História é coisa incerta. Tem sempre muito do presente no que a gente lembra o passado. De certa maneira, a gente sempre assume que as coisas no passado eram muito semelhantes ao presente. É o que parece acontecer com computadores.
Está perdida na memória, em lugar incerto, indefinido e provavelmente
irrecuperável, a época em que estes pequenos milagres eletrônicos não
faziam parte do dia a dia, de todos os dias.
Parece que a época em que os telefones serviam apenas para telefonar
jamais existiu. A internet é parte do ser. Sem a internet, a gente não existe.
Sem internet, a gente não é.
Todos os dias, todas as horas, SMSs, e-mails, mídias sociais, IMs e
todas as outras formas de comunicação eletrônica parecem chover em uma
tempestade interminável de informações sobre a vida alheia.
Ficamos mais interligados e mais informados sobre a vida dos outros.
Cada um narra sua vida passo a passo, minuto a minuto, evento a evento. Surgiu
a categoria do amigo virtual.
Para ser um amigo virtual, não é preciso muito. Basta ser aceito na rede
de mídia social de alguém. Um clique no mouse do lado de cá solicitando a
amizade, e um clique no mouse do lado de lá aceitando a amizade e está formada
a amizade.
Amizade virtual, não requer contato humano. Não é preciso conhecer
pessoalmente. Basta conectar. Só isto já poupa bastante trabalho.
Uma vez dentro da rede, está garantido o direito de acompanhar a vida
alheia, compartilhar de imagens de locais exóticos, desejar pratos deliciosos,
admirar sorrisos perfeitos, e acompanhar famílias harmônicas. Afinal de contas,
no coração de cada um de nós, escondido ou à vista, mora um voyeur. E isto
é fascinante. E assustador.
Acompanhar a mídia social é ter a impressão de que todos vivem vidas
interessantes, felizes, glamorosas, e sem problemas.
Deve haver em algum lugar um pacto não escrito que proíbe a negatividade
nas mídias sociais. Talvez porque ninguém queira mesmo se cercar de pessoas que
tragam com elas seus problemas. Amigos virtuais não tomam pancada da vida. São
perfeitos em tudo. Perfeitos e com vidas interessantes.
Mas a melhor característica do amigo virtual é que a amizade não é (ou
pelo menos não precisa ser) eterna. Com a mesma facilidade com que se aceita um
amigo virtual, pode-se exclui-lo do círculo. A amizade existe enquanto o amigo
for interessante. Mídia social não é lugar para chatos.
Talvez por isso todos têm centenas de amigos virtuais nas redes sociais.
E, imaginem, alguns deles até se conhecem pessoalmente. By Elton Simões

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