"EQUILIBRANDO O SER E O FAZER"

Conferência apresentada em 11|07|18 na OPBB|SP durante a 110a. CBESP:

“Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai.”

O ponto de partida é Cl 3.1o que fizermos, releva o “como” fazer, isto é, sermos agradecidos e no Nome dEle. Como equilibrar o ser e o fazer num mundo de polarizações e extremos? Vivemos numa diversidades de “Fla x Flus” que

tem contaminado as relações humanas. Direita ou esquerda? Cotas para universitários, sim ou não? Aborto, ser a favor ou contra? O mundo e especialmente o país se encontra bifurcado, dicotômico, sob polarizações extremas. Ei-nos trazendo a este fórum as tensões entre o ser e o fazer. O que é mais importante, ser ou fazer? Qual a nossa prioridade? Quando formamos, alinhamos e aprimoramos equipes, o que enfatizamos – a conduta, o caráter, o “ser” ou, cobramos resultados, performance, produtividade???

E me impús daquilo que considero um tripé, que aumenta ainda mais esta tensão: O sentir. Deixemos o sentir de lado e exploremos as tensões diárias entre o ser e o fazer.

Introdução Uma sociedade capitalista como a nossa prioriza, celebra, enfatiza a produtividade. E vivemos sob as pressões das expectativas. Algumas expressões populares denunciam o valor da atividade, da produtividade e do ativismo:

- O político que “Rouba, mas faz” |“É pau pra toda a obra” |“Ele dá o sangue pela empresa”, ou igreja | “Veste a camisa” |Esse é do tipo “Mão-na-Massa” | O “Ponta-firme” | O “Quebra-galhos” | “O Bombril”, 1001 utilidades |O “Carregador de Piano” | “O Professor Pardal” | O “Faz-Tudo” | A “bucha de canhão” | O “Curinga”, atua em muitas posições | É ele quem cobra o escanteio, corre pra cabecear, faz o gol e ele mesmo já está na torcida pra comemorar...| Ele consegue “assobiar e chupa cana” | “Fulano pinta o 7”

Todas estas expressões ensejam o fazer, o construir, a aparência do trabalhador, as credenciais do operário que enche nossos olhos. É isso que a gente busca e aprecia: O trabalho visto e aprovado. Sabe aquele pastor o visitador em rodízio, seu carro é a ambulância da igreja... Não tira férias...

É disso que temos de lidar: Se estes aspectos tão consagrados no imaginário popular são mesmo o protótipo da excelência, se apenas e tão somente profissional executor, o construtor, o fazedor aprovado pelo que faz e realiza se isso não tem sido trazido para nossa práxis no pastoreio.

A pergunta: Não temos desequilibrado o fazer e o ser a partir da contaminação a que somos afetadas sob os valores do capitalismo, cujos resultados são dados em números, conquistas, ganhos, aumentos, crescimento...???

Algumas afirmações sobre as fronteiras que nos desafiam nesta tensão entre. Considero que ignorá-las ou subestimá-las oferecem risco de distorcer, deformar ou até mesmo “frankestenizar” nossos ministérios: Por isso proponho, CINCO AFIRMAÇÕES SOBRE ESTA TENSÃO:

1ª. Afirmação: A Produtividade não deve ser o único ou o mais importante indicativo de avaliação

Há uma perigosa atração pelos diversos papeis que um pastor possa desempenhar. Em muitas comunidades há expectativas para que o obreiro seja...

O pastor-pedreiro, gerente de obras

O pastor-Rh, o estrategista de equipes

O pastor-coach, o líder motivador

O pastor-4.0, o inteligente à frente de seu tempo

O pastor-progressista, desbravador de obras sociais

O pastor-CEO, o bem-sucedido executivo do ministério-modelo

O “pastor-jurássico”, o “guardião” dos baptistas, o protetor do Cantor Cristão e arquivo-vivo dos pioneiros

O pastor-McGayver, o solucionador de ministérios problemáticos (se a igreja  estiver na zona de rebaixamento do Brasileirão - ou à beira de fechar as portas, chame o Pr. McGayver!)

O pastor-especialista, graduado, pós-graduado, doutorado, pós-doutorado,... Carreirista na estrutura denominacional.

