quarta-feira, 28 de novembro de 2018

AINDA SOBRE O SUICÍDIO DE PASTORES

Pastor Rafael Octávio, domingo 25|11: Último serviço.

Rafael Octavio cometeu suicídio nesta terça, 27 de novembro de 2018. O filho de Dona Zela e Seu Valdeci não seria trending topics não fosse pastor da Catedral do Avivamento de Orlândia, 40 mil habitantes, no interior de S. Paulo...

Nos últimos 5 anos o fenômeno do suicídio de ministros religiosos tem chamado a atenção das corporações religiosas. Muitas as iniciativas e mobilizações tem sido provocadas desde então, no sentido de advertir, cuidar e promover saúde entre ministros. Destaco aqui o Projeto Josué, da Ordem dos Pastores Batistas do Estado de S. Paulo que promove mentoria e pretende manter rede de proteção aos vocacionados.

Também os importantes ministérios que visam dar suporte ao Ministro no exercício de sua labuta, como o MAPI – Ministério de Apoio a Pastores e Igrejas, Associação Apascentar, dentre outras.

Neste espaço discorremos diversas vezes sobre o fenômeno. Aqui, algumas alucinações sobre o assunto:

- Já se faz necessária uma revisão sobre processos de formação de vocacionados. Dentre os conteúdos de Teologia e Filosofia, a exploração do universo da saúde mental.

- Das iniciativas citadas, reconhecemos os debates e os fóruns realizados pelas instituições sobre esgotamento, adoecimento e crises no ministério e do ministro; ainda há ainda muita resistência de religiosos sobre a busca por socorro e uso de recursos dos profissionais da saúde mental – psicólogo e psiquiatra.

- As novas demandas do século impuseram uma agenda que, em muitos casos são impossíveis de serem cumpridas, gerando autofagia na vida daqueles que não planejam, não priorizam etc. A mordomia do tempo é dos temas a serem considerados.

- Curso de Teologia – agora sob modalidades rápidas ou á distância, Concílio e Consagração é o roteiro para o vocacionado. Prescinde-se de um período de estágio e acompanhamento por um Senior, cenário que não prima pelo cuidado daqueles que irão para uma atividade insalubre e periculosa.

- As expectativas e cobranças da comunidade por produtividade ainda sobressaem, inspirada por modelos importados que priorizam crescimento numérico.  Não são incomuns que ministros incorporem as pressões sobre si, provocando danos a si mesmos e extensivos às relações familiares.

- A maioria dos ministros atuam abaixo das condições mínimas de manutenção de si e de suas famílias. O que faz o ministro viver em condições vexatórias para o sustento da família.

- Alguns tipos de liderança e modelos de ministério oportunizam ou potencializam crises, como os centralizadores, os com baixa alta-estima ou com instabilidades emocionais.

- A “aura” do tipo “fora-de-série”, incólume ou “vacinado” – uma ilusão – adotado por muitos... Tem como colateral uma didática que não contribui para que comunidades sejam mais flexíveis e cooperadoras com o exercício do ministério. E, muitos, isolados, vivem sob adoecimento, pressão e riscos.

Há muito conteúdo sobre as demandas, diagnósticos e apontamentos sobre o tema.  Faço o contraponto sobre duas afirmações:

A primeira, sobre a denominação “suicídio pastoral”. A adjetivação implica que a atividade seja inexoravelmente para o suicídio. E não é o caso. Se for usual, que seja “suicídio de pastores”. Mas não é essa a objeção. É como se pastores vivessem num universo paralelo à realidade e acontecesse num particular, numa realidade exclusiva. Suicídio é crescente no mundo e atinge várias e diversas (com redundância) atores e profissionais. Ministros religiosos são humanos; suicídio acontece entre humanos, logo, suicídio acontece entre pastores. É lamentável, mas é um soco na idealização do super, sobre-humano, anjo ou o que seja. O fenômeno desmistifica os religiosos – última fronteira de uma suposta “blindagem sagrada”.

Outro contraponto é do discurso vitimista. Ante noticiosos assustadores, é comum ouvir de ministros depreciações sobre o que a Bíblia chama de “excelente obra”. Ao multiplicar frustrações e reclamações faz parecer que o Deus que chamou não fornece graça e poder para superar crises. Ademais, outros profissionais ficam com a impressão de que somente nós, vocacionados, enfrentamos problemas...

Lamentamos que o jovem pastor Rafael, sob acompanhamento médico de seu processo depressivo, seja mais um que sucumbiu à crise. Mas... Há muitos atrás dos púlpitos, dentro das túnicas de religiosos,... Sob riscos. Oremos. Que haja graça suficiente sobre aqueles que militam no Ministério Pastoral. By Geraldinho Farias

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