"EQUILIBRANDO O SER E O FAZER"
Conferência apresentada em 11|07|18 na OPBB|SP durante a 110a. CBESP:
“Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do
Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai.”
O ponto de partida é Cl 3.1o que fizermos, releva o “como” fazer, isto é, sermos agradecidos e no Nome dEle. Como equilibrar o ser e o fazer num mundo de polarizações e extremos? Vivemos numa diversidades de “Fla x Flus” que
tem contaminado as relações humanas. Direita ou esquerda? Cotas para universitários, sim ou não? Aborto, ser a favor ou contra? O mundo e especialmente o país se encontra bifurcado, dicotômico, sob polarizações extremas. Ei-nos trazendo a este fórum as tensões entre o ser e o fazer. O que é mais importante, ser ou fazer? Qual a nossa prioridade? Quando formamos, alinhamos e aprimoramos equipes, o que enfatizamos – a conduta, o caráter, o “ser” ou, cobramos resultados, performance, produtividade???E me impús daquilo que considero um tripé, que aumenta ainda mais esta
tensão: O sentir. Deixemos o sentir de lado e exploremos as tensões diárias
entre o ser e o fazer.
Introdução Uma sociedade capitalista como a nossa prioriza,
celebra, enfatiza a produtividade. E vivemos sob as pressões das expectativas.
Algumas expressões populares denunciam o valor da atividade, da produtividade e
do ativismo:
- O político que “Rouba, mas faz” |“É pau pra toda a obra” |“Ele dá o
sangue pela empresa”, ou igreja | “Veste a camisa” |Esse é do tipo
“Mão-na-Massa” | O “Ponta-firme” | O “Quebra-galhos” | “O Bombril”, 1001
utilidades |O “Carregador de Piano” | “O Professor Pardal” | O “Faz-Tudo” | A
“bucha de canhão” | O “Curinga”, atua em muitas posições | É ele quem cobra o
escanteio, corre pra cabecear, faz o gol e ele mesmo já está na torcida pra
comemorar...| Ele consegue “assobiar e chupa cana” | “Fulano pinta o 7”
Todas estas expressões ensejam o fazer, o construir, a aparência do
trabalhador, as credenciais do operário que enche nossos olhos. É isso que a
gente busca e aprecia: O trabalho visto e aprovado. Sabe aquele pastor o
visitador em rodízio, seu carro é a ambulância da igreja... Não tira férias...
É disso que temos de lidar: Se estes aspectos tão consagrados no
imaginário popular são mesmo o protótipo da excelência, se apenas e tão somente
profissional executor, o construtor, o fazedor aprovado pelo que faz e realiza
se isso não tem sido trazido para nossa práxis no pastoreio.
A pergunta: Não temos desequilibrado o fazer e o ser a partir da
contaminação a que somos afetadas sob os valores do capitalismo, cujos
resultados são dados em números, conquistas, ganhos, aumentos, crescimento...???
Algumas afirmações sobre as fronteiras que nos desafiam nesta tensão
entre. Considero que ignorá-las ou subestimá-las oferecem risco de distorcer,
deformar ou até mesmo “frankestenizar” nossos ministérios: Por isso proponho,
CINCO AFIRMAÇÕES SOBRE ESTA TENSÃO:
1ª. Afirmação: A Produtividade não deve ser o único ou o mais importante
indicativo de avaliação
Há uma perigosa atração pelos diversos papeis que um pastor possa
desempenhar. Em muitas comunidades há expectativas para que o obreiro seja...
O pastor-pedreiro, gerente de obras
O pastor-Rh, o estrategista de equipes
O pastor-coach, o líder motivador
O pastor-4.0, o inteligente à frente de seu tempo
O pastor-progressista, desbravador de obras sociais
O pastor-CEO, o bem-sucedido executivo do ministério-modelo
O “pastor-jurássico”, o “guardião” dos baptistas, o protetor do Cantor
Cristão e arquivo-vivo dos pioneiros
O pastor-McGayver, o solucionador de ministérios problemáticos (se a
igreja estiver na zona de rebaixamento do Brasileirão - ou à beira de
fechar as portas, chame o Pr. McGayver!)
O pastor-especialista, graduado, pós-graduado, doutorado,
pós-doutorado,... Carreirista na estrutura denominacional.
