quinta-feira, 15 de setembro de 2016

DEPRESSÃO: DEUS, TERAPIA E FLUOXETINA

"Minimizar os efeitos da depressão é como tratar onça como um
 inofensivo gatinho. Confundir felinos é flertar com o perigo".

Nalguns ciclos religiosos, especialmente aqueles cuja mística e espiritualidade são expressos através de altos volumes emocionais, poucas enfermidades são tão minimizadas, discriminadas, sublimadas ou distorcidas quanto a

depressão.

Comumente aqueles e aquelas vítimas de depressão recebem o rótulo ou a depreciação de “frescos”, “preguiçosos”, “sem fé”, “fracos” etc. Sob estigma, vítimas de transtornos disfarçam a condição o quanto podem, se negam a procurar ajuda e, pasmem, são advertidos sob mantras e clichês religiosos: “Ora que melhora”, “Deus está no controle", "Creia mais" etc. 

Isso cria ou mantém barreiras para que pessoas que sofrem processos depressivos não aceitem ou busquem ajuda especializada. Que ortopedistas cuidem de traumas ósseos, cardiologistas de hipertensos e oftalmologistas cuidem dos olhos não soam como ameaças ao stabelishment eclesiástico; mas os profissionais da saúde mental – sem generalizações - e sob uma fronteira ainda a ser superada, são tidos como rivais, concorrentes ou ameaçadores das relações de controle ou poder entre pastores, padres, pajés ou guias e seus párocos.

“Depressão não é doença”, vaticina o Autoconfrontação (BROGER, John C. Autoconfrontação - Um Manual de Discipulado em Profundidade. B.C.F. - 2 ed. 1996, p. 318), manual adotado em várias escolas de formação de pastores. “...Muitos sintomas e distúrbios (temporários ou crônicos) definidos como depressão são consequência de hábitos não-bíblicos e/ou reações pecaminosas para com circunstâncias e pessoas.... Tem como origem numa vida em desacordo com a Bíblia”, descreve o Manual.

O Aconselhamento Bíblico de John F. MacArthur Jr. e Wayne A. Mack, diz: “...Surgiu dentro da Igreja um forte e bastante influente movimento que procura substituir o aconselhamento bíblico no corpo da Igreja pela 'psicologia cristã' - técnicas e sabedoria adquiridas a partir de terapias seculares e aplicadas por profissionais que recebem por seus serviços. Os que têm liderado esse movimento, via de regra, soam levemente bíblicos. Isto é, eles citam as Escrituras e misturam ideias teológicas aos ensinamentos de Freud, Rogers, Jung, ou qualquer escola de psicologia secular... Tem aberto a porta para uma variedade de teorias e terapias extrabíblicas. Na verdade, tem deixado muitos com o entendimento de que a Palavra de Deus é incompleta, insuficiente, obsoleta e incapaz de oferecer ajuda aos mais profundos problemas emocionais e espirituais das pessoas. Esse movimento tem impelido milhões de cristãos a buscar ajuda espiritual longe de seus pastores e irmãos na fé, introduzindo-os nas clínicas psicológicas... (Supondo – acréscimo meu)  ser mais útil que os meios espirituais que visam a afastar as pessoas de seus pecados. Resumindo, ele tem diminuído a confiança da Igreja nas Escrituras, na oração, na comunhão, e pregação.” (MACARTHUR JR, John F.; MACK, Wayne A. – Introdução ao Aconselhamento Bíblico. São Paulo, Hagnos, 2004. Cap. 1, p. 22). 

Jay E. Adams em seu “Aconselhamento Noutético”, adverte sobre os riscos de se adotar práticas psicológicas em detrimento das Escrituras. E que princípios e métodos científicos são antagônicos às suas convicções evangélicas. Adams não admite tratar do pecado como se fosse uma doença. (ADAMS, Jay E. – Conselheiro Capaz. São José dos Campos, Ed. Fiel, 2003).

