem não gostamos. É isso. By Geraldinho Farias

4 comentários:

  1. É verdade amigo, o casamento tem sofrido bombardeio de todos os lados, as pessoas querem destaque mas não estão dispostas pagar o preço do relacionamento, porem por mais que o sistema mundano, financeiro e meio de comunicação de massa apregoem que o casamento é uma instituição falida, ela vai continuar por ser uma instituição divina...

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  2. Ola, Pastor Geraldinho que honra te-lo conosco, Deus o abençoe com toda sua família e ministério. Acredito ser um grande milagre suas conquistas, e espero que prossiga avançando...

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  3. Grato, carissimo Raimundo. Estamos do mesmo lado: Da Familia.

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