O pastor Clark Kent, o super-homem, o anfíbio – atua em todas as frentes
Mas... O pastor na essência da palavra, lugar-comum, o a-pas-cen-ta-dor,
pastor que apascenta... Não é devidamente reconhecido e sua missão é raramente
destacada. O que no futebol romântico dizíamos ser o “zagueiro-zagueiro”.
Pastor que apascenta é a discrição do “ser pastor” no Novo Testamento.
E, nisto, temos sido vitimados por engrenagens que levam o obreiro a ser
tudo, fazer tudo – por mais estranho que sejam as diversas incubências a ele
atribuídas, menos aquilo para o qual ele foi chamado: Apascentar! E, de tudo
que nos fará cansar, de tudo o que nos fará desanimar, se deprimir, há de tudo
– gerir como empresa, presidir como executivo... Menos, apascentar!
Ao viver as tensões entre o ser com o fazer, não devemos abrir mão de
sermos pastores, porque fomos chamados para sermos pastores: “Aos presbíteros,
que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e
testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de
revelar:
“Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por
força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; Nem
como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao
rebanho...” I Pe 5.1-4
Por mais diversas que sejam as demandas dos ministros, o apascentamento
resume a descrição mais precisa do que seja pastorear!
2ª. Afirmação: Devemos resgatar da Escritura as bases para relação entre
o ser e o fazer
A) Focalizemos o Mestre Jesus na inauguração de seu ministério público:
“E subiu ao monte, e chamou para si os que ele quis; e vieram a ele.
E nomeou doze para que estivessem com ele e os mandasse a pregar,
E para que tivessem o poder de curar as enfermidades e expulsar os demônios...”
Marcos 3.13-19 Jesus, nosso modelo, referência e exemplo primeiro chama
(proskaleo = chamar para si); os nomeia para que estivessem com Ele. Primeiro
ser – a convivência com o Mestre, depois, e somente depois, a produtividade, a
tarefa, o fazer!
B) No nascedouro da igreja, a Grande Comissão, diz Atos 1.8: “Mas
receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas
testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da
terra". O texto descreve uma condição: “Serão minhas testemunhas”. O ser
testemunha é condição antecedente, prévia, à tarefa; Ser testemunha antes de
evangelizar! Ser antes de fazer.
C) O diaconato surge devido às necessidades circunstanciais de uma
igreja em crescimento quando os Diáconos são consagrados: “Naqueles dias,
crescendo o número de discípulos, os judeus de fala grega entre eles
queixaram-se dos judeus de fala hebraica, porque suas viúvas estavam sendo
esquecidas na distribuição diária de alimento. Por isso os Doze reuniram todos
os discípulos e disseram: "Não é certo negligenciarmos o ministério da
palavra de Deus, a fim de servir às mesas.
Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, cheios do
Espírito e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos dedicaremos à
oração e ao ministério da palavra".
Tal proposta agradou a todos. Então escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do
Espírito Santo, além de Filipe, Prócoro, Nicanor, Timom, Pármenas e Nicolau, um
convertido ao judaísmo, proveniente de Antioquia. Apresentaram esses homens aos
apóstolos, os quais oraram e lhes impuseram as mãos.” Atos 6.1-6 Para suprir a
demanda, atentemos que antes da tarefa há as qualificações: O ser antes do
fazer.
D) As Epístolas Pastorais pretendem a tarefa do pastoreio com
excelência, mas, ocupa-se em caracterizar, personalizar a conduta, descrevendo
o perfil desejável e aprovado por Deus: “Esta é uma palavra fiel: Se alguém
deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja
irrepreensível... E também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se
forem irrepreensíveis...” I Tm 3.1ss
O “convém, pois, que o bispo seja” é o preâmbulo para enfatizar o “ser”
pastor. Paulo a Timóteo prioriza a conduta, o caráter, a piedade. Podemos
ressaltar como ênfases do ministério pastoral no Novo
Testamento: Portanto, as orientações bíblicas sobre o Ministério Pastoral
relevam o ser sobre o fazer. Podemos concluir:
O pastor faz porque é; Ele não é porque faz.
Se não for, o pastor não está autorizado a fazer! Se não for íntegro,
honesto, piedoso, o pastor não está apto para liderar, pregar, ensinar e
aconselhar. Sim, quando se refere ao Ministério pastoral o “ser pastor” está
acima do dirigir igreja, ministrar Ceia e batizar.