O pastor Clark Kent, o super-homem, o anfíbio – atua em todas as frentes

Mas... O pastor na essência da palavra, lugar-comum, o a-pas-cen-ta-dor, pastor que apascenta... Não é devidamente reconhecido e sua missão é raramente destacada. O que no futebol romântico dizíamos ser o “zagueiro-zagueiro”. Pastor que apascenta é a discrição do “ser pastor” no Novo Testamento.

E, nisto, temos sido vitimados por engrenagens que levam o obreiro a ser tudo, fazer tudo – por mais estranho que sejam as diversas incubências a ele atribuídas, menos aquilo para o qual ele foi chamado: Apascentar! E, de tudo que nos fará cansar, de tudo o que nos fará desanimar, se deprimir, há de tudo – gerir como empresa, presidir como executivo... Menos, apascentar!

Ao viver as tensões entre o ser com o fazer, não devemos abrir mão de sermos pastores, porque fomos chamados para sermos pastores: “Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar:


“Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; Nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho...” I Pe 5.1-4

Por mais diversas que sejam as demandas dos ministros, o apascentamento resume a descrição mais precisa do que seja pastorear!

2ª. Afirmação: Devemos resgatar da Escritura as bases para relação entre o ser e o fazer

A) Focalizemos o Mestre Jesus na inauguração de seu ministério público: “E subiu ao monte, e chamou para si os que ele quis; e vieram a ele.
E nomeou doze para que estivessem com ele e os mandasse a pregar,
E para que tivessem o poder de curar as enfermidades e expulsar os demônios...” Marcos 3.13-19 Jesus, nosso modelo, referência e exemplo primeiro chama (proskaleo = chamar para si); os nomeia para que estivessem com Ele. Primeiro ser – a convivência com o Mestre, depois, e somente depois, a produtividade, a tarefa, o fazer!

B) No nascedouro da igreja, a Grande Comissão, diz Atos 1.8: “Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra". O texto descreve uma condição: “Serão minhas testemunhas”. O ser testemunha é condição antecedente, prévia, à tarefa; Ser testemunha antes de evangelizar! Ser antes de fazer.

C) O diaconato surge devido às necessidades circunstanciais de uma igreja em crescimento quando os Diáconos são consagrados: “Naqueles dias, crescendo o número de discípulos, os judeus de fala grega entre eles queixaram-se dos judeus de fala hebraica, porque suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária de alimento. Por isso os Doze reuniram todos os discípulos e disseram: "Não é certo negligenciarmos o ministério da palavra de Deus, a fim de servir às mesas.

Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos dedicaremos à oração e ao ministério da palavra".
Tal proposta agradou a todos. Então escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, além de Filipe, Prócoro, Nicanor, Timom, Pármenas e Nicolau, um convertido ao judaísmo, proveniente de Antioquia. Apresentaram esses homens aos apóstolos, os quais oraram e lhes impuseram as mãos.” Atos 6.1-6 Para suprir a demanda, atentemos que antes da tarefa há as qualificações: O ser antes do fazer.

D) As Epístolas Pastorais pretendem a tarefa do pastoreio com excelência, mas, ocupa-se em caracterizar, personalizar a conduta, descrevendo o perfil desejável e aprovado por Deus: “Esta é uma palavra fiel: Se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível... E também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis...” I Tm 3.1ss

O “convém, pois, que o bispo seja” é o preâmbulo para enfatizar o “ser” pastor. Paulo a Timóteo prioriza a conduta, o caráter, a piedade. Podemos ressaltar como ênfases do ministério pastoral no Novo Testamento: Portanto, as orientações bíblicas sobre o Ministério Pastoral relevam o ser sobre o fazer. Podemos concluir:

O pastor faz porque é; Ele não é porque faz.

Se não for, o pastor não está autorizado a fazer! Se não for íntegro, honesto, piedoso, o pastor não está apto para liderar, pregar, ensinar e aconselhar. Sim, quando se refere ao Ministério pastoral o “ser pastor” está acima do dirigir igreja, ministrar Ceia e batizar.

