terça-feira, 8 de novembro de 2016

LÍDERES OBCECADOS POR NÚMEROS

O Brasil é um dos maiores mercados consumidores de metodologias de crescimento de igreja. Sim, já vimos o desfile de diversos modelos: Rede Ministerial, Igreja Dinâmica, G12, Propósitos, MDA etc. A cada verão pululam

novidades no mercado. São editoriais, campanhas de marketing e a invasão de grifes que prometem “turbinar” o ser e viver igreja por aí a fora. Crescer é meta, obsessão, fome ou sei lá o que. Não faltam líderes que topam tudo por números.

Obcecado vem do latim “obcaecare” = Ob, à frente + caecare, cegar. Tornar cego. A obsessão de líderes por crescesimento não é mal em sí mesmo. Nos alegramos quando a comunidade cresce. Mas, a obsessão de muitos para atingir o alvo é um fenômeno preocupante. O discurso dos números lança seu trabalho em comparação a de outros, numa concorrência branca e, tem criado uma noção distorcida de que só há êxito se exibirmos números, reduzindo a análise à quantificação, apenas. Nada mais capitalista e pouco espiritual!

Há líderes que não perdem uma experiência: Antenados, contumazes clientes das diversas marcas que já saíram da moda e replicadores das atuais. Ano a ano aplicam modelos de crescimento. Quando conversamos sobre o último... Me descubro desatualizado: Eles já migraram para outros e novos... 

Não sei se suas comunidades os admiram pela versatilidade em adotar e mudar rapidamente ou... Os vêem como perdidos, daqueles que atiram pra todo lado. “Geraldinho, começamos o ano com os 40 dias com propósito, íamos aplicar o Multiplique da CBB, mas, fui num congresso MDA, e agora no final do ano vamo entrar na visão” (...) O sujeito adota, aplica, implanta, não saberia responder por quais razões...

Lembro de um líder que, sob efeito da novidade do G12, tentou convencer-me de que “esta sim, é a unção para os últimos dias”. E, desenvolto, me contou que “agora faz uma leitura bíblica com unção”. “Agora experimento a fé viva!”, bradava. Ora, sobre aqueles arroubos infantís, questionei-o se seus seguidores não poderiam concluir que lidaram com um impostor ou falsário até o momento em que havia descoberto “a” Visão... 

Sobre os modelos que surgem, necessário lembrar:

Metodologias não são sagradas. Nenhum dos métodos deve ser vendido como “o” método

Todos as metodologias possuem algumas semelhanças; vantagens e desvantagens; podem ser assimiladas de forma mais simples ou mais complexas

Ingenuidade pensar que todas as comunidades são iguais e absorverão as experiências das mesmíssimas formas e colherão os mesmos resultados

Nossa cultura não aprecia formatos que exigem demasiada disciplina - isso tem que ser considerado

Tempo: Etapas devem ser respeitadas

Sua experiência é apenas... Sua experiência! Nada de “vender” a sua vivência para que outros a repliquem, afinal, comunidades e estilos tem características peculiares

Interessante é a proclamação do modelo; alguns mais exaltados “proclamam” a grife; fazem proselitismo, visando adesão de outros

A exibição de quantidade não necessariamente denuncia uma estabilidade ou saúde (qualidade) nas relações comunitárias

Lamentavelmente vemos líderes flertando com desvios, quando não, adotando-os; outros, negociando princípios para adaptar a comunidade e a doutrina ao padrão de determinados modelos (questionáveis). Ainda aqueles que perdem a identidade e se desconectam de sua própria história, reescrevendo-a, apagando o legado que os trouxeram até aqui.

Relações entre pares são discriminadas: O sujeito que aderiu a uma Plano, age como sendo de uma elite, afastando-se da Denominação. Não há espaços para indivíduos que sigam o convencional, o tradicional, estes, do "baixo clero"; e sobram constrangimentos para líderes de comunidades de 20, 30, 40 pessoas. 

Divisões são provocadas pela imposição de formatos de cima para baixo; vez por outra recebemos informações de cisões e esvaziamento de comunidades históricas. Sobretudo naqueles “feudos” onde o líder deve escalar uma pirâmide, tornando-se tutor de discípulos que farão outros que formarão novos tutores sob seu controle.

Por identificação ou militância, há o fenômeno do surgimento de sub-denominações, tribos que se juntam formando as próprias fileiras de líderes, comunidades e ministérios. 

Nesse universo, graças a Deus, há igrejas que se encontram numa experiência de fortalecimento comunitário, amadurecimento e natural crescimento. Que bom! Na responsabilidade de líderes que não topam tudo para crescer, adotam modelos coerentes com nossas doutrinas e não “vendem” a ilusão da liderança, igreja e experiência perfeitas que todos devem copiar.

Vale lembrar que muitos números exibidos são pelo efeito de ser “sal do sal” ou “luz da luz”: Comunidades são inchadas pela novidade de um modelo e atraem para suas fileiras membros de... Outras comunidades.