Num tempo de diversas demandas, e estamos discutindo nossos limites ante
tantos pastores cansados, desanimados, depressivos, frustrados, Paulo adverte
ao ministro sobre o cuidar-se (ser) para depois ministrar (fazer): “Tem cuidado
de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto,...” I
Timóteo 4:16
3ª. Afirmação: O Crescimento não deve ser um fim em si mesmo
Conhecemos pastores que, diante das exigências de que a igreja cresça,
são verdadeiros bólidos, migrando de modelo a modelo, ano a ano. Como no
diálogo a seguir:
- E aí amigo, o que o levou a mudar da Rede Ministerial para o G12?
- MDA? Passei para o DNA ano passado, mas agora estou terminando os 40
dias com Propósitos...
Convivo com líderes “camaleões” – mudam de modelos com a velocidade de
um meteoro para corresponder aos anseios de sua comunidade. Esta, a comunidade,
deve viver a confusa. É como aquele indivíduo que descobriu a FOREVER como o
grande negócio, passou a contagiar todos os seus amigos; aí ele descobre a MARY
KAY e, no carrão cor-de-rosa sai dizendo que a vida é outra com a... HINODE!
A pretexto da aplicação de um modelo que assegure|acelere o crescimento
da igreja submete as convicções doutrinárias a riscos; distancia a igreja de
sua associação e, o próprio ministro, aparta-se da comunhão entre seus pares,
da mesma fé e desordem. E, graduado na sub-denominação da grife que agora
defende, ostentará números de seu império. Afinal, deve prestar contas do seu
ministério. Tem que trabalhar, produzir, crescer!
Sob efeito desta alucinante realidade, vemos a escandalosa retração da
plantação de igrejas; explico: Aquele percurso ponto de pregação, congregação e
inevitável plantação da igreja foi substituído pelas “extensões”. Grupos
autossustentáveis, já no estágio de organização em comunidade autônoma,
tornam-se “extensões” da igreja original. Inflando números da igreja original e
atestando o ministério que “está bombando”.
É a estratégia para assegurar o “sucesso” (com aspas) em números.
Antigamente compartilhávamos sobre a igreja que organizava 1, 2, 3 “filhas”. Hoje
o sucesso implica em adesões ao ministério local: Éramos 100, hoje somos 250 e
nossa meta é 500! – a cada ano a indústria das fórmulas de crescimento
eclesiástico aplica práticas de marketing multinível, truques motivacionais e
líderes que mais se parecem executivos em contato com clientes... É o mercado,
a cultura do fazer sobre o ser!
Sobre o pastor pesa a pressão para fazer a igreja crescer. É a
produtividade como sintoma ou fator único para medir ou aferir o “sucesso” (em
aspas) do ministério. O pastor da Idade Mídia, terá que ser uma
sub-celebridade: Gravar oráculos eletrônicos, vídeos, alimentar o canal do
Youtub, fazer as lives das pregações, sentenças no Whats ou Telegran etc. E
nessa atração narcísica da “máquina de roubar descanso”, tempo,...
Entregamos parte considerável do nosso tempo. A saúde é sugada, a agenda
impõe desumana rotina.
Discurso completamente intoxicado por um Capitalismo (ou “Capetalismo”)
de resultados. É isso que encanta, cativa e mantém a patuléia. Uma meta
obsessiva do ministro, tornando-o um alucinado por estratégias que o farão
desviar de seu papel descrito como apascentador do rebanho. E, muitos, pelo
crescimento a todo o custo, têm sucumbido à tentação dos fins que justificam os
meios: Rasgam o Código de Ética, recebem facções de “irmãos metralhas”,
admite-se em Assembléia indivíduos que, sabemos o que fizeram no verão passado.
E, para segurar o cliente, digo, membro, terá de fazer da paróquia uma
indústria produtora de eventos. Eventos em escala industrial: Para todas as faixas-etárias,
quase todos os dias da semana... Há igrejas que oferecem cardápios: Segunda da
libertação, terça da família, quarta do desespero etc.
4ª. Afirmação: Precisamos Rediscutir os Parâmetros da Meritocracia
Não é incomum que num processo de sucessão o pastor seja aprovado pela
igreja sob o critério da pregação, como se a pregação fosse tudo o que implica
o ministério. Mas é a homilia pública que “testa” (aspas) o candidato... Também
não é incomum que, apesar de, aparentemente bom pregador, muitos ministérios
curtos denunciam líderes instáveis emocionalmente, inábeis em conduzir
aconselhamentos e até mesmo incoerentes ou desorganizados financeiramente.