Num tempo de diversas demandas, e estamos discutindo nossos limites ante tantos pastores cansados, desanimados, depressivos, frustrados, Paulo adverte ao ministro sobre o cuidar-se (ser) para depois ministrar (fazer): “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto,...” I Timóteo 4:16

3ª. Afirmação: O Crescimento não deve ser um fim em si mesmo

Conhecemos pastores que, diante das exigências de que a igreja cresça, são verdadeiros bólidos, migrando de modelo a modelo, ano a ano. Como no diálogo a seguir:

- E aí amigo, o que o levou a mudar da Rede Ministerial para o G12?

- MDA? Passei para o DNA ano passado, mas agora estou terminando os 40 dias com Propósitos...

Convivo com líderes “camaleões” – mudam de modelos com a velocidade de um meteoro para corresponder aos anseios de sua comunidade. Esta, a comunidade, deve viver a confusa. É como aquele indivíduo que descobriu a FOREVER como o grande negócio, passou a contagiar todos os seus amigos; aí ele descobre a MARY KAY e, no carrão cor-de-rosa sai dizendo que a vida é outra com a... HINODE!

A pretexto da aplicação de um modelo que assegure|acelere o crescimento da igreja submete as convicções doutrinárias a riscos; distancia a igreja de sua associação e, o próprio ministro, aparta-se da comunhão entre seus pares, da mesma fé e desordem. E, graduado na sub-denominação da grife que agora defende, ostentará números de seu império. Afinal, deve prestar contas do seu ministério. Tem que trabalhar, produzir, crescer!

Sob efeito desta alucinante realidade, vemos a escandalosa retração da plantação de igrejas; explico: Aquele percurso ponto de pregação, congregação e inevitável plantação da igreja foi substituído pelas “extensões”. Grupos autossustentáveis, já no estágio de organização em comunidade autônoma, tornam-se “extensões” da igreja original. Inflando números da igreja original e atestando o ministério que “está bombando”.

É a estratégia para assegurar o “sucesso” (com aspas) em números. Antigamente compartilhávamos sobre a igreja que organizava 1, 2, 3 “filhas”. Hoje o sucesso implica em adesões ao ministério local: Éramos 100, hoje somos 250 e nossa meta é 500! – a cada ano a indústria das fórmulas de crescimento eclesiástico aplica práticas de marketing multinível, truques motivacionais e líderes que mais se parecem executivos em contato com clientes... É o mercado, a cultura do fazer sobre o ser!

Sobre o pastor pesa a pressão para fazer a igreja crescer. É a produtividade como sintoma ou fator único para medir ou aferir o “sucesso” (em aspas) do ministério. O pastor da Idade Mídia, terá que ser uma sub-celebridade: Gravar oráculos eletrônicos, vídeos, alimentar o canal do Youtub, fazer as lives das pregações, sentenças no Whats ou Telegran etc. E nessa atração narcísica da “máquina de roubar descanso”, tempo,...

Entregamos parte considerável do nosso tempo. A saúde é sugada, a agenda impõe desumana rotina.

Discurso completamente intoxicado por um Capitalismo (ou “Capetalismo”) de resultados. É isso que encanta, cativa e mantém a patuléia. Uma meta obsessiva do ministro, tornando-o um alucinado por estratégias que o farão desviar de seu papel descrito como apascentador do rebanho. E, muitos, pelo crescimento a todo o custo, têm sucumbido à tentação dos fins que justificam os meios: Rasgam o Código de Ética, recebem facções de “irmãos metralhas”, admite-se em Assembléia indivíduos que, sabemos o que fizeram no verão passado.

E, para segurar o cliente, digo, membro, terá de fazer da paróquia uma indústria produtora de eventos. Eventos em escala industrial: Para todas as faixas-etárias, quase todos os dias da semana... Há igrejas que oferecem cardápios: Segunda da libertação, terça da família, quarta do desespero etc.

4ª. Afirmação: Precisamos Rediscutir os Parâmetros da Meritocracia

Não é incomum que num processo de sucessão o pastor seja aprovado pela igreja sob o critério da pregação, como se a pregação fosse tudo o que implica o ministério. Mas é a homilia pública que “testa” (aspas) o candidato... Também não é incomum que, apesar de, aparentemente bom pregador, muitos ministérios curtos denunciam líderes instáveis emocionalmente, inábeis em conduzir aconselhamentos e até mesmo incoerentes ou desorganizados financeiramente.

