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Ganhou o mundo com as mãos, os pés e... a cabeça! |
Rogério Muchi Ceni encerra sua notável carreira em poucos dias. Tornou-se mito por suas marcas espetaculares - algumas levarão gerações para serem superadas. E por isso será lembrado: É o atleta que mais vezes vestiu a camisa de um mesmo clube em partidas de futebol em todo o mundo - mais de 1.100 vezes; maior artilheiro com as mãos - mais de 120 vezes, e aquele que por mais vezes venceu por uma mesma equipe, entre outros recordes nos seus 20 anos de SPFC.
Mas, aqui, compartilho a desenvoltura de sua liderança – o atleta por mais vezes capitão por uma mesma equipe, outro recorde:
Ninguém é alguém sem nunca ter precisado de ninguém. Nilo Neves – sem o apoio da diretoria, o lançou aos 17 anos no Sinop (MT), quando era apenas o 3º. goleiro. A performance de Rogério é resultado dos treinamentos do competente treinador de goleiros Haroldo Lamounier. Um jovem talento precisa de oportunidade. Havia uma pedra preciosa no Sinop. O São Paulo abriu as portas.
Desenvolva e aprimore uma habilidade. É possível. Ao guarda-metas cabe defender. Ceni decidiu bater faltas e pênaltis. Como arqueiro seria apenas mais um. Como artilheiro virou lenda. Treinar, aprimorar à exaustão é a tônica de quem quer ser o melhor naquilo que faz.
Sempre há algo a melhorar e corrigir. Uma crítica que se fazia até a metade de sua jornada – se agachava no confronto com o atacante, são muitos os gols que tomou por sempre se ajoelhar no frontal – foi corrigida. Um líder deve saber ouvir. A diferença entre o acerto e o erro muitas vezes é ouvir a pessoa certa.
Dedicação profissional – não é viver a rotina, mas, ir além: Chegar mais cedo, sair mais tarde, sempre – é o signo de uma carreira bem-sucedida. Oscar Smith, a lenda do basquete brasileiro, sempre afirmou que de “mão santa” nunca teve nada: Credita suas cestas com precisão cirúrgica aos exaustivos treinamentos...
Ser excelente depende de incansável perseverança: Ceni aprimorou todos os fundamentos de sua posição. Sabe sair, se posicionar, orientar, repor... Chegar num ponto, lograr algum êxito, para muitos é a zona de conforto. Os últimos anos demonstraram sua aplicação em atingir a excelência.![]() |
Família é o berço de tudo! |
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O adeus do Capitão... |
Família – inúmeros atletas encurtam suas jornadas em baladas e noitadas porque prescindem do vínculo familiar. Ceni sempre primou pela família: Casado com Sandra, desde 2000 e pai das gêmeas Clara e Beatriz, de 9 anos. (A jornalista Sonia Raci empurrou o goleiro a assumir Henrique, 2, fruto de uma relação extraconjugal. Retratamos um líder, não um líder perfeito, como supõe sua aura de arrogância - uma crítica contumaz que se faz à sua persona). Sua educação foram legados por seu Eurydes e dona Herta, já falecida, com seus irmãos Rosicler, Rudimar e Ronaldo. O berço é e sempre será o ambiente ideal para forjar pessoas que fazem diferença.
Planeje e proteja sua carreira. Ceni se guardou de aceitar certos contratos cuja aventura poderia ter lhe custado ou manchado sua carreira; resistiu ao assédio de outros clubes. Tornando-se mito em seu clube compensa experiências outras, sobretudo as internacionais... Saber chegar; saber permanecer; e saber sair. Aqui onde reside a instabilidade e decisões erradas de muitos.
Um líder deve cuidar e proteger sua imagem. Ceni não se permitiu ser notícia negativa ao longo de sua carreira. É um dos atletas que detém um dos maiores goodwill (conjunto de elementos não materiais ligados ao desenvolvimento de um negócio, pontos que valorizam a reputação de uma empresa), aqui, considerando todos os atletas, de todos os esportes brasileiros. No mundo das imagens, a descrição familiar é uma inversão em tempos de Idade "Mídia".
Num universo em que seus praticantes
são prolixos, sem posições ideológicas, discursos ensaiados, memes...
Rogério lê, canta, toca violão e guitarra, se expressa bem... Opina com
desenvoltura sobre outros habitats. Ganhou o mundo com as mãos, os
pés e... a cabeça! (Talvez seja isso que incomode num gerente ou técnico e
tenha lhe custado não ser titular nas copas de 2006 e 2010).
Quando fazemos
nossa parte, tendemos a melhorar nossa equipe. O SPFC é o time que por mais
vezes consecutivas manteve em seu escrete as melhores defesas. É tradição.
Sempre dizemos: “Um bom time começa por um bom goleiro.” O sistema defensivo
depende não de craques, não de prodígios, mas de uma boa sincronia entre seus
componentes e, como o goleiro assiste a partida de frente, tem de saber
orientar.
Dentre os petardos apontados para sua meta, o arqueiro foi acusado muitas vezes de escalar o time, discriminar colegas e influenciar decisões supras. A presença do líder se faz perceber. Da mesma forma o time enfrentou uma sucessão de instabilidades e crises após o tricampeonato brasileiro e, lá estava o líder presente, fazendo-se a voz e a vez, quando muitos se omitiam.
Muito se descreve sobre a motivação dos atletas profissionais: O que se pretende, o que se busca. Certa vez Kaká afirmou que depois de ser o melhor e conquistar tudo, desejava ser o melhor de novo e conquistar tudo outra vez. Depois de conquistar tudo, qual o desejo de Ceni? O atleta termina a carreira com seu melhor desempenho – assistimos senão o melhor, um de seus melhores anos. Quanto mais velho, melhor. Isso é motivação!
Aqui estão algumas razões que levaram este paranaense com fama
de soberbo a arrebatar uma legião de admiradores além das fronteiras de seu
clube, cujo legado é uma trajetória-espelho que transcende o universo
esportivo. (Imagens: AE; Manuela Scarpo, RN; Rubem Chiri) By Geraldinho Farias
Sempre tive dúvidas sobre o que de mal diziam de Rogério Ceni. Não seria razoável aceitá-las sem entender porque o São Paulo o mantinha sempre na liderança de sua equipe. Geraldinho esclareceu tudo.
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