Num mundo pictórico - das imagens - como o nosso, “imagem é tudo!”. Joio
e trigo (Mt 13.24ss) crescerão juntos por conta da aparência confusa e
similar entre ambos. Mas os que os diferencia são suas naturezas intra, in,
under; o que não se vê!
Um das mais enfáticas e surpreendentes advertências nesta relação se
encontra nas palavras do Mestre, sobre aqueles que naquele dia apresentarão uma
inesgotável lista de sinais, prodígios e maravilhas – algo vistoso e atraente
em nossos dias: “Senhor, em teu nome não fomos produtivos? Olha nossa conta no
lindkin, Facebook, Istagran, Tweeter - profetizamos, expulsamos demônios,
realizamos muitos milagres, obras sociais, vídeos e lives das pregações... É a
aprovação através de resultados palpáveis, constatáveis, exibidos muitas vezes
em números e imagens! O fazer como autenticidade de nossa identificação com o
Senhorio do Mestre. Mas... Ele vai na contraprova. Ele vai no indício mais
contundente que, todavia, não se mede através de números, exposição de gráficos
por ser a natureza da vocação. Como medir um ministério próspero? Em teu nome
não abri 1 dúzia de congregações? Em teu nome não exerci 4, 5 mandatos na
Denominação? Em teu nome não me tornei o “Midas na Mídia”? Mt 7.22 Jesus dá uma
pista: “Não vos conheço”. Aqui o Mestre implica uma relação de intimidade e
identificação cujas provas não necessariamente são vistas e julgadas. Como
aferir a espiritualidade piedosa? É o ser, não é o fazer.
Se, por outro lado, um obreiro após uma experiência em dada igreja é
expressa através de números, por outra, um vocacionado que vive sob reconhecida
integridade, mas que não é conhecido por suas estratégias terá suas chances de
nova oportunidade reduzidas. Gostaria de não afirmar isso. (Obreiros que
atravessam uma década em rara integridade não são tão celebrados como o obreiro
que pegou aquela congregação com 10 membros e, em 10 anos, entregou-a com 300
membros).
Na avaliação do mérito ou, meritocracia, cabe uma solene advertência:
Podemos treinar pessoas para realizar melhores serviços; mas nem sempre podemos
esculpir nelas um caráter aprovado. Indivíduos aptos, íntegros, podem ser
melhores realizadores se treinados, desenvolvidos e aprimorados; indivíduos
fazedores, produtores, contudo, poderão camuflar ou esconder má índole!
Cena comum: Candidatos ao ministério são apresentados como líder
realizador, mobilizador e ativista. Ser conduzido ao Concílio é como se fosse
um “prêmio” (aspas). Por causa de suas realizações, será consagrado! A
meritocracia não alinhada à piedade, tem produzido líderes com problemas sérios
de integridade que conspiram contra a honra e a saúde de comunidades Brasil a
dentro.
Precisamos ser mais seletivos, mais garimpeiros, melhores peritos em
identificar os sintomas da vocação que não necessariamente vem sob os signos da
eloquência aparente, do ativismo comunitário, mas com a devoção e piedade. Se
não nos ocupamos em consagrar apascentadores - não executivos, CEOs ou
motivadores de grupos – o número de consagrados ao Ministério Pastoral tenderá
à diminuir mas, para nossa alegria, haverá melhor qualidade.
5ª. Afirmação: A “religiosidade de resultados” conspira contra uma
espiritualidade saudável.
O farisaísmo de ontem (e de hoje) que se expressa através de padrões de
religiosidade, que demarca fronteiras no sagrado, que descreve rituais externos
e legalistas a aprisionar indivíduos, impondo-lhe repetições vazias, recebeu do
Mestre de Nazaré suas mais contundentes críticas!
Os fariseus jogavam pra torcida. Religião pra inglês ver. O tripé da
religião judaica Orar-Jejuar-Dar esmolas passou a ser o referencial da
aprovação do religioso de grife, de vitrine. Era preciso fazer, mostrar,
teatralizar a religiosidade. Era preciso tornar público, denunciar para receber
a aprovação. Esse é o perigo da “religiosidade de resultados”: A encenação.
Somos seduzidos pela ditadura das imagens, do marketing religioso.
O Farisaísmo antecipa em séculos o que o filósofo francês Guy Debord
(1931-1994) descreve como “Sociedade do Espetáculo”.
