Protesto na contramão da vida romanceada e ilustrada com que as meninas mergulham na vida hoje. A tendência é a produção de reizinhos e princesinhas, blindadas das frustrações. Os pais tudo fazem para que meninos e meninos sejam protegidos das intempéries, contratempos e
decepções. O mundo é arrumado para que tenham sempre experiências satisfatórias.Piaget descreveu a fase denominada egocêntrica – quando a criança reivindica o domínio e manuseio exclusivo de brinquedos e objetos. Reclamam em ter preferências e controles sobre tudo à sua volta. Com a socialização e novas conexões, isso passa. Ou deveria. Não raro pais continuam cedendo, presenteando, sofrendo para que os os poderosos "chefinhos" sejam totalmente satisfeitos em qualquer situação ou circunstância, cheios de direitos e sem limites em sua órbita.
E chega a adolescência. Meninas já não participam das atividades
domésticas: Não tem iniciativa para forrar a própria cama, arrumar o armário,
lavar a xícara que usou no café,... Gurias passam horas se preparando para sair
– batom, maquiagem e admiração frente ao espelho cuidando da pele e outras
tantas nas telas - TV, celular ou tablete. Parecem que com vinte unhas, couro
cabelo e dois cílios é impossível para as divas ajudarem na rotina do lar.
Os resultados estão a céu aberto: Belezuras com a cabeça de Netiflix, Facebook e outras plataformas, mas atrasadas – Barbies que ainda não se formaram; outras prorrogando a adolescência aos 21, 22, 23 anos sem experiência de estágio ou ocupação profissional.
Muitas não conseguem enfrentar uma entrevista de emprego. Outras não suportam um ambiente que lhes contrariem: Ao mínimo sinal de adversidade, mudam de escola, igreja ou pedem desligamento porque cresceram na bolha criada pelos pais e são intolerantes às adversidades. Buscam a Ilha da Fantasia – onde as pessoas tão somente as elogiem e aprovem.
Quando Pais não implicam filhos/filhas à manutenção do lar, um ato
favorável aos que comungam o mesmo espaço; quando se assumem meros súditos,
promotores do jeito encantado de ser; mudam a agenda para se adaptar aos
caprichos das cinderelas; quando não interferem, não orientam, estimulando o
estilo “conto de fadas”, conspiram contra o desempenho delas no enfrentamento
futuro.
Papais e mamães: Não estaremos sempre ao lado de nossos filhos para fazer
por eles. Por isso devemos fazer com eles até certo ponto. As
circunstâncias desfavoráveis, frustrantes e amargas, as rupturas, portas
fechadas e convivência com os diferentes, são oportunidades para treiná-los à
necessária autonomia.
Chega a hora das pequenas tarefas; que passam para incumbências de responsabilidades maiores rumo à maturidade. Por isso a relação que infantiliza e cristaliza a dependência conspira contra o sucesso de nossos filhos. Lembremo-nos de como nossos avós entregaram nossos pais à vida, e de como chegamos até aqui: Ferro à carvão, sabão em pedra, fraldas de pano reutilizáveis, roupas lavadas à beira rio, água em jarras de barro, latas dáguas na cabeça...
Com evitações, sublimações e atalhos impomos a nossos filhos uma dependência que lhes retarda quando não impedem a maturidade. Nascemos, crescemos e, num dado momento, transitamos rumo à independência: Encarar a vida e tudo que ela nos reserva. É necessário que nossas filhas sejam “desprincesadas”, “desdivadas” e “descindereladas” para que tomem contato com uma realidade dura e frustrante. Existem rainhas más e malévolas na vida real. Quando a glamourização da vida permanece numa prorrogada adolescência, não há poderes mágicos para o banimento de inimigos e realização de nossos desejos.
Brincar, imaginar e sonhar fazem parte. Mas cuidemos com os excessos e a
superproteção. Regras, limites e diálogos confrontativos são necessários. By
Geraldinho Farias
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