Num mundo pictórico - das imagens - como o nosso, “imagem é tudo!”. Joio e  trigo (Mt 13.24ss) crescerão juntos por conta da aparência confusa e similar entre ambos. Mas os que os diferencia são suas naturezas intra, in, under; o que não se vê!

Um das mais enfáticas e surpreendentes advertências nesta relação se encontra nas palavras do Mestre, sobre aqueles que naquele dia apresentarão uma inesgotável lista de sinais, prodígios e maravilhas – algo vistoso e atraente em nossos dias: “Senhor, em teu nome não fomos produtivos? Olha nossa conta no lindkin, Facebook, Istagran, Tweeter - profetizamos, expulsamos demônios, realizamos muitos milagres, obras sociais, vídeos e lives das pregações... É a aprovação através de resultados palpáveis, constatáveis, exibidos muitas vezes em números e imagens! O fazer como autenticidade de nossa identificação com o Senhorio do Mestre. Mas... Ele vai na contraprova. Ele vai no indício mais contundente que, todavia, não se mede através de números, exposição de gráficos por ser a natureza da vocação. Como medir um ministério próspero? Em teu nome não abri 1 dúzia de congregações? Em teu nome não exerci 4, 5 mandatos na Denominação? Em teu nome não me tornei o “Midas na Mídia”? Mt 7.22 Jesus dá uma pista: “Não vos conheço”. Aqui o Mestre implica uma relação de intimidade e identificação cujas provas não necessariamente são vistas e julgadas. Como aferir a espiritualidade piedosa? É o ser, não é o fazer.

Se, por outro lado, um obreiro após uma experiência em dada igreja é expressa através de números, por outra, um vocacionado que vive sob reconhecida integridade, mas que não é conhecido por suas estratégias terá suas chances de nova oportunidade reduzidas. Gostaria de não afirmar isso. (Obreiros que atravessam uma década em rara integridade não são tão celebrados como o obreiro que pegou aquela congregação com 10 membros e, em 10 anos, entregou-a com 300 membros).

Na avaliação do mérito ou, meritocracia, cabe uma solene advertência: Podemos treinar pessoas para realizar melhores serviços; mas nem sempre podemos esculpir nelas um caráter aprovado. Indivíduos aptos, íntegros, podem ser melhores realizadores se treinados, desenvolvidos e aprimorados; indivíduos fazedores, produtores, contudo, poderão camuflar ou esconder má índole!

Cena comum: Candidatos ao ministério são apresentados como líder realizador, mobilizador e ativista. Ser conduzido ao Concílio é como se fosse um “prêmio” (aspas). Por causa de suas realizações, será consagrado! A meritocracia não alinhada à piedade, tem produzido líderes com problemas sérios de integridade que conspiram contra a honra e a saúde de comunidades Brasil a dentro.

Precisamos ser mais seletivos, mais garimpeiros, melhores peritos em identificar os sintomas da vocação que não necessariamente vem sob os signos da eloquência aparente, do ativismo comunitário, mas com a devoção e piedade. Se não nos ocupamos em consagrar apascentadores - não executivos, CEOs ou motivadores de grupos – o número de consagrados ao Ministério Pastoral tenderá à diminuir mas, para nossa alegria, haverá melhor qualidade.

5ª. Afirmação: A “religiosidade de resultados” conspira contra uma espiritualidade saudável.

O farisaísmo de ontem (e de hoje) que se expressa através de padrões de religiosidade, que demarca fronteiras no sagrado, que descreve rituais externos e legalistas a aprisionar indivíduos, impondo-lhe repetições vazias, recebeu do Mestre de Nazaré suas mais contundentes críticas!

Os fariseus jogavam pra torcida. Religião pra inglês ver. O tripé da religião judaica Orar-Jejuar-Dar esmolas passou a ser o referencial da aprovação do religioso de grife, de vitrine. Era preciso fazer, mostrar, teatralizar a religiosidade. Era preciso tornar público, denunciar para receber a aprovação. Esse é o perigo da “religiosidade de resultados”: A encenação. Somos seduzidos pela ditadura das imagens, do marketing religioso.

O Farisaísmo antecipa em séculos o que o filósofo francês Guy Debord (1931-1994) descreve como “Sociedade do Espetáculo”.

