“Elsa (Frozen, Walt Disney - 2013) tem o dom de congelar e brincar com a neve – criatividade ligada ao seu estado emocional. Isso era motivo para muitas brincadeiras, até que um dia ocorre um acidente e Elsa quase mata Ana, sua irmã. A partir daí seus pais resolvem isolar Elsa até que ela consiga controlar seus poderes. Apagam a memória de Ana sobre os poderes da irmã e não explicam para Ana o motivo de seu isolamento. Para complicar ainda mais seus pais morrem numa viagem de navio e as irmãs ficam sozinhas e isoladas no castelo.
Um típico caso de educação em que resolve-se um problema criando outros:
Ambas são isoladas. Há fome de afeto. Ana cresce conversando com quadros,
estátuas e adereços. Ora... Para seus pais, o melhor foi encobrir, não
sentir, não saber: Pra ser uma criança “certinha”, normal, aceitável.
Crianças crescem como que de acrílico, borracha e silicone. Não sabem
lidar com os próprios sentimentos. Na superfície não fala palavrão, não chora
quando se indigna, não atira o pau no gato... Mas, o que fazer com o vulcão em
constante erupção de nossos sentimentos?
Muitos pais decidem sem compartilhar. Dão ordens que, para os filhos que
são sentido. Crianças são sensíveis ao ambiente. É necessário que decisões sejam
explicadas sobre o que lidam e a rotina da família. Anna, então, cresce
solitária e mergulha na busca intuitiva por seu príncipe.
Não é a clausura que ajuda Elsa a se auto-conhecer, mas longe de todos
entende que só seria possível lidar com seus impulsos aceitando um gesto de
amor sincero.
Elsa é introvertida. Introvertidos orientam-se por fatores subjetivos;
introspectiva, foca nas impressões e emoções; prefere compreender o mundo antes
de experimentá-lo, daí hesita diante das oportunidades. Os ambientes são
evitados ficando alheia ao que ocorre ao seu redor. O introvertido tenta manter
seus conflitos dentro de si, sem expressá-los. Tímidos temem ser desvalorizados
assim como sente-se pressionados para extravasar o próprio ser e por isso
“explodem”! Seus pais mandaram ocultar, não sentir - fazer de conta que leva
uma vida normal, que não se sente rejeitada, envergonhada e desvalorizada.
Já Anna é extrovertida ao ponto de chegar a atirar-se nos braços do
primeiro homem que a seduz - se orienta de acordo com o ambiente externo, o que
inclui pessoas, objetos e ocorrências. É comum ouvir dos pais: “Amo meus filhos
exatamente da mesma forma”. Essa frase, conquanto bem intencionada,
desconsidera o fato de que cada um dos nossos filhos possuem características distintas...
Como lidamos com nossas diferenças? No passado isolávamos as pessoas
especiais – com síndrome de Down, autismo, etc. É mais fácil esconder e
isolar o diferente do que aprender a lidar com ele e aceitá-lo do jeito que ele
é. Nega-se o problema. O pai da Elsa a orienta a encobrir-se, como se fosse tão
fácil quanto vestir uma luva. Pode ser mais fácil, mas não é o mais saudável.
Precisamos nos aceitar. E compreender o outro diferente. Elsa cresceu cada vez
mais assustada com ela mesma e, consequentemente, tendo os seus poderes mais
descontrolados.
Temos de lidar com nossos monstros de gelo - a personificação do medo e
do terror. E, assim, compreender, interagir e ajudar os rotulados socialmente e
“diferentes”. É mais fácil responsabilizar os outros por algo que não deu
certo. É comum transferir responsabilidades, se esconder, evitar, fugir. Mas é
o enfrentamento que nos amadurece. Muitos desconhecem as próprias
potencialidades. Ninguém pode ser responsabilizado por um inverno permanente!
Frozen não tem grandes vilões - bruxas, madrastas ou monstros. Elsa, por
exemplo, é orientada a recalcar suas emoções profundas. O vilão está no Self da
heroína. A crise é familiar, entre as irmãs, e delas consigo mesmas. Olaf, o
boneco feito de neve é criado acidentalmente: Caloroso, engraçado e
extrovertido também. É o símbolo da individuação. Estamos em construção.
Fazemos, desfazemos, re-fazemos. Frozen expõe a dinâmica de personagens a lidar
consigo mesmas e com o mundo. São duas meninas que aprendem com o amor de uma
para a outra, sem a dependência do idealizado amor romântico e da salvação do
herói. Ao mesmo tempo, conta a estória de como a extroversão e a introversão
podem ser equilibradas, a timidez vencida. E na gangorra das oscilações Elsa
fica à vontade para criar junto à população; Anna não se entrega a Kristoff de
pronto, como fez com Hans.
Muito mais que Let It Go, o refrão chiclete: Num mundo cujas
relações familiares estão cada vez mais frias, Frozen é uma reflexão
interessante de como podemos superar e melhorar; de como pais precisam
dialogar; de como precisamos nos conhecer - potencialidades e fraquezas - para
interagir. By Geraldinho Farias
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