“Nunca a tirania das imagens e a submissão alienante ao império da mídia
foram tão fortes como agora. Nunca os profissionais do espetáculo tiveram tanto
poder: invadiram todas as fronteiras e conquistaram todos os domínios – da arte
à economia, da vida cotidiana à política... O espetáculo – diz Debord –
consiste na multiplicação de ícones e imagens, principalmente através dos meios
de comunicação de massa, mas também dos rituais políticos, religiosos e hábitos
de consumo, de tudo aquilo que falta à vida real do homem comum: Celebridades,
atores, políticos, personalidades, gurus, mensagens publicitárias – tudo
transmite uma sensação de permanente aventura, felicidade, grandiosidade e
ousadia. O espetáculo é a aparência que confere integridade e sentido a uma
sociedade esfacelada e dividida. É a forma mais elaborada de uma sociedade que
desenvolveu ao extremo o ‘fetichismo da mercadoria’ (felicidade identifica-se a
consumo). Os meios de comunicação de massa – diz Debord – são apenas ‘a
manifestação superficial mais esmagadora da sociedade do espetáculo, que faz do
indivíduo um ser infeliz, anônimo e solitário em meio à massa de
consumidores’’.
Multiplicam-se as transmissões de rituais que, em sã consciência,
deveria ser a essência da intimidade, do privado. Tudo é público, contrariando
Saint Exupery, de que “o essencial é invisível aos olhos”.
No Séc I, Jesus faz o contraponto à coreografia religiosa; porque a
produtividade aparente conspira contra a espiritualidade saudável. Mas aqui
edito as palavras do Mestre da Galiléia, em paráfrase de Mateus capítulo 6:
Sobre as esmolas: “Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos
homens, numa live via Facebook, para serdes vistos on line; aliás, não tereis
curtidas e comentários do vosso Pai, que está nos céus.
Quando, pois, deres esmola, não publique no Facebook, Istagram ou
Tweeter, como fazem os atores, as subcelebridades da religião da “Infernet”,
para atrair seguidores em suas redes. Em verdade vos digo que já receberam suas
curtidas e compartilhamentos. Mas, quando tu deres esmola, faça-o na Minha
intimidade: Eu sou sua plateia e audiência, e isso basta!
Sobre a oração: “E, quando orares, não sejais como os pastores pop-stars; pois
se comprazem em orar em em suas sedes e transmitem ao vivo, pra ganhar
audiência e impressionar... Em verdade vos digo que já receberam a sua
audiência humana. Mas tu, quando orares, sai do Whats App e Telegran, desligue
o celular ou tablet... E ora comigo e para mim, na minha intimidade...”
Sobre o Jejum: “Faze do jejum um ato de sua intimidade para comigo. Não
use o palco eletrônico pra propagar sua devoção. Você deve fazer isso somente
para Mim. Eu sou seu Expectador; eu Sou seu índice de Ibope. Não, você não está
no Show da Fé ou no Fantástico!”
Os fariseus foram denunciados como “sepulcros caiados com duas demãos de
Suvinil.” Pra Jesus não é o marketing. O “como se faz” é tão importante quanto
o “que se faz”.
Cremos no Deus do Céu e não no “Deus do Selfie”. Jesus comparou a Viúva
que entregou tudo, com os religiosos que davam as sobras. Em jogo, em Lucas
21:1-4) as tensões sobre o “como se faz” = ser, é tão importante como “o que se
faz” (fazer).
Cuidemos para que não alteremos ou adulteremos nossos espíritos e
aspirações sob a atenção das câmeras dos celulares! Cuidemos para que a era do
Big Brother – expressão do escritor inglês George Orwel em seu livro “1984”,
que previa uma sociedade completamente vigiada, espiada e sob controle,
profetizando nosso tempo, não produza um narcisismo e estimule o cinismo fatal
a sabotar nossa espiritualidade para com Deus e para com nossos irmãos na fé.
Porque as aparências enganam.
Porque nem tudo o que reluz é ouro.
Porque por fora poderá aparentar a bela viola, mas por dentro, esconder
o pão bolorento.
Porque o Denorex tinha gosto, cheiro e parecia remédio...
Porque ao sobrepor a coreografia farisaica da produtividade, do ativismo
religioso, do espetáculo da fé ao espírito contrito da conduta, da ética,
estamos viralizando a “espiritualidade Fake News”.