“Nunca a tirania das imagens e a submissão alienante ao império da mídia foram tão fortes como agora. Nunca os profissionais do espetáculo tiveram tanto poder: invadiram todas as fronteiras e conquistaram todos os domínios – da arte à economia, da vida cotidiana à política... O espetáculo – diz Debord – consiste na multiplicação de ícones e imagens, principalmente através dos meios de comunicação de massa, mas também dos rituais políticos, religiosos e hábitos de consumo, de tudo aquilo que falta à vida real do homem comum: Celebridades, atores, políticos, personalidades, gurus, mensagens publicitárias – tudo transmite uma sensação de permanente aventura, felicidade, grandiosidade e ousadia. O espetáculo é a aparência que confere integridade e sentido a uma sociedade esfacelada e dividida. É a forma mais elaborada de uma sociedade que desenvolveu ao extremo o ‘fetichismo da mercadoria’ (felicidade identifica-se a consumo). Os meios de comunicação de massa – diz Debord – são apenas ‘a manifestação superficial mais esmagadora da sociedade do espetáculo, que faz do indivíduo um ser infeliz, anônimo e solitário em meio à massa de consumidores’’.

Multiplicam-se as transmissões de rituais que, em sã consciência, deveria ser a essência da intimidade, do privado. Tudo é público, contrariando Saint Exupery, de que “o essencial é invisível aos olhos”.

No Séc I, Jesus faz o contraponto à coreografia religiosa; porque a produtividade aparente conspira contra a espiritualidade saudável. Mas aqui edito as palavras do Mestre da Galiléia, em paráfrase de Mateus capítulo 6:

Sobre as esmolas: “Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, numa live via Facebook, para serdes vistos on line; aliás, não tereis curtidas e comentários do vosso Pai, que está nos céus.

Quando, pois, deres esmola, não publique no Facebook, Istagram ou Tweeter, como fazem os atores, as subcelebridades da religião da “Infernet”, para atrair seguidores em suas redes. Em verdade vos digo que já receberam suas curtidas e compartilhamentos. Mas, quando tu deres esmola, faça-o na Minha intimidade: Eu sou sua plateia e audiência, e isso basta!

Sobre a oração: “E, quando orares, não sejais como os pastores pop-stars; pois se comprazem em orar em em suas sedes e transmitem ao vivo, pra ganhar audiência e impressionar... Em verdade vos digo que já receberam a sua audiência humana. Mas tu, quando orares, sai do Whats App e Telegran, desligue o celular ou tablet... E ora comigo e para mim, na minha intimidade...”

Sobre o Jejum: “Faze do jejum um ato de sua intimidade para comigo. Não use o palco eletrônico pra propagar sua devoção. Você deve fazer isso somente para Mim. Eu sou seu Expectador; eu Sou seu índice de Ibope. Não, você não está no Show da Fé ou no Fantástico!”

Os fariseus foram denunciados como “sepulcros caiados com duas demãos de Suvinil.” Pra Jesus não é o marketing. O “como se faz” é tão importante quanto o “que se faz”.

Cremos no Deus do Céu e não no “Deus do Selfie”. Jesus comparou a Viúva que entregou tudo, com os religiosos que davam as sobras. Em jogo, em Lucas 21:1-4) as tensões sobre o “como se faz” = ser, é tão importante como “o que se faz” (fazer).

Cuidemos para que não alteremos ou adulteremos nossos espíritos e aspirações sob a atenção das câmeras dos celulares! Cuidemos para que a era do Big Brother – expressão do escritor inglês George Orwel em seu livro “1984”, que previa uma sociedade completamente vigiada, espiada e sob controle, profetizando nosso tempo, não produza um narcisismo e estimule o cinismo fatal a sabotar nossa espiritualidade para com Deus e para com nossos irmãos na fé.

Porque as aparências enganam.

Porque nem tudo o que reluz é ouro.

Porque por fora poderá aparentar a bela viola, mas por dentro, esconder o pão bolorento.

Porque o Denorex tinha gosto, cheiro e parecia remédio...

Porque ao sobrepor a coreografia farisaica da produtividade, do ativismo religioso, do espetáculo da fé ao espírito contrito da conduta, da ética, estamos viralizando a “espiritualidade Fake News”.

