Não precisa ser fã do Coldplay ou nutrir a mínima simpatia, quaisquer que seja a sua tribo – rock, pop, rock não-pop, (até mesmo "gospel" - Chris Martin nasceu de família anglicana ainda que oscile hoje - veja a belíssima Kil Kingdon Come)... Mas é da banda inglesa de “rock alternativo” a coroa de sua carreira de mais de duas décadas e 7 discos: "Viva la Vida". Festejo aqui o 10º. aniversário desta icônica peça musical lançada em junho de 2008...
Vamos aos seus atributos: O arranjo... Não dá pra ficar indiferente à uma sessão de cordas - celos, violinos, sobre a percussão ao fundo, tambores em destaque; até que uma orquestra assuma o ambiente sonoro sob as baladas dum sino: O que é|foi aquilo???
O título da música em espanhol Viva La Vida vem da obra do pintor romancista francês Ferdinand Victor Eugène Delacroix (1798 – 1863). “A Liberdade Guiando o Povo” é cara ao 4º. Álbum “Viva la Vida or Death and All His Friends” (algo como “tenha uma vida longa ou morte a todos os seus amigos”) de 2008. Banda inglesa, gravura francesa e titulo espanhol. Global, não?
E o que Chris Martin, Guy Berryman, Jonny Buckland e Will
Champion pretendiam com um texto tão rico?
Há quem veja a evocação do Sagrado: “Pillars of Sand” refere-se à Parábola
dos “Dois Fundamentos” (Mt 6.47 ss). "I know Saint Peter
won't call my name" alude à confissão do Apóstolo
Pedro. "Seas would rise when I gave the word", é Moisés abrindo
o Mar. E “...My head upon a silver plate” é sobre a cabeça do Batista numa
bandeja, pedida por Salomé.
Mas... Como acontece em obras do gênero (dos gênios!), podemos
interpretá-la por diversos ângulos:
Provavelmente comemora a Revolução Francesa, a "virada" na
história humana em direção ao iluminismo, à liberdade e democracia.
Muito mais provável que a letra se refira à queda do absolutismo, ao fim da
tirania. E embora o fim do domínio temporal da igreja esteja envolvido, a
música não trata de dogmas religiosas, mas sobre a antiga nobreza e os reis
tiranos:
"Eu costumava reger o mundo" (os reis absolutistas).
"mares se agitavam ao meu comando" (as armadas, navios, quando
saiam à guerra)
"agora pela manhã me arrasto sozinho, varrendo as ruas que antes eram
minhas" (famílias reais perderam tudo o que tinham após a revolução).
"O velho rei está morto!", o dito popular que aludia à
hereditariedade do trono, logo após, seu herdeiro assumia (“Vida longa ao
rei!”).
E por aí vai. Podemos lê-la sob a ótica da história. Pode ser sobre nosso legado. Pode ser sobre um rei que perdeu o reinado. Pode ser sobre voltas por cima. Sobre uma revolução. Enfim...
É sobre quando achávamos que teríamos "o" controle... É sobre
o poder ou, melhor, o não-poder: Viver sem os sinos de Jerusalém a tocar sobre
nós ou, os corais da cavalaria romana cantando, quando nos deparamos com a dor
de não vencer sempre... Sobre um motivo que não se consegue explicar - o
desemprego, a doença, a traição, o ficar "sem chão". Ah, lance seu
olhar sobre esse “pop barroco” e tire suas conclusões: É pura psicanálise!
Ok, se você não curte, se o Cold é pop-rock aguado, sei lá. Mas salva a
Viva. Estudo publicado em 2015 (El País) lista as 20 músicas perfeitas
para se levantar (Wake Up) ao amanhecer. David M. Greenberg, da Universidade de
Cambridge (Reino Unido) e o Spotify buscaram nas músicas características como
uma letra positiva, um aumento gradual do ritmo (sem arranques muito vigorosos)
e um tempo entre 100 a 130 batidas|minuto. E veja quem está no topo: “A ciência
mostra que a música nos afeta de muitas formas, incluindo emocionalmente,
fisiologicamente e no cérebro. A música adequada, como Viva La
Vida do Coldplay com sua energia positiva e seu ímpeto, pode ajudá-lo a se
levantar, obter energia e enfrentar o resto do dia”. O saudoso Oliver Sacks, um
de meus preferidos, navegou sobre o poder da música sobre nosso cérebro em
Alucinações Musicais - Companhia das Letras, 2007. Estudos de casos
surpreendentes de pessoas com distúrbios neurológicos ou perceptivos ligados à
música.
Quando você, Barcelonista, lembrar-se da temporada perfeita (2008-2009), quando Messi e Cia. levou todos os troféu possíveis e a equipe entrava em campo ao som de Viva, sob a batuta de Pep Guardiola... Simplesmente apoteótico!!! Por tudo isso Viva explodiu no Reino Unido, EUA, mundo a fora ou, mundo a dentro se preferir. Os prêmios e o topo das paradas fizeram jus ao que de fato Viva se tornou: Daquelas obras atemporais, obrigatórias em quaisquer listas das “mais mais” ou “top das tops”. By Geraldinho Farias
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