Salomão – o monarca hebreu, sábio, escritor, discorda da vida-estética: Há tempo pra chorar, despedir-se, derrubar, cair, sofrer... O Falsobook é o mundo da ilusão, da maquiagem, da vida superficial, distorcida, ou, estética.
Alí somos personagens de nós mesmos. Viajamos, acenamos, interpretamos pra “produzir” manchetes narcísicas, egolátricas. A gente não vive o (prazer do) evento em si mesmo, mas vive o evento
“para o” mundo. Não basta a experiência se não for mostrada e entregue no formato de megapixels. Aliás, experiência que não for exibida não aconteceu. Se não marketar o evento, é como se o mesmo não existisse.E aquele discreto e
maduro, que sabe discernir o púbico do privado, esse, o que dirá à
multidão de amigos voyeur inscritos na Rede – que sua vida é parada,
sem emoção, tediosa, depressiva???
O Falsobook tem como “amigo” aquele que foi aceito em sua página ou recomendado, sugerido por um (des)conhecido de um (des)conhecido de um conhecido. Afinal, o que é amizade? Para os falsobookeiros é “curtir”. É “compartilhar” o que gostou. Quantos se orgulham de ter 500, 700, 1000 “amigos”? Na real, quantos o visitaram quando você enlutou; ofereceram ajuda quando perdeu o emprego; quantos foram presentes de verdade??? Amizade é mais que um click.
Amigo é aquele que, morando na sua rua, bairro, por ocasião do seu aniversário escreve: “Parabéns!” ou irá até você? Vai gastar créditos numa ligação? Vai visitar-lhe para felicitá-lo ao vivo e em cores? O da rede é tão pessoal, quanto uma mãozinha azul com o polegar erguido no dia em que você está feliz por ter nascido...
Há os virtuais consumidores vorazes da vida alheia, famélicos por bisbilhotice...
Há os compulsivos por tornar “importante” sua desimportância... Afinal, temos que lidar com a frustrante realidade de que não somos celebridades, mas, (muitos) mediocridades...
Há os que fazem da página, um diário. Compulsivo postador. Descreve step by step tudo o que vive. Leva a sério o pedido da timeline: “O que você está pensando?”
Há os que usam a Rede como vaso de descarga... Inconveniências, grosserias, deselegância...
Há os que usam-na
como divã: Desabafos, confissões existenciais, indiretas...
Mostrar as vísceras em praça pública é tendência? Intimidade à céu aberto é da
civilização? Quais limites nessa terra-de-ninguém que se tornou a Internet?
Mas da minoria é o
sujeito que sabe distinguir a “rede” da convivência; o “só-cial” do humano e
espiritual; o “amigo” – cadastrado, inscrito, contato – do amigo de vivência; a
presença das manifestações na fibra ótica; a visita ao aceno virtual; o abraço
caloroso ao “curtir”. (Exceto, claro, se uma distância oceânica os separar).
Essa minoria que reconhece não editar sua vida, que tem senso do ridículo,
limita-se à manifestações pontuais, i.é, pensa antes de escrever; censura,
antes de postar; maduro, administra seu tempo a ponto de postar sem viver na e da página.
Sabe que o Falsobook é meio, não finalidade. Sempre sem
generalizações. E que a vida é mais que isto, melhor, é tudo o mais do que não
está alí. By Geraldinho Farias
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