sexta-feira, 2 de setembro de 2016

SUICÍDIO E PAROXISMO

As corporações de saúde mental e seus profissionais elegeram o mês para prevenir o suicídio – o maior trauma na escala da dor por ser súbito, violento e autoprovocado. O ato suicida tem crescido de forma exponencial no Brasil e no mundo e chama a atenção pela multiplicação nalgumas regiões, sendo protagonizado de forma democrática por jovens e adultos, dos mais variados graus de instrução e profissão, e das diversas matizes religiosas.

Comumente o suicídio é uma possibilidade entre depressivos de certo grau. A depressão roubou o título que no século passado pertenceu à SIDA (Aids): O Mal do Século. Depressão e Suicídio ocupam e desafiam os profissionais da saúde mental. Uma demanda interminável!

O ato suicida funciona como gatilho para outros, num “efeito dominó” (Diz-se Efeito Werther)?  A genética é fator decisivo? O personagem de Como eu Era Antes de Você – livro e filme de sucesso de Jojo Meyes, estimula a “glamourização” da prática? O fenômeno está sendo aprofundado nos ciclos acadêmicos.

Èmile Durkheim (1897) estudou as conexões entre os indivíduos e a sociedade e antecipou o suicídio como fato social – não individual. O fenômeno decorre de uma crise moral, havendo 3 categorias: 

O Egoísta, quando há o enfraquecimento dos laços entre o indivíduo e a sociedade -  perda de identidade, de referência, uma percepção individual de sofrimento (depressão, angustia...) onde se situa mais importante que a sociedade;

O Altruísta - ligado ao coletivo: O indivíduo não tem vida própria, morre em pró de uma causa; se mata achando que está fazendo bem à sociedade (homens-bomba, kamikazes etc.)

O Anomista – quando há uma perda de padrão – mudanças circunstanciais, temporais, crises econômicas – desemprego, perda de status, condição financeira...

Durkhein profetiza: O suicídio é uma tendência das sociedades: Está presente e nunca vai acabar, afirmou.

Não damos conta de tantos papéis sociais – expectativas, pressões por resultados imediatos.... Crises existenciais, angústias, repressão das emoções. Um mundo que estimula e aprofunda abalos e instabilidades emocionais ao mesmo tempo em que superficializa vínculos!

O modelo de vida autofágico nas metrópoles, megalópoles... Uma cena que tem sido comum: O indivíduo se vê asfixiado no elevador, num auditório e se sente sob angústia atroz. Muitos abandonam o carro no trânsito... 

Em muitos ciclos religiosos a minimização das dores, espiritualização, negação, sublimação dos transtornos mentais em comunidades a que seus frequentadores são submetidos, sobretudo a ignorância quanto ao processo depressivo como doença (“pecado”, “frescura”, “preguiça”, falta de oração e de Deus) ainda (pasmen!) é fronteira entre a religião e a saúde mental. Isso quando crentes não são vitimados pelo próprio sistema religioso – tóxico, manipulador, abusador – ampliando e aprofundando seus traumas.

Ainda há uma certa censura ou receio de procurar ajuda especializada – psicólogos, psiquiatras – para lidar com transtornos de ansiedade, depressão, pânico e fobias, sob mantras e clichês: “Ora que melhora”, “vai passar”, “creia mais”... O profissional da saúde mental é qual rival, concorrente, uma ameaça ao controle de pastores, padres, "pagés" e guias espirituais.

É hora de superar mitos e falácias: "Suicídios ocorrem mais no inverno"; "o depressivo que compartilha a vontade de morrer quer apenas chamar a atenção"; "conversar sobre o assunto pode induzir alguém a tentar"; dentre outros.

O deprimido que faz uso de álcool e drogas potencializa o rebaixamento da crítica, do nível de consciência e fica com mais coragem para cometer suicídio. 

Fases de muitas perdas e transições - adoecimento, desemprego, depressão crônica, oscilações de humor etc. são convidativas. Alguns sinais são emitidos quando há a intenção – falar que quer morrer; se despedir de parentes e amigos; apresentar irritabilidade, culpa, choros frequentes; colocar as coisas em ordem e ter uma aparente e abrupta melhora de depressão grave: Podem ser pistas de que já se decidiu pelo fim, por isso fica mais "tranquilo". O tema é complexo e merece a devida atenção.

O Conselho Federal de Psicologia e o Conselho Federal de Psiquiatria adotaram o mês Internacional de Prevenção ao Suicídio, especialmente o dia 10, o Dia Mundial de Prevenção. É hora de falar sobre! Conferências, simpósios, cursos em todo o brasil são oferecidos no setembro amarelo. Escolas, igrejas e ONGs devem sim, amarelar! By Geraldinho Farias

2 comentários:

  1. Amei o artigo! Gostei mesmo...mas tenho algumas ressalvas..! Falamos muitos dos problemas e do comportamento destrutivo que as pessoas tem, e as outras pessoas que tentam ajudar e acabam piorando a situação..não vejo maldade, vejo falta de conhecimento sobre o assunto...este e muitos outros assuntos não são tratados dentro da igreja e gera este tipo de conflito religioso, dentro de nós mesmo! Como podemos fazer para melhorar nossa compreensão e comportamento sobre o assunto e mediante estas pessoas...não podemos apontar os erros e estatisticamente oferecer o caos sem termos solução!...

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    1. Olá. Acho que concordamos com as ressalvas, quando alguns apontamentos estão lá: Devemos vencer mitos e tabus. Procurar ajuda especializada e compartilhar a campanha. Isso envolve a todos nós. E, sobre a solução, nossa campanha mesmo aponta: "Falar é a melhor solução." Este texto é um dentre os que estarão neste espaço durante o Setembro Amarelo. Sugiro que leia os demais, pois se completam. Grato por sua apreciação. Conte comigo.

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