sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

OS FILHOS DE PASTORES E SEUS ESTIGMAS

Alegria indescritível quando compartilhamos de ministros que servem a Deus e a Igreja junto com seus filhos - família unida, de forma voluntária e inteira. Tal realidade,

todavia, tem sido cada vez mais rara ou incomum. A manutenção dos filhos nos caminhos do Senhor e nas engrenagens da igreja tem sido objetos de clamores, angústias e insônias por parte de muitos ministros, além de questionamentos por parte de suas comunidades.

No que se refere este assunto, alisto alguns mitos presentes no imaginário popular sobre os filhos e|ou filhas dos pastores:

- Diz-se que “os filhos dos pastores são como qualquer outro”. Claro que não. Na prática, nega-se a frase. Pronunciá-la à exaustão, já denuncia o fato: Pressões e expectativas sobre os filhos dos ministros são mais intensas.

- Filhos de pastores crescem na igreja, num ambiente santo, logo, isso naturalmente afeta positivamente sua formação. Absolutamente não! O tal “ambiente santo” poderá conspirar contra a boa formação moral e espiritual, justamente devido às pressões e expectativas acima.

- A rigor espera-se que o filho do Pastor seja um “pastorzinho” ou uma miniatura de ministro. Ora, os pais levam o peso de uma criação e educação exemplar, irretocável e impecável.

- A cantilena de que “todos são iguais” é desfeita pela repercussão de um vacilo: Compare uma birra, palavrão proferido ou atraso de um filho de pastor e meça a reação e julgamento das pessoas...

- Pessoas desanimam, desviam-se, vivem crises. Mas espera-se e exige-se que tais experiências humanas não assolem o solo sagrado do Lar Pastoral.

- Ouvindo muitos garotos e garotas nestas condições são comuns apontar as dificuldades de se manter amizades com garotos e garotas da igreja – por conta de opiniões e decisões que fluem da vivência da igreja, tornando-os restritos na liberdade de ser e fazer amigos.

- Ministérios curtos provocam o efeito-dominó: Novo endereço, nova escola, novas conexões de amizade...

Se as comunidades consolidaram esses mitos, é verdade também que muitos ministros sucumbem à uma correspondência que por vezes contribuem para o desencanto de seus filhos com relação à espiritualidade e a igreja:

- Há “paistores” que no ensejo de corresponder às expectativas hercúleas de suas igrejas, impõe regras pesadas – presença, participação, exibição - ou ocupações demasiadas no circuito eclesiástico. Ser “família vitrine” tem seu preço... E muitas vezes resultam no esfriamento quando não no apartamento dos filhos...

- Alguns militam com um envolvimento visceral com a igreja e a Denominação – gestão do tempo – além do ministério, doam tempo à associações, instituições, conselhos... Sonegando-o aos filhos, numa escandalosa confusão de prioridades.

- Somem-se a estas demandas os diversos conflitos vividos por muitos ministros: As implicações do cotidiano da igreja, administração de contendas, até mesmo crises vividas contra o ministério por membros e famílias inteiras ou grupos, chegando a consumir a energia, roubar a alegria e promover o adoecimento do casal quando não de toda a família...

- A própria casa torna-se uma extensão da igreja, onde por vezes comentários depreciativos sobre pessoas, famílias e ministérios são desferidos na presença dos filhos.

Há outras considerações a fazer. Mas o fenômeno é que cada vez mais filhos de ministros estão desencantados com a espiritualidade e crescem à margem das igrejas. Não apenas como indivíduos indiferentes ao universo religioso, mas com divergências contundentes, mágoas não elaboradas, quando não se rebelam contra o sistema, apesar de terem crescido dentro de suas engrenagens.

Necessário afirmar haver comunidades cujas relações saudáveis com a família do pastor constituem pontuais exceções à regra. Verdadeiros achados num cenário sob a hegemonia do que se descreve aqui.

Solidário aos amigos que vivem esse dissabor, cheio de temor, compartilho alguns apontamentos – sabendo que os “dias são trabalhosos”, a começar de nossos lares:

- O desafio da educação dos filhos nos cobre a todos – ministros ou não. O dever de sujeitar, orientar e comprometer os filhos à fé é de todos e todas as famílias.

- Não há profecia determinante de que os ministros terão filhos sob absoluto controle, sempre. Filhos de ministros, como quaisquer outros, são livres para decidirem seus rumos – mesmo que cresçam sob persistente exemplo e educação piedosa de seus pais.

- O ideal – família junta servindo à igreja confronta e contrasta com a real – filhos desviados e desanimados. E muitas vezes a conduta dos juízes implacáveis nas paróquias contribuem para o desânimo. Eis um drama comum dentre famílias de ministros e em quaisquer outras famílias.

- Às vezes o desejável perfil do ministro (I Tm 3.4,5) não acontece por diversas razões – sim, por falta de exemplo, ensino e piedade dos “paistores” também – mas não só; avaliações sem misericórdia, exigências sobrehumanas de que sejam perfeitos e angelicais, tornam a tarefa de pastores ainda mais difíceis. Se exigem, não aceite. Sobretudo daqueles “policiais” da religião que não somam, somente questionam. Transpire sua humanidade. Que sua comunidade seja ensinada por você mesmo sobre uma ilusória “família Doriana”. Chore, confesse e siga em frente!

- Pastores com filhos dependentes químicos, filhos com conflitos existenciais de orientação sexual só para citar alguns dramas, tem minha solidariedade e oração. “Na vida precisaremos da graça de Deus e da compreensão dos homens. A graça de Deus jamais nos faltará”. Se você se encontra nalguns destes dramas, peça ajuda, procure parceiros de oração, ajuda profissional...

- Na medida do possível atente para que sua casa não seja uma sala da paróquia. Demarque e proteja os limites de sua intimidade! Não confunda ou contamine seus afazeres profissionais (de professar, profissão) com seus laços afetivos de família. Toda a blindagem não será suficiente.

- Na medida do possível torne a vivência de seus filhos na igreja prazerosa. Respeite as etapas: De se fazer a decisão por Cristo; de se envolver de forma espontânea nalgum ministério...

- Ouça-os. Forneça-lhes o tempo que for preciso. Abrace-os sempre. Pretenda ser seu melhor amigo. Saiam da rotina – redoma ou capsula que a religião impõe: Passeiem, joguem, se divirtam juntos!

- Não sabemos tudo, não acertamos sempre. Por isso sugiro que hajam ciclos de amigos-pastores que militam na paternidade e troquem experiências: Sempre aprendemos com outros! 

- Ore por seus filhos. Enquanto forem menores inculque-lhes os princípios da palavra de Deus. Saiba que crescidos, serão livres e autônomos para permanecer na fé ou... Mas você terá feito sua parte. Já há muitos estigmas sobre nossos filhos. Facilitemos suas vidas.

Conheço filhos de pastores que servem a Deus com seus pais na mesma igreja. Que motivos de louvores a Deus! Mas, conheço filhos de pastores que estão nas ruas... E seus pais clamando. Não desistamos! By Geraldinho Farias

3 comentários:

  1. Aff! estou vivendo essa dura realidade. é muito frustante.

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    1. Ola. À disposição para compartilhar - não através deste canal, claro. Mas... A realidade é inacreditável. Abraços, ânimo, paciência...

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  2. Gostaria de ler esse artigo em vídeo algum dia, será q posso??

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