Jesus advertiu que antes de ir levar a oferta ao altar (fazer), é imprescindível que estejamos com as relações saudáveis (ser): “Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,... Interrrompe a marcha para o culto. Mt 5.23,24 Para o Sagrado não é a conveniência da coisa entregue, mas a legitimação da relação fraternal.

Corinto? Muita ebulição, produtividade, ativismo. Aparentemente, a igreja mais prolífica do Novo Testamento.

Nada é mais representativo da religiosidade de resultados do que a proliferação dos dons tanto no caso original quanto na experiência pentecostal. Na I e II cartas aos Corintios, capítulos 13 e 14, Paulo vem na contramão daquele congestionamento ou desfile de dons: Exercer um ministério próspero, exercer funções na denominação, produzir mensagens poderosas nas diversas plataformas e mídias,...

Sem o essencial – o amor – tudo é ativismo vazio e coreografia religiosa sem sentido! Porque o sintoma da espiritualidade que o Senhor aprova é o ser: Paciente, bondoso, não invejoso, não soberbo ou orgulhoso; não egoísta, não irascível, perdoador...

Para uma síntese paulina, não é o fazer, é o ser!

Portanto, ao afirmar que: A Produtividade não deve ser o único ou o mais importante indicativo de avaliação; Que devemos resgatar da Escritura as bases para a equilibração entre o ser e o fazer; que o crescimento não deve ser um fim em si mesmo; e a Meritocracia não deve fazer a integridade pelo ativismo e que a “religiosidade de resultados” conspira contra uma espiritualidade saudável...

Então, o que fazer? Apresento alguns apontamentos sobre a tensão entre o ser e o fazer, que temos que lidar diariamente

1)Há expectativas e cobranças para que você seja o faz-tudo, acima de tudo. Então nós, pastores, devemos ensinar sobre a: A diversidade do Corpo de Cristo. Os dons são ferramentas para a complementariedade de uns para com os outros. Você não deve fazer tudo, mas ensinar a fazer, como fazer e porque se faz. (Igreja, corpo de Cristo e seus membros, I Co 12).

Podemos discutir as principais funções do pastor junto à comunidade e, ante as enormes pressões para que o pastor seja o recordista de visitas, o eloquente perfeito e demais funções: Ensinar, pregar, apascentar (sentido de orientar, guiar, aconselhar) e ser exemplo estão entre as principais e normativas.

Sim, estou tomando partido! A Escritura enfatiza, prioriza, normatiza o ser sobre o fazer. Porque aquele que faz sem ser é hipócrita, falso, fake-news! Tiago diz que engana-se a si mesmo (Tg 1.23)

“Todo aquele pois que ouve as minhas palavras e as pratica (ser obediente), os compararei ao homem prudente que (fazer) construiu sua casa sobre a rocha e vieram os ataques de cima, de baixo e ao meio, de todos os lados...” Mt 7.24ss O Sermão do Monte, Makarioi, (= gr. felizes, felicíssimos, mais que felizes ou felicissíssimos – superlativo: Os que são pobres de espírito, os mansos, os misericordiosos... Mt 5 As Beatitudes do NT.

O que você acha mais difícil, pastor: Treinar, elevar à condição de bom caráter um competente líder ou aprimorar um bom caráter à condição de alta performance? O vocacionado ao ministério já deve vir ou ser apresentado para um concílio com o perfil requerido pelas Escrituras: Ser. Podemos aprimorar as competências e habilidades de um indivíduo cujo caráter é reconhecido pela igreja e, num futuro ele tornar-se um líder performático. Mas... Tentar compensar a piedade de um ativista, líder de eventos, mobilizador e produtor de programas... Confessemos: É tarefa inglória. Portanto, a piedade, a devoção e submissão ao Senhor da obra e ao seu líder deve gerar a expectativa de que este aspirante seja num futuro breve, um bom pastor.

Modelos de vivência comunitária baseados no ativismo tem levado muitos ambientes a experimentar fadiga. Eventos que sucedem eventos sem necessariamente atingir resultados práticos para a edificação comunitária. Inclusive ocupando tempo em demasia, apartando famílias que vê seus membros sequestrados pelas engrenagens religiosas promovendo culpas, separações e desvios, quando não, aumentando as fileiras daqueles que se decidem desigrejados.

