quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

GAYS: CONVIVÊNCIA, DIÁLOGO E ACOLHIMENTO

Sobre a recepção de pessoas nas igrejas cuja orientação sexual é diferente da nossa: Precisamos re-visitar (re-descobrir) o Cristo. Acolhimento, amizade e acessibilidade a todos e todas: 

Jesus não veio para reverter uma condição ou orientação apenas. Parece para aqueles mais radicais (muitos

homofóbicos, sim!), o indivíduo deva se converter porque é homossexual. As boas novas são para o indivíduo todo, quaisquer que sejam a sua condição: Não implica mudar particularidades e-ou características, mas sua condição global. Significa que a pessoa deva ser resgatada pelo Cristo por causa de sua condição pecaminosa e não por causa de sua homossexualidade, apenas. Para muitos cristãos, a orientação sexual é algo nocivo ao extremo, enquanto que outras condições e expressões são mais, digamos, toleráveis...

Um pecado não é maior que o pecador. Um pecado não é mais danoso que outros. Porque não é sua especificidade, mas a condição de pecadores que somos é que nos torna apartados da graça de Deus e necessitados da redenção (Rm 3.23).

O indivíduo homossexual deva confessar o Cristo e re-elaborar sua vida através dos ensinos do Mestre não porque é homossexual, mas porque é pecador. Não deva mais que qualquer um de nós devia ou deve!

Nas mídias há um cenário que não deve ser o nosso: A generalização de que todos os que tendem a uma orientação sexual diferente da nossa são militantes odiosos, anti-evangélicos, anti-cristãos. Não são todos os gays, lésbicas, travestis, transexuais, bissexuais, pansexuais,... que estimulam o “nós LGBTI**” X "eles cristãos"! Não são todos que enfatizam uma convivência supostamente impossível ou que demarcam uma odiosa fronteira – reconheço, de militantes sociais radicais! Por favor, não confundir ou generalizar.

Da mesma forma que não são todos os evangélicos que agem com uma não assumida homofobia – sim, há radicais – ou com discursos irascíveis, sem gesto de convivência ou ato de conexão! Digo das “malafacianas” e “felicianas” em voga. Há excessos dos dois lados.

Precisamos de uma confissão histórica: Ao longo de décadas os olhares dirigidos aos  “diferentes”, noutras condições digamos heterodoxas, incomuns ou pertencentes a determinadas minorias (não sei como colocar) foram fitadas com olhares de juízes e não de acolhedores amorosos; sonegamos lugares nas comunidades dos saudáveis, angelicais e quase perfeitos; quando não fechamos as portas – há muitas formas de fechar portas, não necessariamente com chaves, travas e cadeados. Sem prejulgar, conduta muito parecida com aquele fariseu petulante, arrogante, que em seu íntimo censurou o Nazareno por permitir-se banhar por uma pecadora (Lc 7.36 ss). A mulher pecadora entrou no recinto, à mesa, mas o coração do religioso estava fechado pra ela, provocando a Parábola dos Dois Devedores...

Sabe a relação interesseira uma aproximação com uma segunda intenção, a conversão??? “Ele(a), o outro diferente, tem de ser como nós, convertidos, certinhos, afinal, a existência dele ornando a paisagem, denuncia um credo insuficiente para trazê-lo à religião.” E isso incomoda. E o poder do Evangélico (sim, do tal "evangélico") é exposto através dos discursos de vitrine: O gay que se converte logo vira um performer do testemunho público. Não há tempo para discipular, amadurecer, crescer, logo vai às ribaltas públicas como show-man contar sobre a bizarrice do não-ser-mais... (Vede Lana Holder e outros|as) Não é o pecador salvo por Cristo, mas o ex-gay agora protagonista de um espetáculo!

É essa relação de conveniência ou “aproximação com segunda intenção” (de converter) que nos denunciam. Como nosso discurso veemente ou verborrágico de amor e bondade, contrastam com nossa prática rígida cheia de incompreensões, ouvidos cerrados, muitas vezes arrogantes (os normais ante os anormais, os certos ante os errados, os salvos ante os perdidos...) já não mais cabem. Os resultados estão aí: Um público que se assume também com suas convicções enrijecidas (qualquer coisa, menos uma igreja...) ou até mesmo os formatos de exceção – nichos, “guetos evangélicos”, novas modalidades (de igrejas) especializadas em gays que dão o que os históricos não foram (ou são) capazes de oferecer... E o mais fenomenal: O movimento dos desigrejados – aqueles e aquelas que creem, mas que não mais querem viver a experiência cristã nas instituições.
Perguntado sobre como evangelizar um gay, respondi com outra pergunta: "Como se evangeliza alguém?"

Enquanto relevarmos as convicções, as afirmações da fé, em detrimento de uma práxis que humaniza e atrai, portanto, não querida por aqueles que precisam – são inúmeros os públicos - continuaremos a desenhar uma caricatura de cristianismo, distante da convivência e amizade que o Nazareno expôs como modelo:

“Os fariseus e seus escribas reclamaram dos discípulos de Jesus: “Por que comeis e bebeis com os publicanos e pecadores?” (Lc 5.30)

“E aconteceu que todos os pecadores, como os coletores de impostos e pessoas de má fama estavam se reunindo para ouvir a Jesus…” (Lc 15.1)

“Todos, em meio à multidão, que presenciaram o que se passou começaram a murmurar: “Ele entrou na casa daquele pecador e vai hospedar-se lá!” (Lc 19.17)

Enquanto paredes, ornamentos, placas e indumentárias forem mais importantes que o convívio – aproximação, compreensão, audição,... – estaremos aumentando os tijolos de nossos muros e demarcando fronteiras de indiferença, escancarando o “nós, os santos” x “eles, os pecadores”. (Enfatizo que, graças a Deus, há iniciativas aqui e acolá de abordagens sensíveis àqueles desejosos, sob crises existenciais e sedentos de um sentido que o Evangelho pode dar!).