Jesus advertiu que antes de ir levar a oferta ao altar (fazer), é
imprescindível que estejamos com as relações saudáveis (ser): “Portanto, se
trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma
coisa contra ti,... Interrrompe a marcha para o culto. Mt 5.23,24 Para o
Sagrado não é a conveniência da coisa entregue, mas a legitimação da relação
fraternal.
Corinto? Muita ebulição, produtividade, ativismo. Aparentemente, a
igreja mais prolífica do Novo Testamento.
Nada é mais representativo da religiosidade de resultados do que a
proliferação dos dons tanto no caso original quanto na experiência pentecostal.
Na I e II cartas aos Corintios, capítulos 13 e 14, Paulo vem na contramão
daquele congestionamento ou desfile de dons: Exercer um ministério próspero,
exercer funções na denominação, produzir mensagens poderosas nas diversas
plataformas e mídias,...
Sem o essencial – o amor – tudo é ativismo vazio e coreografia religiosa
sem sentido! Porque o sintoma da espiritualidade que o Senhor aprova é o ser:
Paciente, bondoso, não invejoso, não soberbo ou orgulhoso; não egoísta, não
irascível, perdoador...
Para uma síntese paulina, não é o fazer, é o ser!
Portanto, ao afirmar que: A Produtividade não deve ser o único ou o mais
importante indicativo de avaliação; Que devemos resgatar da Escritura as bases
para a equilibração entre o ser e o fazer; que o crescimento não deve ser um
fim em si mesmo; e a Meritocracia não deve fazer a integridade pelo ativismo e
que a “religiosidade de resultados” conspira contra uma espiritualidade
saudável...
Então, o que fazer? Apresento alguns apontamentos sobre a tensão entre o
ser e o fazer, que temos que lidar diariamente
1)Há expectativas e cobranças para que você seja o faz-tudo, acima de
tudo. Então nós, pastores, devemos ensinar sobre a: A diversidade do Corpo
de Cristo. Os dons são ferramentas para a complementariedade de uns para com os
outros. Você não deve fazer tudo, mas ensinar a fazer, como fazer e porque se
faz. (Igreja, corpo de Cristo e seus membros, I Co 12).
Podemos discutir as principais funções do pastor junto à comunidade e,
ante as enormes pressões para que o pastor seja o recordista de visitas, o
eloquente perfeito e demais funções: Ensinar, pregar, apascentar (sentido de
orientar, guiar, aconselhar) e ser exemplo estão entre as principais e
normativas.
Sim, estou tomando partido! A Escritura enfatiza, prioriza, normatiza o
ser sobre o fazer. Porque aquele que faz sem ser é hipócrita, falso, fake-news!
Tiago diz que engana-se a si mesmo (Tg 1.23)
“Todo aquele pois que ouve as minhas palavras e as pratica (ser
obediente), os compararei ao homem prudente que (fazer) construiu sua casa
sobre a rocha e vieram os ataques de cima, de baixo e ao meio, de todos os
lados...” Mt 7.24ss O Sermão do Monte, Makarioi, (= gr. felizes, felicíssimos,
mais que felizes ou felicissíssimos – superlativo: Os que são pobres de
espírito, os mansos, os misericordiosos... Mt 5 As Beatitudes do NT.
O que você acha mais difícil, pastor: Treinar, elevar à condição de bom
caráter um competente líder ou aprimorar um bom caráter à condição de alta
performance? O vocacionado ao ministério já deve vir ou ser apresentado para um
concílio com o perfil requerido pelas Escrituras: Ser. Podemos aprimorar as
competências e habilidades de um indivíduo cujo caráter é reconhecido pela
igreja e, num futuro ele tornar-se um líder performático. Mas... Tentar
compensar a piedade de um ativista, líder de eventos, mobilizador e produtor de
programas... Confessemos: É tarefa inglória. Portanto, a piedade, a devoção e
submissão ao Senhor da obra e ao seu líder deve gerar a expectativa de que este
aspirante seja num futuro breve, um bom pastor.
Modelos de vivência comunitária baseados no ativismo tem levado muitos
ambientes a experimentar fadiga. Eventos que sucedem eventos sem
necessariamente atingir resultados práticos para a edificação comunitária.
Inclusive ocupando tempo em demasia, apartando famílias que vê seus membros
sequestrados pelas engrenagens religiosas promovendo culpas, separações e
desvios, quando não, aumentando as fileiras daqueles que se decidem
desigrejados.