Que cada uma encontre o que serve para sua experiência comunitária. Mas, preferencialmente não se distancie do que nos foi caro: A identidade, a coerência e o cooperativismo. 

Algumas experiências propõe não apenas o fazer discípulos, mas, mexe por dentro no jeito de ser, viver e fazer igreja. Isso não deixa de ser um perigo – ao desprezar legados e a importação de aberrações, condutas ditatoriais e controle sem crítica de líderes sobre os leigos.

A gestão do Multiplique da JMN surgiu de forma tardia, quando muitas comunidades já haviam embarcado naqueles modelos que não são apenas pa-ra-cres-ci-men-to, mas também pa-ra-des-con-fi-gu-rar uma afiliada da CBB. Ao menos, o Multiplique não submete uma comunidade ao distanciamento visto que possui em seu DNA nossas caras doutrinas.

Sim, devemos crescer! Números também indicam crescimento, mas não somente; há muitas formas de uma comunidade crescer sem necessáriamente ostentar números de adesões e clientela, como soy parecer. A pressão por resultados é uma das causas de adoecimentos de líderes sob pressão. A medida dos números também contaminou comunidades que não possuem outra medida para analisar o líder, senão os números de membros.

O livro de Atos aponta a evolução numérica da igreja - 2.000, 5.000... "porque a cada dia o Senhor acrescentava os que iam sendo salvos", 2.47 Como corpo, igreja existe para crescer. Estagnação por muitos anos deve ser avaliada. Sobre crescer, há muitos aspectos a serem explorados. Aqui não há uma crítica ao crescimento, mas sua avaliação tão somente por números e o como o fenômeno é experimentado.

Modelos são meios, não fim em si mesmos. Há experiências muito interessantes e animadoras, mas que, não tornam uma comunidade melhor e impecável por conta destas. Sobriedade e equilíbrio, é o que precisamos ao adotarmos uma estratégia; mas não aceitemos trocar a primogenitura por um prato de estatística. By Geraldinho Farias

7 comentários:

  1. Muito bom seu artigo. Gostei. Vc eh pastor em alguma igreja? Já aplicou algum modelo de crescimento? Quantos membros tem sua igreja?. Acho que focar só em números realmente é um grande perigo, mas cair na antiga teoria que igreja boa é igreja pequena, eh um baita de um sofisma. Acho que temos que ter equilíbrio em tudo, caso contrário, poderemos ir pra outro extremo. Deus ama os números. Prova disso que tem até um livro na Bíblia. Kkkkkkk. Valeu.

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    1. Olá, caro amigo: Sim, você tem razão. O texto é uma ponderação sobre equilíbrio necessário - crescer sim, sempre; estagnação, nunca; contra o sofisma apontado. Grato por sua apreciação bem-humorada. Abraços!

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  2. Pr. Geraldinho Farias, gostei muito desta palavra. Valeu a admoestação por ser muito oportuna. Minha esperança é que "a identidade, a coerência e o cooperativismo" não sejam engolidos pelos "numerólotros" oportunistas deste nossos tempos. Parabéns!

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    1. Olá. Grato por sua apreciação. Tempos trabalhosos esses, já profetizados na Santa Bíblia. Abraços!

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  3. Seu artigo tenta ser equilibrado, o que é louvável. Ao menos você não chega ser daqueles que inventam argumentos absurdos e mentirosos contra os que têm experimentado crescimento e têm sido achincalhados pela denominação como hereges, neopentecostais, etc . Apesar disso, espero estar errado, parece-me que você não deixa de dar uma escorregadela tentando um jeitinho de justificar o injustificável que são os tradicionalismos denominacionais do tipo 'Somos um pequeno povo mui feliz', ‘Eu nasci assim, eu cresci assim, E sou mesmo assim, vou ser sempre assim, Gabriela!”.
    Concordo que precisamos de equilíbrio, discernimento, zelo, respeito, cuidado, amor, mas não podemos ser atrofiados por um conservadorismo burro e embolorado que atrofia as igrejas. Não sei em que parte da Bíblia MCAs, UMHBs, JUBAs, etc. valem mais que discipulado, amor, serviço, cuidado, oração, quebrantamento, etc. Ah, sei! Não é isso o que estão dizendo? Na prática, sim, pois é em defesa desse modo de ser igreja que se combate os que não querem ser igreja desse jeito porque desse jeito, não tem jeito!
    Abraço respeitoso
    JRS

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    1. Olá. Confesso que muitos leitores me julgaram como advogado do "jeito Gabriela de ser", apesar de o conteúdo afirmar o contrário - "crescer sempre, estagnação, nunca"... Aguarda aí que vem o outro extremo: Uma vanguarda que ainda não compreendeu um novo tempo - o modus operandi americano funcionou até certo ponto mas, hoje, está exausto. Sim, concordo contigo: Discipulado é o caminho! Valeu.

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  4. Excelente artigo... muito bom pra refletirmos e aprendermos.. Abcs Pr. Geraldinho

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