terça-feira, 17 de maio de 2016

FROZEN: UMA AVENTURA FAMILIAR

“Elsa (Frozen, Walt Disney - 2013) tem o dom de congelar e brincar com a neve – criatividade ligada ao seu estado emocional. Isso era motivo para muitas brincadeiras, até que um dia ocorre um acidente e Elsa quase mata Ana, sua irmã. A partir daí seus pais resolvem isolar Elsa até que ela consiga controlar seus poderes.  Apagam a memória de Ana sobre os poderes da irmã e não explicam para Ana o motivo de seu isolamento. Para complicar ainda mais seus pais morrem numa viagem de navio e as irmãs ficam sozinhas e isoladas no castelo.

Um típico caso de educação em que resolve-se um problema criando outros: Ambas são isoladas. Há fome de afeto. Ana cresce conversando com quadros, estátuas e adereços. Ora... Para seus pais, o melhor foi encobrir, não sentir, não saber: Pra ser uma criança “certinha”, normal, aceitável.

Crianças crescem como que de acrílico, borracha e silicone. Não sabem lidar com os próprios sentimentos. Na superfície não fala palavrão, não chora quando se indigna, não atira o pau no gato... Mas, o que fazer com o vulcão em constante erupção de nossos sentimentos?

Muitos pais decidem sem compartilhar. Dão ordens que, para os filhos que são sentido. Crianças são sensíveis ao ambiente. É necessário que decisões sejam explicadas sobre o que lidam e a rotina da família. Anna, então, cresce solitária e mergulha na busca intuitiva por seu príncipe.

Não é a clausura que ajuda Elsa a se auto-conhecer, mas longe de todos entende que só seria possível lidar com seus impulsos aceitando um gesto de amor sincero.

Elsa é introvertida. Introvertidos orientam-se por fatores subjetivos; introspectiva, foca nas impressões e emoções; prefere compreender o mundo antes de experimentá-lo, daí hesita diante das oportunidades. Os ambientes são evitados ficando alheia ao que ocorre ao seu redor. O introvertido tenta manter seus conflitos dentro de si, sem expressá-los. Tímidos temem ser desvalorizados assim como sente-se pressionados para extravasar o próprio ser e por isso “explodem”! Seus pais mandaram ocultar, não sentir - fazer de conta que leva uma vida normal, que não se sente rejeitada, envergonhada e desvalorizada.

Já Anna é extrovertida ao ponto de chegar a atirar-se nos braços do primeiro homem que a seduz - se orienta de acordo com o ambiente externo, o que inclui pessoas, objetos e ocorrências. É comum ouvir dos pais: “Amo meus filhos exatamente da mesma forma”. Essa frase, conquanto bem intencionada, desconsidera o fato de que cada um dos nossos filhos possuem características distintas...

Como lidamos com nossas diferenças? No passado isolávamos as pessoas especiais – com síndrome de Down, autismo, etc. É mais fácil esconder e isolar o diferente do que aprender a lidar com ele e aceitá-lo do jeito que ele é. Nega-se o problema. O pai da Elsa a orienta a encobrir-se, como se fosse tão fácil quanto vestir uma luva. Pode ser mais fácil, mas não é o mais saudável. Precisamos nos aceitar. E compreender o outro diferente. Elsa cresceu cada vez mais assustada com ela mesma e, consequentemente, tendo os seus poderes mais descontrolados.

Temos de lidar com nossos monstros de gelo - a personificação do medo e do terror. E, assim, compreender, interagir e ajudar os rotulados socialmente e “diferentes”. É mais fácil responsabilizar os outros por algo que não deu certo. É comum transferir responsabilidades, se esconder, evitar, fugir. Mas é o enfrentamento que nos amadurece. Muitos desconhecem as próprias potencialidades. Ninguém pode ser responsabilizado por um inverno permanente!

Frozen não tem grandes vilões - bruxas, madrastas ou monstros. Elsa, por exemplo, é orientada a recalcar suas emoções profundas. O vilão está no Self da heroína. A crise é familiar, entre as irmãs, e delas consigo mesmas. Olaf, o boneco feito de neve é criado acidentalmente: Caloroso, engraçado e extrovertido também. É o símbolo da individuação. Estamos em construção. Fazemos, desfazemos, re-fazemos. Frozen expõe a dinâmica de personagens a lidar consigo mesmas e com o mundo. São duas meninas que aprendem com o amor de uma para a outra, sem a dependência do idealizado amor romântico e da salvação do herói. Ao mesmo tempo, conta a estória de como a extroversão e a introversão podem ser equilibradas, a timidez vencida. E na gangorra das oscilações Elsa fica à vontade para criar junto à população; Anna não se entrega a Kristoff de pronto, como fez com Hans. 

Muito mais que Let It Go, o refrão chiclete: Num mundo cujas relações familiares estão cada vez mais frias, Frozen é uma reflexão interessante de como podemos superar e melhorar; de como pais precisam dialogar; de como precisamos nos conhecer - potencialidades e fraquezas - para interagir. By Geraldinho Farias

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