A figura do Cuidador está sendo "descoberta" ou
reconhecida. Em uma década o número de idosos explodirá no país, segundo
apontam todas as estatísticas. Se sua família ainda não está cuidando de um
idoso aguarde, esta realidade será de todos nós. Aprecie Jairo
Marques (Folha 12/4):
"Dá pra lotar uma Kombi se juntar o povo todo do país que
carece de cuidados mais
diferenciados para tocar o cotidiano. Aquele pessoal
que a gente olha e pensa: "Esse aí deve dar um trabaaaalho danado"!
Alguns "tetrões" -tetraplégicos para os mortais
comuns- possuem limitações severas não só nas pernas mas também no tronco, no
pescoço, nos braços. Sabe os bonecos mamulengos do Nordeste? Então...
Isso não quer dizer que eles não tenham seus coraçõezinhos
pulsantes e plenas condições de ter uma rotina de afazeres, de trabalhar, de
ter família e de pagar impostos... E também não quer dizer que, igual a cocar
de índio, eles precisem de pena. Um cuidador jeitoso e capacitado resolve de
boa.
Assim como "tetrões", algumas pessoas que labutam
contra doenças degenerativas ou que sofreram traumas graves e até mesmo idosos
podem precisar de apoio para levar a vida. É uma ajudinha básica para lavar as
partes, outra para conseguir levar o garfo à boca, mais uma para espantar a
muriçoca da cara ou mesmo um apoio para se levantar da poltrona do vovô e se
sentar na cadeira de rodas elétrica. Ops, essa dá choque. Melhor uma cadeira
motorizada.
Aqui no Brasil, o papel do cuidador acaba, muitas vezes, sendo
desenhado pela família. É aquela cultura da música brega do Peninha, que o
Caetano floreou e que a gente sempre se pega cantando baixinho: "Quando a
gente gosta, é claro que a gente cuida".
São pais, mães, irmãos que passam a se empenhar, na cara, na
coragem e na força, para cuidar da vida de um ente que carece de apoio. Semanas
atrás, até uma atriz famosa, a Christine Fernandes, que é um pitéu, anunciou
que deixaria de estar à frente de um programa de TV para cuidar do pai, que
está na trincheira contra a leucemia.
Acontece, porém, que disposição, boa vontade e carinho jamais
vão se sobrepor ao preparo técnico para ajudar alguém. Como diria o falecido
Tim Maia, "faz de conta" que você queira dar uma "hand"
para um primo mais pesado que cesta básica de Natal se levantar da cama. Sem
preparo, é bem possível que se estupore alguma veia do pescoço e não se consiga
êxito na missão.
Um profissional ou alguém com treinamento manda lá uma manobra
ninja e, em segundos, levanta o cabra com segurança e precisão. Além do
conforto de uma ação mais rápida, um cuidador preparado pode dar muito mais
autonomia para o viver de quem precisa dele, uma vez que um familiar, mesmo não
tendo a intenção, pode representar uma invasão permanente.
"Ficadica" do filme "Os Melhores Dias de Nossas
Vidas", de 2004, dirigido por Damien O'Donnell, em que um tetraplégico e o
amigo com paralisia cerebral enchem o saco de viverem em uma instituição de
apoio ao mal-acabado e resolvem arriscar a vida morando sozinhos. Eles
contratam uma cuidadora e se divertem um bocado.
Iniciativas de treinar o povo para ajudar a aprumar o cidadão
que precisa de cuidados, por enquanto, são tocadas apenas por alguns hospitais
e associações. Será que nem capacitar gente para garantir mais qualidade de
vida, independência e dignidade ao pessoal que, literalmente, não se vira o
governo conseguiria bancar?
Multiplicam-se os abrigos de idosos - não confundir com os
"depósitos de velhinhos", fruto do abandono de famílias, ausência do
poder público em fiscalizar as condições de higiene e limpeza, e da proliferação
de profissionais (de)formados no improviso.
Faltam políticas públicas preventivas que visem uma qualidade de
vida melhor pra essa população. Uma cultura de valorização - aposentadorias
razoáveis, serviços acessíveis etc."
O Blog chama a atenção para os vôzinhos - amanhã será a nossa
vez. E aí, como será? Viva a senescência! By Geraldinho Farias
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