Enquanto não revermos nossos modelos – esses que expõem nossas entranhas apodrecidas -  charlatanice, farisaísmo moderno, marquetagem, predileções ou seletividades, bancadas,... Seremos soterrados pela tsunami que varre todas as instituições do país, perdendo, assim, nossa posição histórica de “saleiros” e “luzeiros” numa sociedade sob escombros.

Em suma: Pessoas, todas, precisam de Deus e de uma comunidade de amor. Sejamos a comunidade que sinaliza o plano de Deus para todos e todas. Igrejas combinam com portas abertas – as últimas e talvez as únicas – para transformar a sociedade.

Defendamos nossas convicções, sempre. Também sejamos humanos: Continuamos pecadores. Não somos os donos da Cruz! Não possuímos o monopólio da graça! O céu não pertence a uma Denominação! A porta é Ele! O caminho e porta continuam apertados mas ainda é possível acessá-las! Os de fora precisam de amigos e não de juízes. Discipulado é “discípulo ao lado” e não acima ou de largo: “Mas eu vos tenho chamado de amigos...” (Jo 15.15). Mudemos. Mas mudemos porque todos devem e precisam mudar. Não porque um grupo deve mudar mais que outros.

O Cristo ocidental, capitalista, de olhos azuis e cabelos bem penteados, esculpido nas engrenagens religiosas... O Nazareno do Novo Testamento não demarcou território ou selecionou públicos. Estava onde todos estavam. Modelos e discursos limitam, censuram, adestram e editam o Cristo, suas relações e seus discursos. Mas, calma aê!

Recebamos a todos e todas: São bem vindos pobres, negros, complexados, gays, lésbicas, travestis, transexuais, bissexuais, marginais, dependentes químicos... Acolhidos como pessoas; compartilhemos um jeito de ser, um estilo de vida inspirados no Nazareno: A convivência tem um poder que o próprio discurso desconhece!

Sem simplismos e reducionismos: Parece que ainda não sabemos lidar com as questões complexas do nosso tempo. Conviver, dialogar e acolher de forma amorosa e confrontativa: Quem tem medo..? By Geraldinho Farias

(*) Gravura de http:||imgkid.com

(**) Internacionalmente, a sigla mais utilizada é LGBTI, que engloba as pessoas intersex. Órgãos como a ONU e a Anistia Internacional elegeram esta denominação com um padrão para falar desta parcela da população. 

5 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo e por nos levar à reflexão, essa é uma questão que devemos encarar de frente e de forma bíblica.

    Abraços.

    Marcos Queiroz, pr.

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    1. Caríssimo amigo: Sim, precisamos refletir mais sobre o assunto. Grato por seu apreço. Abraços!

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  2. Concordo com tudo, mas acredito, pela própria Palavra, que há diferença de pecados (mais ou menos graves), embora, sem dúvida, todos sejamos pecadores e somente o evangelho pode transformar quem quer que seja ou como seja. Há um artigo no Voltemos ao Evangelho (http://voltemosaoevangelho.com/blog/2015/07/todos-os-pecados-sao-iguais-12-provas-que-existem-pecadinho-e-pecadao/) que trata do assunto "pecadinho", "pecadão" e por minha própria pesquisa, encontrei mais evidências a respeito. Contudo, também acho que não devemos rotular ninguém, pois somente quem estiver "sem pecado" é que poderia atirar a primeira pedra, e não é o caso de nenhum de nós humanos. Soli gratia. Abraços e também grande beijo nas "meninas"!

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  3. Discurso de um psicólogo cristão , muito mais do que de um Pastor.E se eu lhe disser que Deus é Homofóbico diante dos olhos da sociedade (termo criado pela sociologia ou opositores do cristianismo). A homofobia como a conhecemos se origina no judaísmo e o autor da homofobia é bem fácil de achar: Deus ! Em vários dos pronunciamentos Dele, (Deus),Ele exigiu que ficassem gravados por escrito, para que seu ódio ao homossexualismo fosse conhecido por todos os homens, macho e fêmea, para que não ousassem , em tempo algum desobedecê-lo. Não foi ele que mandou matar os homossexuais ? Consulte, Pastor,esse escritos que subsistem inalterados por milhares de anos para identificar quem foi o primeiro homofóbico que destila, claramente o seu ódio, negando definitivamente aos homossexuais, o direito de existirem. Mas, Pastor, vivemos no Tempo da Graça de Deus, e não vamos matar homossexuais, nem mesmo cometer qualquer injustiça ou violência de qualquer espécie. O que queremos é a conversão dessas pessoas. A conversa é longa. Uma coisa é evangelizar LGBTI, e outra é mantê-los no convívio santo da Igreja e até mesmo chamá-los de irmãos. Sabemos também que existem homossexuais membros de Igrejas, o que é uma afronta ao Senhor Jesus.

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    1. Caríssimo amigo: O texto é sobre receber (ato de manifestar apreço e respeito com) pessoas com orientações diferentes da nossa. Receber é boa educação, não teologia.
      As necessidades que a Bíblia descreve são reafirmadas: Fé, conversão, novo nascimento...
      Mas... Precisamos aprender com o Cristo - como e o que Ele fez com os fora-da-lei, os marginais, os pecadores de qualquer matriz.
      Muito grato por suas afirmações, concordo com todas elas.

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