“Pelos frutos bons se conhecem as árvores boas”. Significa que a ação da igreja do mundo deve ser prática, como “sal da terra e luz do mundo”. Significa que deve fazer e viver as missões, o ide pelo mundo proclamando a boa nova (fazer). Sim, sem todavia negligenciar seu caráter santo e consagrado (ser): “...Eu vos escolhí a vós e vos nomeei, para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça” (Jo 15.16). Tiago 1.27: “A religião pura e imaculada para com Deus e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo.”

O país está clamando por ética na política. Eu proponho que esta ética reinvidicada seja para os religiosos, sobretudo os ministros. Que haja ética – transparência, santidade e retidão - em nossas relações familiares e profissionais. Isso é o que resgatará a credibilidade numa sociedade líquida, cujas instituições são efêmera e não desperta o sentimento de pertença nas pessoas (Bauman).

Concluo com uma fabula sobre sobre Linkedin
Para: Jesus, Filho de Jose e Maria
Oficina da Carpintaria, 77 - Nazaré – Judéia

Prezado Rabi,
Obrigado por enviar-nos o "Curriculum Vitae" dos doze homens que escolheu para ocupar posições de destaque e gerenciamento em sua nova empreitada.
Todos já foram submetidos aos nossos testes de recrutamento e seleção. Marcamos, para cada um deles, entrevistas pessoais com o nosso psicólogo e com o encarregado dos testes vocacionais, cujos resultados registramos em nossos HDs para eventuais consultas futuras. Anexo, encaminhamos os perfis.

Recomendamos minucioso exame individual.
Como parte de nossos serviços e para sua melhor orientação, tecemos alguns comentários gerais, que resultam dos pareceres de nosso pessoal, da mesma forma que um auditor faz declarações generalizadas sobre suas conclusões:

Nossa equipe deu opinião que falta na maioria de seus escolhidos, experiência, escolaridade e aptidão vocacional para o tipo de empreendimento a que o senhor se propõe.
Acha também que não possuem a desejável noção de equipe, para a execução da tarefa.
Todos deixam a desejar no quesito "cuidados e aparência pessoal".
Recomendamos que continuasse a procurar pessoas com experiência em gerenciamento e que apresentem capacidade comprovada.
Simão Pedro é emocionalmente instável, sujeito a explosões intempestivas.
André não possui absolutamente nenhuma capacidade de liderança.
Os dois irmãos, Tiago e João, filhos de Zebedeu, colocam o interesse pessoal acima da lealdade à empresa.
João é uma pessoa excessivamente humilde, dificilmente conseguira demonstrar autoridade sobre outras pessoas.
Sentimos informar que Mateus faz parte da lista negra do Departamento da Fazenda de Jerusalém.
Tiago, filho de Alfeu, bem como Tadeu, possuem, definitivamente, inclinações radicais. Ambos atingiram uma elevada marca na escala maníaco-depressiva.
Tomé demonstra uma atitude de dúvida que poderia abalar o estado de espírito do grupo.
Um dos candidatos porem demonstra um grande potencial. É um homem capacitado e cheio de recursos. Tem facilidade de comunicação, mente aguçada para os negócios, bom trânsito entre pessoas de alta posição. E altamente motivado, ambicioso e responsável. Recomendamos Judas Iscariotes como seu Ministro das Finanças e braço-direito.
Os demais perfis são auto explanatórios.
Desejamos-lhe sucesso em seu novo empreendimento.

Atenciosamente.

Equipe de Recrutamento e Seleção dos Recursos Humanos Jordão
Jerusalém – Palestina

Não é possível equilibrar o ser e o fazer. Mas, ao reconhecermos as tensões desta "gangorra", enfatizemos, priorizamos a conduta, a ética. “Procurando pessoas para contratar, você busca três qualidades: Integridade, inteligência, e energia. E se elas não têm a primeira, as outras duas matarão você” - Warren Buffett

Agradeço a honrosa oportunidade.




Comentários

  1. Diante disso, qual será a nossa oração ?

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  2. Dura realidade. Um abraço pastor e colega, Deus o abençoe.

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  3. Alpinista , você é o cara,que discernimento espantoso uma verdadeira radiografia do momento eclesiológico que vivemos como batistas e evangélicos no panorama mundial.
    Parabéns , meu amigo .

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