O que há por trás do sucesso “Como Eu Era..”, de Jojo Moyies (Me Before You (2012), em português, Intrínsica - 2013) - é um contraponto ao mundo pictórico que vivemos. Vai na contramão do "Conto de Fadas" que tornaram-se as redes sociais. A obra traz lembrança necessária: Não vivemos num mundo de “certinhos” e “irretocáveis”, permanentemente felizes como soi curtir e compartilhar. É um convite à humanidade que sofre, se deprime e submete-se à dilemas indigestos.Will Traynor, 35, vivia num so nho paradisíaco – CEO em Londres, rico, namorada perfeita, um aventureiro invejável. Louisa Clark, Lou, de um vilarejo simples, trabalhava num café, morava com a família, namorava o desinteressado Patrick, numa juventude normal e comum, sem ousadia ou planos maiores.
As circunstâncias
sacodem suas rotinas e logo são desafiados a enfrentar
realidades absolutamente antagônicas. Will sofre acidente e
fica tetraplégico. Lou, desempregada, se vê obrigada a arrumar um
trampo qualquer pra se manter.
Seus destinos se
cruzam. Sem opção, Lou aceita trabalhar para cuidar de um... Tetraplégico.
Mesmo sem experiência, encara o desafio. O livro descreve e desnuda a
experiência humana: O sorriso plástico, a cena perfeita, o previsível “felizes
para sempre” dá lugar ao enfrentamento dramático: Terá que cuidar por dinheiro
de um amargo e ácido paciente, envolto à sua depressão, imerso à sua desgraça.
O roteiro traça
linhas ascendentes de uma rara humanidade – um amor improvável, que subjaz do
imponderável e contrastante, e sob o declínio do que os afastaria – o serviço
pelo serviço, numa rotina que pretendia ser mecânica...
Will determinara
seu suicídio. Oferecera aos pais um tempo de 6 meses para despedidas e
adaptações. Sua cuidadora, então, já movida por um amor incondicional e
inteiro, tenta interromper a marcha de Will ao seu planejado fim,
oferecendo-lhes novas razões para viver.
O que há de sedutor
na trama é a construção dos motivos: Ela tenta que ele restaure o sentido da
vida; o propósito; como convencer alguém marcado pelas rupturas e privações de
um acidente que há vida e sentido apesar e além de suas lamúrias e amputações
???
A história é
narrada por Lou que também recebe as sensações de outros personagens. Portanto,
é um convite às impressões pessoais do leitor ante os dilemas propostos: O
direito à morte é assunto recorrente nos círculos acadêmicos. As implicações
éticas da desistência da vida já foram abordadas no espanhol Mar Adentro
(Alejandro Amenábar, 2004). A leitura é o re-encontro de uma vida que a
civilização quer sublimar: Lidamos com o cansaço, a solidão, a velhice, o
câncer e nossa impotência. Diferente das maquiagens ilusórias das redes
sociais.
O interesse pela
história de Moyes - na telona (Thea Sharrock, 2016) vem numa explosão do número
de suicídios - crescente em todas as faixas-etárias, o que consolida o
"setembro amarelo" - um mês de conscientização e prevenção, em que
profissionais da saúde mental provocam diálogo sobre o fenômeno. A romantização
de um personagem sob crise existencial alimenta a glamourização do ato como
"saída" para a angústia???
O que faríamos se
fossemos Lou? Vez por outra as rupturas nos desestruturam, rompendo com
nosso comodismo. A Ludoterapia, de Victor Frankl, propõe a descoberta de
um sentido para a vida, qualquer que seja a circunstância: Seria, digamos,
fazer do limão... uma limonada. Numa sociedade que preza o código de barras,
Will é o retrato do homem moderno que, sem poder, controle e dinheiro, se vê
vazio e perdido. Alguém já disse que conhecemos bem as pessoas na prosperidade
ou na miséria. A felicidade no Séc. XXI depende da circunstância cheia,
abastada, por isso, o mundo perfeito do Facebook. Sem isso, não há sentido
para... viver.
A empatia sugerida
sobre os personagens lança luzes sobre o quanto o trauma nos melhora, nos
aproxima, nos torna mais gente. Seria uma questão de não apenas
"como" mas sobre "quem" nos tornamos, afinal, a vida é
surpreendente e irônica. By Geraldinho Farias
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