ÍCONES, TOTENS E CELEBRIDADES DO GOSPEL: O FENÔMENO DOS "EX"

Ramon Pedro como Drag Queen

Ramon Pedro possui um histórico interessantíssimo. Na adolescência percebeu-se e se assumiu “gay”. Depois, tornou-se “drag”. Recentemente se converteu numa igreja evangélica. Essa trajetória é sensacional. E perigosa.

Sensacional porque afirmamos que Deus em Cristo pode mudar a todos e todas. Cremos nisso: “Se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram eis que tudo se faz novo” (II Co 5.17).

Como acontece desde Cabral, indivíduos possuidores de discursos sobre experiências extremas e conversões religiosas logo viram os “ex-isso", ”ex-aquilo”, a "bola da vez". Especialmente em ciclos religiosos, logo o “Ex” atrai

os holofotes, tornando-se um convertido-vitrine, isto é, aquele que depõe sobre algo (im)possível de acontecer e, apesar das negativas daqueles que em dadas condições resistem em mudar, são apresentados como “troféus” num tempo de embates e polarizações sobre ideologias e afins.

E perigosas também. O contraponto que provoco são os riscos de tais experiências extremas; o novo convertido passa a protagonizar a audiência de igrejas e ministérios Brasil a dentro. Simples assim: Não era, passou a ser, deixou de ser... E vira qual efeito das atrações bizarras dos circos antigamente. Passa a ser requisitado, a participar de grandes eventos e shows, ilustrar banners, gravar mídias,... Ofertas, cachês, produtos associados à marca... Fenômeno instantâneo, um Midas. Aí vêm editoras, gravadoras, produtoras como abutres na carne!

O Ex-Drag Queen, Ramon Pedro e
 Raiane Teodoro: Celebridades instantâneas.

Não discuto a lógica (ou falta dela) do Capital, bem presente nos circuitos religiosos. O que discuto são os processos psíquicos que o Sistema ignora ou minimiza. Essa máquina de fazimento de pop-stars, de celebridades, usando pessoas, discursos e vitrines fantásticas não considera a dramaticidade de transições extremas e sob tensões, as necessidades humanas e processos psicológicos, afetivos e contundentes.

Lana Holder é o caso emblemático de quem não era, passou a ser, e... Deixou ou... Voltou a ser! Entre uma experiência e outra tornou-se show-woman, pregadora de fama internacional; as cifras choveram em seu quintal chegando a andar de Ferrari em Miami (!); poucas grifes venderam tantos CDs, DVDs, Livros... Até que a ex-lésbica se converteu às avessas, casando novamente com uma... Mulher! Hoje atrai os holofotes de sua Comunidade de Refúgio – uma alternativa para LGBTTTs+...

Bianca Toledo de 2010 a 2018: Divórcio e Cura; 

Best-seller; Casamento sensacional com o Pastor Hederich;

Escândalos em 2016; neste junho casou 3a. vez...

O sistema produtor de ídolos do pop evangélico é insaciável. É rápido em aproveitar oportunidades de fazer dinheiro. A face mais dramática são as recaídas daqueles que não se submeteram a um acompanhamento psicológico, um discipulado razoável e uma vivência mínima numa comunidade de fé, sob a companhia de pessoas que não miravam usar as personas. Não dá tempo. É urgente que sejam elevados à condição de totens! Eles estão aí aos montes no anonimato, aumentando a lista dos “Ex-ex”, como Lana Holder, Rafael Polegar, Mara Maravilha,...

O "furacão" Lanna Holder e sua mulher Rosania Rocha:

Lésbica; Ex-Lésbica; "Convertida"; e... Ex-Ex.

Ontem: "Troféu" dos evangélicos; hoje, "troféu" LGBTTTs

Recentemente o mesmo circuito incensou a Pastora Bianca Toledo. Curada, foi alçada ao panteão das celebridades. Grife, vendeu como poucos. Casou-se com o Pastor Filipe Heiderich, naquele que foi o "casamento do milênio". O vídeo girou zilhões no Youtube. O casal-vitrine rendeu cifras inacreditáveis. Tornaram-se as vozes sagradas seguidas por milhões de crentes nas redes. Até que... Separaram-se num show de horrores! Ela o denunciou por pedofilia - abusador do próprio filho de 5 anos; Heiderich foi detido. Hoje disputam bens. O "barraco" a céu aberto não gerou qualquer critica na Crentolandia. A patuleia, fiel  e solidária à "Cinderela do Gospel", continuou seguindo a Diva, mantendo a fama e status. Indivíduos com históricos sensacionais continuam performáticos, ícones do sagrado, ocupando tribunas usando a Bíblia com mensagens de auto-estima e consumido pela clientela canônica!

Esse tal gospel reinventou o narcisismo. O culto ao ego em nome do Sagrado produzirá escândalos em escala industrial: Despreza a natureza humana. Pessoas precisam ser cuidadas por serem pessoas - não vistas como meras marcas, ícones, tótens...! By Geraldinho Farias