sábado, 22 de novembro de 2014

A ERA DO GELO

Scrat: O hiperativo não se relaciona; vive com sua noz.
A noz representa um tablet ou smartphone na vida real...

Estamos dispersos. Vivemos dispersos. Denuncio aqui a “era do gelo”. Empresto o título da série animada (Ice Age, sequência de quatro filmes desde 2002 realizados pela 20th Century Fox e produzida pela Blue Sky Studios) para reclamar que vivemos uma era caracterizada pela insensibilidade, apartamento, e carências afetivas e efetivas de contato, calor e diálogos humanos. Estamos congelando cada vez mais!


Ao adotar as fibras ópticas, redes virtuais e a tecnologia como nosso meio de acesso, nossa civilização prescinde de uma premissa vital à nossa saúde: O calor, o cheiro, a companhia e parceria humanas. Os acessos e interações tecnológicas, como alguém já advertiu, estão aproximando os distantes, mas separando os próximos.

As conexões, encontros, vivências intra-grupos ou inter-grupos – seja na igreja, escola ou família – estão escassas, em extinção. As relações são cada vez mais superficiais. Nos cercamos cada vez mais de cuidados ao relacionar com outros humanos. Há medo, receio, desconfiança, expectativas estudadas.

O carro virou nosso habitat. É parte do corpo humano. Não é apenas meio de transporte. Cada um sonha com o seu. Vai às ruas disputar espaço. Estamos blindados por armaduras medievais motorizadas.

Uma população cada vez maior invade os condomínios. Vivem cercados. É o presídio urbano. Conceito de clube. Prescindimos cada vez da presença do outro.

Reencontrar pra matar saudades, uma roda de churrasco ou sarau improvisado, são iniciativas que vão na contramão do mundo.

O amigo-oculto, “elefante-branco” e que tais de fins de ano são protestos. Devemos estendê-los para o resto do ano.

A seguir uma panorâmica amostra dos personagens de Ice Age:

Scrat: O rato que nunca falou uma palavra e tem como única obsessão manter consigo sua noz, aparentemente sua única companhia. Vive num perde-acha. Que poderia ser um Tablet ou Smartphone na real. Scrat é um fora de órbita, como tanta gente. Não interage. Sua relação é com o brinquedinho – que não é para comer, é só para possuí-lo e dominá-lo. A noz é o símbolo da coisificação moderna.

Manny é outro solitário e mal-humorado mamute que vai na direção contrária dos demais. Salva Sid, mas tenta se livrar dele. Na real há bipolares que nos desafiam com suas ondulações.

Sid é um bicho-preguiça tagarela que foi abandonado pela família. Tenta conquistar Manny, que o acha irritante e dado às confusões. Os dois acham um bebê humano (Rosham) e vão tentar devolvê-lo à família.

Então, entre tapas e beijos, Manny e Sid se mantém juntos por causa do neném.

Diego – tigre-dente-de-sabre da saga - é o traíra. Faz o jogo do tigre Soto, o mal da história. Diego se junta à dupla pra sequestrar o bebê. Traíras fazem parte da convivência. A Era do Gelo é bem parecida com nossa realidade. Diego vive crise de identidade – lealdade ao antigo bando ou aos novos amigos...

Sugiro que cada um de nós mantenha um encontro familiar periódico. Se não for possível mensal, quiçá semestral ou, até mesmo, anual. Voltemos à “era do fogo” ... Fogo humano. Porque viver abaixo de zero só combina os personagens do desenho. E com os abomináveis homens e mulheres das neves. 

O diálogo melancólico e existencialista da música-tema de Frozen, diálogo de Elsa e Ana – Uma Aventura Congelante (2013) é um clamor do nosso tempo:

“...Você podia me ouvir e a porta abrir
...Eu quero só te ver
Nós éramos amigas de coração
Mas isso acabou também
Você quer brincar na neve?
Não tem que ser com um boneco...

...Faz tempo que eu não vejo mais ninguém

Até com os quadros nas paredes já falei...
...Por favor, me escuta
Todos perguntam sem parar
E me encorajam para te dizer
Mas espero por você
Me deixa entrar
Só temos uma a outra, o que vamos fazer?
Temos que decidir
Você quer brincar na neve?”

By Geraldinho Farias

2 comentários:

  1. Frieza, my friend... dureza... (com todos os trocadilhos possíveis!).

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  2. E olha só a ironia - pra publicar meu comentário nessa "máquina", ela exige: "prove que você não é um robô" e sou obrigada a me render a ela, interagir com ela, como se fosse mesmo um diálogo e digitar os tais números que ela impõe... ou nada feito. A máquina fria é quem dá as cartas...

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