Hannibal Lecter, por Anthony Hopkins: O Silêncio dos Inocentes (EUA, 1991) |
Considero completamente despropositado discutir o destino dos suicidas que possuíam experiência religiosa protestante-evangélica no calor de atos profundamente traumáticos e que ocorrem cada vez mais perto de nós (ou entre nós).
Normalmente descubro em amigos próximos opiniões desconectadas
com a sensibilidade humana que me assustam e decepcionam: São mais juízes
proferindo sentenças que irmãos dispostos a chorar e lamentar; são mais
familiarizados com o tribunal que com a fraternidade. Manipulam cetros e
togas, desconhecem lenços e laços.
Perdi amigos próximos, uma colega de trabalho, estudo o assunto,
desenvolvo projetos de prevenção. Mas lamento profundamente a pressa, o
veredito, as conjecturas, achismos, especulações que mais dilaceram quem perde
alguém. Vivemos tempos em que tudo no país é reduzido a Fla-Flu, dá ou desce,
vai ou racha... Isso já chegou nesta arena!
Nas redes sociais, no máximo, é o que se discute. Os discursos
exaustivos sobre uma teologia do destino, feito por supostos ascensoristas,
controladores ou porteiros do porvir. Veementes e convictos vomitadores de
textos bíblicos para encher o inferno de desafortunados e miseráveis; além de
suicidas, os condenados são: Incapazes de suportar a dor... Crentes fracos
e despreparados... Jamais experimentaram a graça... Impostores, falsos
cristãos... Além de ter que chorar o enlutado terá que enfrentar os digitadores
de lápides, prontos a adjetivar e julgar a intimidade, experiência de fé e
post-mortem de suicidas. Aff!
Um pastor (!) publicou: “Suicídio é um tapa no rosto do
autor da vida!... Jesus ordenou: "Sê fiel até a morte", "Aquele
que perseverar até o fim será salvo" e um suicida não obedece estes
mandamentos! É um desertor! Paulo disse que Deus não nos permite ser tentados
além do que possamos suportar,... Hb 9:27 afirma que após a morte segue-se o
juízo e não a misericórdia ou uma segunda chance. Enfim, o suicida
certamente vai para o inferno!...” Este é apenas um extrato do que se desfila à
tela aberta.
Pergunto: Banidos definitivamente por quem? Na lista dos que
"ficarão de fora os..."? A 2a. edição da blasfêmia??? "Nada nos
separará do amor de Deus", exceto o que???
Apressados, rigorosos, “guardiões do Santo Ofício”,
inquisidores, não contribuem para a memória dos que foram vencidos por dores,
e, em suas “piedosas” opiniões, também não lograrão qualquer chance na
eternidade, se depender dos seus "padrões" de Justiça. Cometeu
suicídio? Sharia neles!
O desespero de quem põe ponto final em sua existência é
estarrecedor; não menos estarrecedora é a falta de bom senso de muitos religiosos...
Estou cada vez mais desencantado com os latifundiários do
porvir. As “casas de meu pai” a que se referiu Jesus serão ocupadas à juízo
seletiva destes. Cremos num Deus não apenas de forma diferente, mas estranho
que as Personas sejam divindades distintas, outras.
Não sobreviveria às canetadas, tecladas e batidas de martelo de
alguns cujo prazer é banir, excluir e vedar. Prefiro chorar com os que choram e
viver a fazer novas perguntas. Não sou detentor de quaisquer repostas.
Enlutados precisam de amigos, não de juízes.
(A última moda é o ranking da desgraça: Seria sobre em quais
denominações ocorrem os maiores números de suicidas...)
Estou cheio de quem se arroga o “explicador de todas as coisas”;
mania de dar pitacos, sentenças, justificativas definitivas... Sai pra
lá! Muitos insistem em descrever uma punição em escala industrial de Deus.
Aff! Onde abundam afirmações peremptórias sobre a desgraça
alheia, superabundam a graça de Deus!
Participei de uma mesa redonda no 76o. retiro da OPBB|SP em
Sumaré sobre o tema. Alí, ao vivo, alguns amigos confessaram-se doentes e sob
crise aguda. Doeu. Um deles disse que tudo mudou quando passou a ver a corda
que havia em sua casa de forma diferente...
As iniciativas das corporações – Ordem, associações, ministérios
etc. – conquanto muitíssimas úteis, vêm sob lentidão e ainda tímidas dada a
conjuntura emergencial, mesmo reafirmando que as ações mais eficazes virão
de baixo para cima, e não o inverso. By Geraldinho Farias
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