O SHOW DE TRUMAN, 20

Jim Carrey - Drama, comédia, ficção... Ou...???

Em 2008 o diretor de Sociedade dos Poetas Mortos, Peter Weir, antecipa nossa sociedade e a descreve, como George Orwell havia feito com “1984” décadas atrás. Emerge um drama (comédia?) atualíssimo de uma sociedade capitalista, consumista e... Vigiada!

Em O Show de Truman - O Show da Vida (EUA, 1998) Burbank (Jim Carrey) é um homem que foi vendido por sua família, para nascer e crescer na frente das câmaras de um

show de televisão criado por Christof (Ed Harris). Fruto de uma gravidez indesejada, Truman – prematuro – nasceu próximo à data em que o programa estava previsto para começar. Por isso foi o selecionado, sendo legalmente adotado pela empresa produtora.

Assim, 1,7 bilhão de pessoas acompanharam seu nascimento e 220 países assistiram seu primeiro passo. E a despeito de o filme começar quando Truman já possuía 10.909 dias de vida, ou seja, quase 30 anos, a produção volta no tempo várias vezes para mostrar a trajetória do astro.

Assim, a sua vida é filmada 24 horas por dia, em uma cidade-ilha chamada Seahaven, inteiramente criada em um estúdio para ele. Povoada por atores e figurantes, Truman é o único que não sabe deste fato, acreditando ser a realidade dele.

Enquanto dá seu Bom dia, boa tarde e boa noite cotidianos, Truman protagoniza, sem perceber, um show ao vivo, desde seu nascimento, a ser consumido pela por voyeuristas mundo a fora. O vendedor de seguros foi numa trama que envolve um mundo cenográfico sob o controle de um diretor e a interação de inúmeros atores a simular uma vida.

Truman ameaça o espetáculo ao aspirar romper a bolha que o cerca, tal qual o Mito da Caverna, de Platão. Eis uma obra a ser re-visitada – sobre o controle social, o comportamento de boiada, os limites do consumo,... Enfim, sobre nosso aprisionamento num mundo regido por índices de audiência. A desumana saga de atores cúmplices que interagem cínica e animalescamente sem qualquer identificação com a vítima do reality show!

Truman é o retrato do american way of life – o bem sucedido o mundo corporativo – inundado por produtos e grifes. Mesmo sabendo da origem do programa sua audiência é dependente compulsiva da coisificação, sob a direção de um deus (Christof).

O advento e multiplicação das telas e plataformas digitais apenas potencializou o controle sobre nós em relação à TV de 1998 naquilo que o filósofo socialista Guy Debord há 50 anos chamou de "a Sociedade do Espetáculo". Pergunto: O que é fictício em The Truman Show??? By Geraldinho Farias