Vez por outra somos informados de que fulano, inflado por experiências místicas num culto religioso foi instado a interromper tratamentos, declarar-se curado ou lançar fora seus remédios. O filme “Promessa de Um Milagre” (Stephen Gyllenhaal, EUA – 1988) descreve o drama real da família Parker que, sob a influência de um pastor interrompeu o uso de insulina em seu filho diabético. “Curada”, a criança morreu... A discussão entre fé e razão é secular. Os adeptos de denominações que vêem conspiração da ciência contra a religião, ou mesmo fanáticos, são terrenos férteis para que verdadeiros absurdos se cometam “em nome do Deus”.

Essa realidade tem sido atenuada à medida em que informações são veiculadas e a explosão de depressão, transtornos de ansiedade e suicídios vão vitimando indivíduos de confissões religiosas de todas as matizes.

Há 40 anos o Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos investe na intersecção entre religião e saúde mental, reunindo milhares de profissionais da saúde – psicólogos e psiquiatras cristãos em todo o Brasil, denunciando o fim da Idade Média. Há crescente interesse de ministros religiosos – especialmente pastores batistas - em estudar a Psicologia e a Psicanálise.

Depressão, pânico e fobia são doenças descritas na Classificação Internacional de Doenças, em sua 10ª. edição, o popular CID 10 (F32 a F33) e no Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, em sua 5ª. edição, o popular DSM V – manuais para profissionais da saúde mental que lista diferentes categorias de transtornos mentais e critérios para diagnosticá-los, de acordo com a Associação Americana de Psiquiatria em uso no mundo inteiro. Sim, vez por outra ainda devemos reafirmar que Depressão é doença, “que acomete o humor (afeto), o pensamento, o julgamento e o corpo (fadiga, insônia, volição) do indivíduo, levando a uma pior qualidade de vida - desânimo, angústia e desesperança - através de uma incapacitação temporária e prejuízos de gravidade variável.”

O processo depressivo pode ser Leve/Discreto – Alguns sintomas depressivos e esforço adicional para fazer as coisas necessárias; Moderado – Muitos sintomas depressivos que freqüentemente a impedem de cumprir suas obrigações; ou Grave – Quase todos os sintomas depressivos que a impedem (imobilizam) de exercer suas atividades diárias.

É possível que o indivíduo sob estado depressivo estabilize seu humor e supere o drama. A terapia Psicológica acrescida da administração de remédios por um Médico Psiquiatra produzem saúde. Afinal, Deus mandou que o homem exercesse domínio sobre a natureza, guardando-a e cultivando-a (Gn 1.28 e 2.17). E a origem da ciência como recurso e provisão para a nossa saúde é mais uma das boas dádivas do Criador: “Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes” (Tg 1.17). Portanto, use-os, sem culpas.

Sim, o cultivo da fé em Deus, as relações fraternais com os irmãos de fé, a rede de apoio da igreja e práticas espirituais como a meditação e a oração – reconhecidos por inúmeras pesquisas como exercícios úteis na reabilitação de enfermidades – somam positivas na intervenção médica!

Deus faz milagres e os antidepressivos comprovam-no. O Senhor Deus usar meios como Clonazepan, Fluoxetina, Paroxetina, Sertralina e Lítio para re-fazer a saúde de alguém não o torna menos Deus, afinal, Ele usou até mesmo saliva para curar (Jo 9.1ss). Quando necessário psicólogos e psiquiatras são nossos aliados, e não concorrentes dos ministros religiosos. Pastores devem apascentar sugerindo os profissionais da saúde mental no bem-querer de suas ovelhas. A saúde integral (bio-física-psico-espiritual-social) implica interdisciplinaridade. Deus usa cada um dos saberes em nosso favor.

Ignorar ou minimizar os efeitos da depressão é como tratar onça como um inofensivo gatinho; confundir felinos é flertar com o perigo. Em Nome do Pai, você não será menos crente por fazer uso de medicação e Deus não será menos poderoso por usar cientistas e drágeas para restaurar seu bem-estar. By Geraldinho Farias

(A medicalização excessiva, os abusos e limites da indústria farmacêutica em breve serão temas de nossa página. Aguarde.)

