terça-feira, 4 de abril de 2017

CEIA: LEMBRAR DE QUEM, DO QUE E PARA QUE - UM SERMÃO

(L'Ultima Cena ou  Il Cenacolo, Milão)

A tela do gênio Leonardo Da Vincci descreve a Última Ceia, óleo pintado dentre 1495 a 1498 em Milão, uma das obras mais  admiradas das artes e um dos bens mais conhecidos e estimados do mundo: Atrai pela beleza, inspiração e mistério. É nosso ponto de partida para aprofundar nossa compreensão do ritual instituído pelo Cristo na semana da Páscoa.

Com o passar dos anos rituais tendem a cair na mecanização, na rotina e, há o risco de se esvaziar o significado. O que pergunto para você e para mim é: No ato da Ceia do Senhor precisamos lembrar-nos de quem, do que e para que? Abramos nossas bíblias em Mateus 26.17 a 30.

1)Lembrar-se de Quem? dEle, do Cristo: Os discípulos recorrem a Ele sobre onde acontecerá a Ceia da Páscoa. É Ele quem articula aonde ir, a quem procurar e o que dizer. “E os discípulos fizeram como Jesus lhes ordenara” (v 17-19).

A Ceia é dEle. A tela denuncia-o ao centro da mesa, seu autor, seu articulador, o anfitrião. Ele é quem liga a todos! Em primeiro lugar e a obra de Da Vinci o denuncia: Cristo no centro de nossas vidas, o tema de nossa pregação.

A ceia implica o “em memória de mim”:

“Porque dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas, glórias pois a Ele eternamente!” (Rm 11.36).

“Ele morreu por todos para os que vivam não vivam mais para si mesmos mas para aqueles que por eles morreu e ressuscitou” (II Co 5.15).

“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2.20).

2)Lembrar-se do Que? Do Pão e do vinho. Podemos perguntar do porque pão e vinho são os elementos escolhidos para simbolizar o corpo e o sangue de Cristo.

O pão simboliza as necessidades básicas da vida. Por essa razão, referimo-nos comumente ao pão como "o sustento da vida" e oramos pelo "pão diário”. O pão da ceia do Senhor, portanto, retrata o sacrifício de Cristo como a necessidade absoluta para a nossa vida espiritual. Assim como não podemos viver sem o pão diário, não podemos viver sem Cristo, o pão da vida.

O vinho na Escritura simboliza abundância, gordura, prosperidade, alegria, satisfação e banquete (Sl. 104:15; Is. 55:1). Ele representa aquilo que está acima e além das necessidades da vida, que torna a vida mais que mera existência, que dá satisfação e alegria. O vinho é o representativo do sangue que nos servirá para o perdão e, assim, o acesso ao céu.

O pão é feito do grão de trigo moído, e o vinho da uva espremida. Tanto o pão quanto o vinho têm algo em comum: Os componentes de ambos tem que ser triturado antes de dar à luz ao seu produto final, o que profeticamente aponta para o castigo de Cristo no Calvário que nos trouxe a paz. A tradição das vinículas é o pisoteamento das uvas nos lagares, sem o qual não se extrai os melhores vinhos.Pão e vinho, portanto, são didáticos: Nunca nos esqueçamos da razão pela qual Cristo se entregou e sofreu por cada um de nós.

Enquanto comemos (=comemorar) e bebemos (=bebemorar), agradecemos o alimento, a presença do Cristo em nós: Satisfaz, é completo, nos enche! Não temos nada sem ele, e com ele temos tudo; por isso o servimos!

3)Lembrar-se para Que? Para preservar, defender, fortalecer e aprofundar nossa comunhão com Ele e entre nós. A Ceia é intimista, como retrata Da Vinci. Não é para qualquer um, é somente para aqueles que são íntimos com o Mestre.

Os evangelistas escreveram se referindo aos discípulos e à multidão (vede Mateus 5.1), públicos distintos. A Ceia é tão somente para os discípulos. Não há espaço para estranhos, para qualquer um ou para a multidão. São apenas os doze amigos (Jo 15.15) ladeando o Cristo: “Assentou-se à mesa com os doze”. 

Estar à mesa é ato cultural de camaradagem e hospedagem (hospital). São para companheiros, do lain com panis, aqueles com quem dividimos o pão. 

Quem está à mesa e não está apto também é estranho (Judas). “Examine-se pois o homem a si mesmo...” é condição paulina.

Portanto, é preciso lembrar que a Ceia é para os que estão ligados ao Cristo e inter-ligados ou intra-ligados. Somos dependentes dEle e interdependentes entre nós. 

Isso é a Igreja: Cristo, o cabeça, e os membros do Seu Corpo: “Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.5).

Aplicação

A Ceia é o meio para recordar o amor de Cristo. Comemorar é comer e lembrar, recordar. Bebemorar é beber e lembrar, recordar. Parece que Cristo sabe de nossa “memória curta”. Mas, sem as memórias o ato de compartilhar o pão e vinho é mera refeição.

Bastaram apenas aproximadamente duas décadas (isso mesmo!) para os cristãos de Corinto esvaziarem o sentido deste ajuntamento. Paulo é obrigado a ensinar como devem se comportar e realizar o ritual, isto é, lembrarem-se de quem, do que e para que devem cear (I Co 11).

Nossos memórias passam por mudanças profundas. Armazenamos memórias em caixas externas como mídias, chips ou cartões. Como usamos pouco nossa memória biológica, muitos sofrem o Mal de Alzheymer, um problema cerebral resultado do não-uso dos arquivos cerebrais. Não contamos mais as histórias dos álbuns de fotos impressas, logo, nossa memória tende a... Morrer. A Ceia vai na contramão. Cear implica resgatar memórias do Cristo, de sua obra, seus ensinos e missão.

O gesto de continência entre os militares remete à hierarquia dos quarteis. Um soldado dá continência ao Sargento, que dá ao Coronel... O gesto repetido implica a hierarquia e a ordem. A Repetição do teatro, da cenografia remete a igreja a re-memorar, resgatar o Cristo e Sua obra, anunciando-O até que Ele venha. 

- Muitos já não vivem a intensidade do ritual da Ceia;
- Muitos sob conflitos, se omitem da participação, quando deveriam viver em paz para com todos e estarem aptos;
- Muitos reduziram o ritual a mera refeição, fazendo-se por fazer, sem qualquer sentido.

Lembremo-nos de quem, do que  e para quem. Que assim seja! By Geraldinho Farias

Um comentário:

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