Mamãe, Juvanira Farias de Souza Rocha, por ocasião de sua formatura no Magistério, em 1964. Professora por mais de 30 anos... |
“A tabuada não basta. Como não bastam funções hiperbólicas, variáveis
complexas, orações subordinadas. Não bastam Euclides e sua geometria, não
bastam as teorias. O professor deve ensinar ao aluno a arte de viver com
dignidade, com amor, com liberdade.
Não basta falar das guerras, das batalhas, das conquistas — tem que
ensinar o aluno a conquistar-se primeiro a si próprio. Ensinar-lhe medir
distâncias é pouco — necessário vencê-las. Não basta saber o nome dos rios,
temos que fluir. Equações algébricas não resolvem tudo, antes é preciso
resolver-se. Em vez das mentiras históricas, o professor deve ensinar as
verdades, e o melhor modo de encontrá-las.
Não basta falar de política, o professor tem que ser democrata. Deve olhar nos olhos do aluno e dizer-lhe como a vida é. Aumentar-lhe a coragem de crescer. Ensinar-lhe a lógica das emoções e o amor pelo raciocínio.
O professor transmite sabedoria, incentiva o bom senso e o bom gosto.
Mergulha fundo no oceano de dúvidas que o aluno tem no coração, e traz o tesouro
pulsante lá submerso. Educa, orienta, aviva a chama na consciência de cada. Ao
polir a pedra bruta consegue intenso brilhante.
Bom professor é aquele que não exige, não cobra — obtém. Não corrige —
mostra o porquê. Não hesita quando avalia, não constrange quando examina. E
nunca faz da nota uma espada.
O bom professor não só ensina, compreende. Não levanta a voz, amplifica
o verbo, convence. É sério — mas ri da própria seriedade...
O professor mostra ao aluno a diferença entre o silogismo e a serpente.
Ensina-o a extrair raiz quadrada com poesia. Demonstra como ser ousado sem ser
burro. Jamais abusa da confiança do aluno, não lhe invade o espaço, não procura
condicioná-lo... Infunde-lhe o respeito absoluto pela vida. Prefere o aluno
criativo ao bem-comportado. Nunca o explora, é só o conquistador de um novo
mundo, que leva o aluno a ver mais — mais alto e mais longe.
Não levanta paredes em torno do aluno, e sim derruba aquelas que houver.
Abre-lhe as portas da vida, com veemência... E não faz da escola uma cela.
...Não o sufoca com preconceitos nem com juízos de valor. Nem lhe causa
medo algum. Transmite confiança, pega na mão, aplaude, incentiva, suporta,
conduz, ampara na travessia.
...Aranha em teia de luz, o professor não prende — liberta. Carrega o
giz como fosse uma flor, com amor...
Considera o aluno obra de arte quase inacabada...
O professor é o amigo sincero que ajuda o aluno a superar os limites da
vida, desbravando com determinação e ousadia essa fantástica região chamada
Experiência. Enfim — o professor é o Mestre.” De Edson Marques in Solidão
à Mil.
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