8 comentários:

  1. O artigo apresentado é de grande importância educativa. Sem explicação plausível, muitos de nós cristãos -líderes, inclusive -,veem a cabeça como uma caixa oca (simples oficina do Diabo?), e não como um grande emaranhado com bilhões de ligações nervosas que ao apresentarem um problema entre elas, causam um grande curto-circuito no cérebro, exigindo sérias reparações por parte de especialistas. Um abraço; Pr. Linaldo

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  2. Caríssimo amigo: Como os céus, o fundo do mar, a mente é das estruturas mais complexas. Recomendo o desenho Divertidamente (2015). Grato por sua apreciação. Abraços!

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  3. Câmbio, terra... Rogério Azevedinho chamando. Td bem, meu irmão querido? Esse assunto me interessa demais. Posso fazer uma consideração? Pensando em hipótese: Um irmão em Cristo desenvolve um quadro clínico de depressão, fruto de uma tristeza profunda e contínua por não ser reconhecida pelas suas habilidades profissionais. Sua frustração reside no fato de que os outros não enxergam o seu valor profissional, o que impede sua ascensão financeira. O quadro clínico da condição depressiva deve ser aliviado com as medicações que você conhece melhor do que eu, sem dúvida alguma. Agora, consideremos: Se tal indivíduo não for biblicamente confrontado, por exemplo, com o fato de que "a vida de um homem não consiste na abundância de bens que ele possui"(Lucas 12.15); e/ ou com o fato de que nenhum de nós deve pensar "sobre si mesmo mais do que convém" (Romanos 12.3) - (certamente você conhece esses textos e outros muito melhor do que eu. Não insinuo o contrário aqui, por favor, meu parça!) Se ele não for exposto à verdade, em amor, não poderá ficar longamente ou até definitivamente debaixo de tais medicações enquanto a fonte da questão (o coração ansioso por reconhecimento humano e sedento por evolução patrimonial) não é sondado pela palavra de Deus, a fim de promover uma mudança permanente no seu modo de pensar e, por consequência, de agir? NESSE SENTIDO (ênfase amável) não estaríamos, de certa forma, combatendo os sintomas com medicação (de efeitos colaterais consideravelmente debilitantes, se não me engano) sem nos apropriarmos das riquezas bíblicas, suficientes para sanear o coração? He he... Embora não goste de discussões via web, creio que seu blog seja um fórum adequado. Um abraço, meu irmão em Cristo! Peace!

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    1. Olá. O conteúdo analisa a resistência de "alguns ciclos" que resiste a superar a fronteira religião x saúde mental.

      Por isso minimiza-se a doença; e, sem generalizações, considera os profissionais da saúde mental como "concorrentes" de ministros religiosos.

      Mas, especificamente: Não dá para reduzir a causa/fonte de um processo depressivo numa frustração específica - a profissional. É disso que tratamos no texto: O perigoso simplismo. Dizemos: "Estou com dor de cabeça" para todas as dores de cabeça - independente de sua origem, frequência, efeitos... A depressão processo por demais complexo! Ainda que um processo possa ter como gatilho uma ruptura, luto, desemprego, ou... frustração profissional!

      A providência profissional não o dispensa de cuidados espirituais - é o que conteúdo pretende: Há intersecção da religião e suas práticas com a saúde mental - ciência e procedimentos. São complementos, não conspirantes.

      Mais uma vez (mito), o uso de drágeas por um profissional poderá dar uma lucidez para que o mesmo recobre seus valores e fundamentos relacionais com o Sagrado. Deus usa os saberes!

      O "definitivamente" e inexoravelmente "debilitantes" (outro mito) uso de medicações também constitui barreira para que muitos resistam a um tratamento.

      Com o modelo de vida que escolhemos - cujo maior valor é o sucesso profissional; com metas, pressões e correrias autofágicas (vede as vias públicas e carros)... Também escolhemos o que há de tornar possível a (sobre)vivência na selva de pedra: A Indústria Farmacêutica. Por isso a cada ano, novas doenças surgirão e novas alternativas químicas. Escolhemos o bônus (vida de gado), abracemos o ônus (produtos sintéticos).

