EM QUE MARCHA JESUS ESTARIA???

A Marcha para Jesus é um evento mundial. Podemos discutir sua validade e coloca-la no devido lugar – é movimento social, evangelização ou entretenimento? 

Em junho os brasileiros foram às ruas e, 1 milhão protagonizaram um singular movimento contra aumento de passagens, corrupção etc. Chamou a atenção a mobilização pelas redes sociais. A tal Marcha para Jesus já chegou a 3 mi nalgumas edições, e aqui me refiro a S. Paulo, capital. Mas, a desconexão dos ditos crentes com o povo brasileiro é oceânica! (Aliás, a marcha aqui já foi para o Maluf, Pitta e outros...)

Quais as causas, as bandeiras, os motivos do povo evangélico??? Ao ligar as TVs em diversos horários vemos de tudo – prosperidade, corrente dos 12, campanha dos 70, corredor dos 318... Sal, água-benta, cruz, cajado, espada, água do Jordão... Só não se vê crítica, denúncia ou protesto contra o estado de declínio em que se encontram as famílias brasileiras... Nunca houve um tempo em que a “pulpitocracia” deveria estar tão em comunhão com as ruas!

Por sua contundente voz contra a hipocrisia, religiosidade e malandragem de seu tempo; por sua sensível solidariedade aos párias, explorados e marginais; por sua paixão pela periferia; por sua sensibilidade às minorias – mulheres, samaritanos, pessoas com deficiência... Arrisco que Jesus estaria marchando com o povo brasileiro. Os profetas urbanos estão tão alienados que seriam eles mesmos, alvos dos protestos que irradiaram por estes brasis!

O evangelicalismo acostumou-se com a paisagem de gadaras e pavilhões de miseráveis. A verdade é que muitas denominações e igrejas estão comprometidas com o stablishment, leia-se, com o sistema. Muitas igrejas são currais eleitorais; seus púlpitos são palanques; e suas ovelhas, eleitores sob tutela. Parlamentares da tal “bancada evangélica” encabeçam a lista de escândalos que chamuscam a República. Não causa surpresa o crescimento do “MSI” – movimento dos sem-igreja: Aqueles que, segundo o recenso do IBGE/2010 confessam a fé evangélica sem no entanto participarem de nenhuma grei...

O Protestantismo chegou aqui na virada do século passado. Seus missionários-heróis se entregaram à missão de semear no solo nacional a fé cristã - sem espaço, mídia, voz ou vez. Sob perseguição, discriminação e pedradas, derramaram sangue, suor e lágrimas. E aqui estamos nós hoje, com a conversão de famosos, a fé “pop”, e estrelas do gospel contratadas pela Som Livre... Antes, estávamos de lados opostos, hoje, somos “globais”! Sempre que a igreja se aliou a algum poder, fez conchavos com o sistema, perdeu algo de sua essência.

Cabe neste momento de marchas tão diversas, o papel da comunidade assumidamente evangélica e protestante no Brasil. Com 1 mi de brasileiros, paramos o Brasil. Com 3 mi de crentes, não dizemos a que viemos. As pedras estão clamando!

Reafirmo que a igreja não é de direita ou de esquerda, muito menos de centro. Não é vermelha ou azul; não é da estrela ou do tucano: A igreja é do alto. A igreja está acima e além do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Igreja é o povo de Deus, Senhor dos céus e da terra. E sua atuação é autorizada pelo Senhor e cabeça, Jesus Cristo. Eis uma boa hora para que os protestantes protestem. Daria muito mais que 95 teses nas portas do shoppings – templos e catedrais do consumo. “Por que orar nesta hora? Mande o povo que marche!” (Ex 14.15). By Geraldinho Farias