quarta-feira, 29 de junho de 2016

COMO EU ERA ANTES DE VOCÊ

O que há por trás do sucesso “Como Eu Era..”, de Jojo Moyies (Me Before You (2012), em português, Intrínsica - 2013)  -  é um contraponto ao mundo pictórico que vivemos. Vai na contramão do "Conto de Fadas" que tornaram-se as redes sociais. A obra traz lembrança necessária: Não vivemos num mundo de “certinhos” e “irretocáveis”, permanentemente felizes como soi curtir e compartilhar. É um convite à humanidade que sofre, se deprime e submete-se à dilemas indigestos.Will Traynor, 35, vivia num so nho paradisíaco – CEO em Londres, rico, namorada perfeita, um aventureiro invejável. Louisa Clark, Lou, de um vilarejo simples, trabalhava num café, morava com a família, namorava o desinteressado Patrick, numa juventude normal e comum, sem ousadia ou planos maiores.

As circunstâncias sacodem suas rotinas e logo são desafiados a enfrentar realidades absolutamente antagônicas. Will sofre acidente e fica tetraplégico. Lou, desempregada, se vê obrigada a arrumar um trampo qualquer pra se manter.

Seus destinos se cruzam. Sem opção, Lou aceita trabalhar para cuidar de um... Tetraplégico. Mesmo sem experiência, encara o desafio. O livro descreve e desnuda a experiência humana: O sorriso plástico, a cena perfeita, o previsível “felizes para sempre” dá lugar ao enfrentamento dramático: Terá que cuidar por dinheiro de um amargo e ácido paciente, envolto à sua depressão, imerso à sua desgraça.

O roteiro traça linhas ascendentes de uma rara humanidade – um amor improvável, que subjaz do imponderável e contrastante, e sob o declínio do que os afastaria – o serviço pelo serviço, numa rotina que pretendia ser mecânica...

Will determinara seu suicídio. Oferecera aos pais um tempo de 6 meses para despedidas e adaptações. Sua cuidadora, então, já movida por um amor incondicional e inteiro, tenta interromper a marcha de Will ao seu planejado fim, oferecendo-lhes novas razões para viver.

O que há de sedutor na trama é a construção dos motivos: Ela tenta que ele restaure o sentido da vida; o propósito; como convencer alguém marcado pelas rupturas e privações de um acidente que há vida e sentido apesar e além de suas lamúrias e amputações ???

A história é narrada por Lou que também recebe as sensações de outros personagens. Portanto, é um convite às impressões pessoais do leitor ante os dilemas propostos: O direito à morte é assunto recorrente nos círculos acadêmicos. As implicações éticas da desistência da vida já foram abordadas no espanhol Mar Adentro (Alejandro Amenábar, 2004).  A leitura é o re-encontro de uma vida que a civilização quer sublimar: Lidamos com o cansaço, a solidão, a velhice, o câncer  e nossa impotência. Diferente das maquiagens ilusórias das redes sociais.

O interesse pela história de Moyes - na telona (Thea Sharrock, 2016) vem numa explosão do número de suicídios - crescente em todas as faixas-etárias, o que consolida o "setembro amarelo" - um mês de conscientização e prevenção, em que profissionais da saúde mental provocam diálogo sobre o fenômeno. A romantização de um personagem sob crise existencial alimenta a glamourização do ato como "saída" para a angústia???  

O que faríamos se fossemos Lou?  Vez por outra as rupturas nos desestruturam, rompendo com nosso comodismo. A Ludoterapia, de Victor Frankl, propõe a descoberta de um sentido para a vida, qualquer que seja a circunstância: Seria, digamos, fazer do limão... uma limonada. Numa sociedade que preza o código de barras, Will é o retrato do homem moderno que, sem poder, controle e dinheiro, se vê vazio e perdido. Alguém já disse que conhecemos bem as pessoas na prosperidade ou na miséria. A felicidade no Séc. XXI depende da circunstância cheia, abastada, por isso, o mundo perfeito do Facebook. Sem isso, não há sentido para... viver.

A empatia sugerida sobre os personagens lança luzes sobre o quanto o trauma nos melhora, nos aproxima, nos torna mais gente. Seria uma questão de não apenas "como" mas sobre "quem" nos tornamos, afinal, a vida é surpreendente e irônica. By Geraldinho Farias

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