      Sim, há uma "vida abundante", há um poder espiritual, há uma comunidade fraternal, há uma cruz, há um caminho... concordamos! Mas, até mesmo nestes ambientes supostamente restauradores (igrejas), a boa saúde mental está sob risco! Leia-se: MSI (Movimento dos Sem Igreja), Desigrejados etc. eles são 1/4 de desencantados com a religião protestante/evangélica/confissional segundo o IBGE 2010.

      Hoje, pasmem, estamos medicando e tratando aqueles vítimas da religião repressora, asfixiadora... Leia Decepcionados com a Graça - Paulo Romeiro.

      Sim, cremos nas cirurgias e reparações que a Palavra realiza no humano crente. Sim! Mas a conjuntura denuncia que até mesmo nas igrejas estão vivências tóxicas e debilitadoras. (Até mesmo lá o sucesso de uma carreira profissional pressiona um crente...)

      Portanto, cada caso é um caso. Essas alucinações não devem ser generalizantes. Mas, uma ocorrência - pressão por resultados - somente, não explica um processo complexo e suas implicações como a depressão.

      A intersecção proposta acima não se trata de crucificar Freud ou confinar Cristo a um divã. Deus é Senhor sobre as disciplinas.

      Sugiro http://lideralpinista.blogspot.com/2014/09/a-crentolandia-e-saude-mental.html?spref=bl

      Abraços de um admirador seu.

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  4. Precisaríamos admitir, então, que as escrituras não são suficientes para lidar com os problemas não físicos do homem, igualmente, incompetentes em instruir-nos para a vida no presente século, incompleta pois carece de complementos humanos, admitir que pelo conhecimento de Deus e de Cristo Jesus não obtivemos tudo o que diz respeito à vida e à piedade. Luz fraca para o caminho e lâmpada fraca para os pés. Enfim, meu amigo, não terei como sustentar meus argumentos de modo mais amplo. Sou incompetente pra isso. Mas, no fim das contas, o que me atrai em muitos dos teólogos citados por você, é o fato de darem lugar central às escrituras e não aos recursos seculares e voláteis. Uma vez retirada a Verdade, nada mais é "verdade", instala-se o relativismo.
    Finito, belo!
    Creio que expomos nosso ponto de vista. Bendito Seja o Senhor e a comunhão dos santos. Um abraço, Geraldinho!

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    1. Olá, caríssimo amigo:

      Minhas alucinações aqui expostas não são as melhores, últimas ou superiores. Aprendo muito com o contra-argumento. Grato por sua manifestação. São inteligentes e necessárias.

      A intenção do conteúdo não é uma coisa (ciência) no lugar de outra (religião). Mas, cada uma em seu lugar.

      Não há afirmações de insuficiência desta ao validar as contribuições daquela. Muito pelo contrário: Deus em seu poder e soberania são re-afirmados.

      Os teólogos citados vão ao extremo (não apenas consagram as Escrituras): Desestimulam (ou proibem) o acesso às disciplinas promotoras de saúde mental.

      Há "vida abundante", há poder do Espírito, há graça suficiente. Mas, um dos ambientes mais tóxicos, promotores de instabilidades emocionais, são os eclesiásticos - sem generalizações, por favor. Vede o fenômeno dos desigrejados (Decepcionados Com a Graça - Paulo Romeiro) e os dados IBGE 2010. Talvez isso sim, lance luzes sobre a disfunção dos modelos religiosos ("luz fraca").

      O Sr. foi conciso, todavia profundo. Muito acrescentou!

      Bendito seja o Senhor e a comunhão dos santos. Grato pela consideração. Abraços!

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  5. parabéns. Este blog é uma ferramenta abençoadora. Continue assim.

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  6. Nossa, com certeza esse site e uma benção, eu venho procurando em muitos lugares como tratar a depressão do meu avô e aqui encontrei um monte de boas informações pra ajudá-lo, pq só a Fluoxetina não parece estar ajudando.
    Neste outro site também achei maiores informações sofre o medicamento.

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