terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

POR MENOS JUÍZES E MAIS AMIGOS – UM DESABAFO

Hannibal Lecter, por Anthony Hopkins:

O Silêncio dos Inocentes (EUA, 1991) 

Considero completamente despropositado discutir o destino dos suicidas que possuíam experiência religiosa protestante-evangélica no calor de atos profundamente traumáticos e que ocorrem cada vez mais perto de nós (ou entre nós).

 

Normalmente descubro em amigos próximos opiniões desconectadas com a sensibilidade humana que me assustam e decepcionam: São mais juízes proferindo sentenças que irmãos dispostos a chorar e lamentar; são mais familiarizados com o tribunal que com a fraternidade. Manipulam cetros e togas, desconhecem lenços e laços.

Perdi amigos próximos, uma colega de trabalho, estudo o assunto, desenvolvo projetos de prevenção. Mas lamento profundamente a pressa, o veredito, as conjecturas, achismos, especulações que mais dilaceram quem perde alguém. Vivemos tempos em que tudo no país é reduzido a Fla-Flu, dá ou desce, vai ou racha... Isso já chegou nesta arena!

Nas redes sociais, no máximo, é o que se discute. Os discursos exaustivos sobre uma teologia do destino, feito por supostos ascensoristas, controladores ou porteiros do porvir. Veementes e convictos vomitadores de textos bíblicos para encher o inferno de desafortunados e miseráveis; além de suicidas, os condenados são: Incapazes de suportar a dor... Crentes fracos e despreparados... Jamais experimentaram a graça... Impostores, falsos cristãos... Além de ter que chorar o enlutado terá que enfrentar os digitadores de lápides, prontos a adjetivar e julgar a intimidade, experiência de fé e post-mortem de suicidas. Aff!

Um pastor (!)  publicou: “Suicídio é um tapa no rosto do autor da vida!... Jesus ordenou: "Sê fiel até a morte", "Aquele que perseverar até o fim será salvo" e um suicida não obedece estes mandamentos! É um desertor! Paulo disse que Deus não nos permite ser tentados além do que possamos suportar,... Hb 9:27 afirma que após a morte segue-se o juízo e não a misericórdia ou uma segunda chance. Enfim, o suicida certamente vai para o inferno!...” Este é apenas um extrato do que se desfila à tela aberta.

Pergunto: Banidos definitivamente por quem? Na lista dos que "ficarão de fora os..."? A 2a. edição da blasfêmia??? "Nada nos separará do amor de Deus", exceto o que???

Apressados, rigorosos, “guardiões do Santo Ofício”, inquisidores, não contribuem para a memória dos que foram vencidos por dores, e, em suas “piedosas” opiniões, também não lograrão qualquer chance na eternidade, se depender dos seus "padrões" de Justiça. Cometeu suicídio? Sharia neles!

O desespero de quem põe ponto final em sua existência é estarrecedor; não menos estarrecedora é a falta de bom senso de muitos religiosos...

Estou cada vez mais desencantado com os latifundiários do porvir. As “casas de meu pai” a que se referiu Jesus serão ocupadas à juízo seletiva destes. Cremos num Deus não apenas de forma diferente, mas estranho que as Personas sejam divindades distintas, outras.

Não sobreviveria às canetadas, tecladas e batidas de martelo de alguns cujo prazer é banir, excluir e vedar. Prefiro chorar com os que choram e viver a fazer novas perguntas. Não sou detentor de quaisquer repostas. Enlutados precisam de amigos, não de juízes.

(A última moda é o ranking da desgraça: Seria sobre em quais denominações ocorrem os maiores números de suicidas...)

Estou cheio de quem se arroga o “explicador de todas as coisas”; mania de dar pitacos, sentenças, justificativas definitivas... Sai pra lá! Muitos insistem em descrever uma punição em escala industrial de Deus. Aff! Onde abundam afirmações peremptórias sobre a desgraça alheia, superabundam a graça de Deus! 

Participei de uma mesa redonda no 76o. retiro da OPBB|SP em Sumaré sobre o tema. Alí, ao vivo, alguns amigos confessaram-se doentes e sob crise aguda. Doeu. Um deles disse que tudo mudou quando passou a ver a corda que havia em sua casa de forma diferente...

As iniciativas das corporações – Ordem, associações, ministérios etc. – conquanto muitíssimas úteis, vêm sob lentidão e ainda tímidas dada a conjuntura emergencial, mesmo reafirmando que as ações mais eficazes virão de baixo para cima, e não o inverso. By Geraldinho Farias





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