A exortação paulina “alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram” (Rm 12.15) é uma avenida de mão-dupla na química relacional. Vivemos tempos caracterizados por um egoísmo atroz. É comum as pessoas queiram ser ouvidas, mas que não oferecem ouvidos; querem ser abraçadas, mas sem oferecer abraços. São relacionamentos onde somente uma parte ganha.
O egocentrismo – “eu no centro”, foi uma contribuição do educador suíço Jean Piaget, conceito no qual uma criança na segunda infância (aproximadamente entre 3 e 6 anos) naturalmente não consegue distinguir ou entender que os outros possuem crenças, pensamentos e atitudes diferente dos seus. Essa conduta é muito presente entre adultos que não conseguem demonstrar empatia, se colocar no lugar do outro porque é ocupado com os próprios interesses e busca, sempre, a própria satisfação.
O egocêntrico quer extrair vantagem em tudo. Não tem paciência para esperar. Quer ganhar sempre. Move-se pelo próprio interesse. A figura denominada “interesseiro”. Por vezes sua investida, sua participação é para alavancar algo. O outro é meio. A experiência é meio. O fim, algo que precisa. Nem sempre consegue disfarçar. Sonega o que muito e tanto recebe, com ingratidão e indiferença!
Isso acontece e caracteriza os tais “apaixonados”. O apaixonado quer extrair o máximo do par – não oferece a contrapartida. É o caso do tão explorado fenômeno das mulheres que “amam demais”. Estão dispostas em seu pathos a dar tudo – afetividade, bens, sacrifício – a verdadeiros ícones, homens canonizados pela tal paixão.
Na outra ponta há os ciumentos. Os que querem vender uma aparente demonstração de amor – ardo em ciúmes porque amo de verdade. Ma non troppo! O ciumento é apaixonado por si mesmo, um narcísico contumaz. Sufocar, policiar, obter controle sobre o outro é flagrante coisificação! Nos casos acima, estamos diante de esfomeados narcísicos, egoístas – os clássicos casos em que um, somente um, apenas um, ganha, confortável na condição de receptor, depósito afetivo, reinam absolutos.
Na interação profissional vemos fenômeno parecido. O colaborador quer o salário, a promoção, a valorização contínua do patrão mas... Dá o mínimo; atrasa, falta, faz “corpo mole”, “migué” e outras tantas condutas. Relação onde somente um ganha. Muitos na segunda trabalham contrariados (o domingo acabou...) e na sexta, “operação tartaruga”, afinal, o sábado tá chegando... “Quem trabalha somente pelo que recebe não merece ser pago pelo que faz” (Abraham Lincoln)
A aplicação da mutualidade paulina é solo fértil para as relações humanas. Quando nos alegramos com os que se alegram e choramos com os que choram, dividimos o bem e o mal; partilhamos o sorriso e a dor. Quem está disposto a esta “gangorra”? Quem está disposto a ser amigo para as horas difíceis? Quem está disposto a colher no campo de espinhos? Quem está disposto a oferecer ombro e enxugar lágrimas?
Pensando assim, o que é mais comum: Alegrar-se com os que se alegram ou chorar com os que choram?
O que é mais é mais fácil ou, menos difícil, alegrar-se com os que se alegram ou chorar com os que choram?
O que você mais faz ou vive em suas relações de amizade – alegria ou choro mútuo?
O que você mais recebe dos outros – alegria ou choro mútuo?
O que dirão as pessoas de seu entorno sobre sua experiência de mutualidade?
Quando foi a sua última alegria ou seu último choro com aqueles que celebravam ou pranteavam?
Você acha mais falsidade ou ato de interpretação, numa ou noutra experiência?
Você vive experiências de amizade onde julga que somente a outra parte ganha?
Você reconhece pessoas que se relacionam com você de forma interesseira?
Você já se sentiu usado ou... Um mero "prestador de serviços", quando o outro somente o aciona quando precisa?
Você poderia alistar situações em que você sofria, agonizava em dores, mas sua expectativa em ser socorrida por um amigo não aconteceu – o outro não deu a devida atenção, acolhimento, ouvidos?
Nas relações de amizade vivemos a legítima expectativa de sermos correspondidos. Há uma humana fome de gratificação lá dentro, no íntimo. Ser sempre "amigo-escada" não basta. Não há prazer em apenas ser "sugado".
A correspondência vale nas relações de amizade, pais-filhos, marido-mulher; nas profissionais etc.
Ainda que colecionando decepções, podemos fazer a diferença para com os outros e oferecer o que temos de melhor: Participar da vida – soprar velinhas, brindar com taças, levantar troféus, mas... enxugar lágrimas, dar ouvidos, oferecer hospedagem...
Em tempos de muita
comparação – o tempo pictórico, das imagens – de exibição nas redes sociais, de
contos de vantagens, desconfio que nunca foi tão mais difícil ser festejado e
festejar, ser alegrado e se alegrar, de forma profunda e verdadeira. A amizade
verdadeira implica em carregar e ser carregado. Quem se candidata a ser bom e
fiel amigo deve participar sempre e em tudo. By Geraldinho Farias
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