“Pelos frutos bons se conhecem as árvores boas”. Significa que a ação da
igreja do mundo deve ser prática, como “sal da terra e luz do mundo”. Significa
que deve fazer e viver as missões, o ide pelo mundo proclamando a boa nova
(fazer). Sim, sem todavia negligenciar seu caráter santo e consagrado (ser):
“...Eu vos escolhí a vós e vos nomeei, para que vades e deis frutos, e o vosso
fruto permaneça” (Jo 15.16). Tiago 1.27: “A religião pura e imaculada para com
Deus e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e
guardar-se da corrupção do mundo.”
O país está clamando por ética na política. Eu proponho que esta ética
reinvidicada seja para os religiosos, sobretudo os ministros. Que haja ética –
transparência, santidade e retidão - em nossas relações familiares e
profissionais. Isso é o que resgatará a credibilidade numa sociedade líquida,
cujas instituições são efêmera e não desperta o sentimento de pertença nas
pessoas (Bauman).
Concluo com uma fabula sobre sobre Linkedin
Para: Jesus, Filho de Jose e Maria
Oficina da Carpintaria, 77 - Nazaré – Judéia
Prezado Rabi,
Obrigado por enviar-nos o "Curriculum Vitae" dos doze homens que
escolheu para ocupar posições de destaque e gerenciamento em sua nova
empreitada.
Todos já foram submetidos aos nossos testes de recrutamento e seleção.
Marcamos, para cada um deles, entrevistas pessoais com o nosso psicólogo e com
o encarregado dos testes vocacionais, cujos resultados registramos em nossos
HDs para eventuais consultas futuras. Anexo, encaminhamos os perfis.
Recomendamos minucioso exame individual.
Como parte de nossos serviços e para sua melhor orientação, tecemos alguns
comentários gerais, que resultam dos pareceres de nosso pessoal, da mesma forma
que um auditor faz declarações generalizadas sobre suas conclusões:
Nossa equipe deu opinião que falta na maioria de seus escolhidos,
experiência, escolaridade e aptidão vocacional para o tipo de empreendimento a
que o senhor se propõe.
Acha também que não possuem a desejável noção de equipe, para a execução da
tarefa.
Todos deixam a desejar no quesito "cuidados e aparência pessoal".
Recomendamos que continuasse a procurar pessoas com experiência em
gerenciamento e que apresentem capacidade comprovada.
Simão Pedro é emocionalmente instável, sujeito a explosões intempestivas.
André não possui absolutamente nenhuma capacidade de liderança.
Os dois irmãos, Tiago e João, filhos de Zebedeu, colocam o interesse pessoal
acima da lealdade à empresa.
João é uma pessoa excessivamente humilde, dificilmente conseguira demonstrar
autoridade sobre outras pessoas.
Sentimos informar que Mateus faz parte da lista negra do Departamento da
Fazenda de Jerusalém.
Tiago, filho de Alfeu, bem como Tadeu, possuem, definitivamente, inclinações
radicais. Ambos atingiram uma elevada marca na escala maníaco-depressiva.
Tomé demonstra uma atitude de dúvida que poderia abalar o estado de espírito do
grupo.
Um dos candidatos porem demonstra um grande potencial. É um homem capacitado e
cheio de recursos. Tem facilidade de comunicação, mente aguçada para os
negócios, bom trânsito entre pessoas de alta posição. E altamente motivado,
ambicioso e responsável. Recomendamos Judas Iscariotes como seu Ministro das
Finanças e braço-direito.
Os demais perfis são auto explanatórios.
Desejamos-lhe sucesso em seu novo empreendimento.
Atenciosamente.
Equipe de Recrutamento e Seleção dos Recursos Humanos Jordão
Jerusalém – Palestina
Não é possível equilibrar o ser e o fazer. Mas, ao reconhecermos as
tensões desta "gangorra", enfatizemos, priorizamos a conduta, a
ética. “Procurando pessoas para contratar, você busca três qualidades:
Integridade, inteligência, e energia. E se elas não têm a primeira, as outras
duas matarão você” - Warren Buffett
Agradeço a honrosa oportunidade.
Diante disso, qual será a nossa oração ?
ResponderExcluirDura realidade. Um abraço pastor e colega, Deus o abençoe.
ResponderExcluirAlpinista , você é o cara,que discernimento espantoso uma verdadeira radiografia do momento eclesiológico que vivemos como batistas e evangélicos no panorama mundial.
ResponderExcluirParabéns , meu amigo .