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Oscar Martinez e
Cecília Roth interpretam um casal
tentando se reencontrar na engrenagem conjugal.
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Denomina-se “ninho vazio” a fase da maturidade conjugal em que o casal volta à condição inicial: Somente os dois. Os filhos crescidos, preparados, autônomos, partem para o destino – profissional, familiar... deixando, assim, a casa. Esta é uma transição não menos dramática para muitos casais.
A dinâmica conjugal transitou do encantamento a dois ao nascimento dos filhos; a repercussão da maternidade e a dependência retro-alimentada do apego e interação materno-filial; e a partir daí, tudo girou em torno dele(s). Essa configuração é estabelecida e aprofundada ao longo dos anos – décadas, até que tudo volte ao início: O casal, eles mesmos, e só o casal, se depara com a nova configuração.
Não podemos subestimar os efeitos da adaptação. Quarto vazio, casa mais silenciosa, menos bagunça, menos assunto...
Aquele senso de importância e poder – ser procurado, ser ouvido... Não mais existirá – não com a mesma relevância.
Se a maturidade trouxe consigo ferramentas e manejo para lidar, bem. Se a experiência a dois implicou em muitas perdas, dores e sofrimentos, tornando as transições processos admitidos e reconhecidos e levando a re-fazimentos cuja mutualidade se fez real, melhor ainda.
Mas... Se os problemas intra-conjugais foram “maquiados”, camuflados, entre-meados ou mediados pelos filhos - seja amortecendo impactos, contendo impulsos ou inibindo agressões, a experiência do “ninho vazio” estremecerá a relação e a submeterá a riscos.
Após anos de clínica constatei várias possibilidades: Para evitar a autonomia dos filhos, pares alimentam a dependência deles. Não permitem ou “autorizam” a saudável autonomia que levará, inevitavelmente ao “vôo solo”. Receiam o fim do controle; autuam mantendo a dependência e promovendo a infantilidade dos mesmos. Jogam pra preservar a família completa.
Outros, prevêem que a estrutura conjugal é suportada (apoiada) pelos filhos. Sem eles, desmoronará. Fato que se confirma posteriormente num divórcio ou... Numa relação formal, gélida, pálida; qual dois amigos (inimigos?) a dividir o mesmo teto.
Outros ainda temendo o futuro negociam o plano de uma “distância próxima”: Os(as) filhos(as) casa(m) mas morarão no mesmo território... Evidente que esses processos nem sempre são conscientes e assumidos. E que nem todas as configurações são totalmente por esses motivos. Mas o número de casais que se articulam para não encarar esta realidade são inacreditáveis.
Uma das mais simbólicas cenas do ritual de casamento é a despedida entre pais e filhos casados. Geralmente são os cumprimentos finais. Não é apenas uma família que está nascendo. Pode ser uma família... morrendo. Um luto se segue entre os envolvidos. Uns dizem: "Estou ganhando um(a) filho(a)" - se referindo a(o) noivo(a); Ou: "Estou perdendo meu(minha) filho(a)... Referindo-se a(o) noivo(a), invasor(a) ou sequestrador(a). Não raro recebemos pais na clínica a elaborar o luto. Mormente, por outro lado, a Lua-de-Mel conquanto um evento de felicidade dos nubentes, não evita o luto também de um dos cônjuges, sobretudo das noivas. No curso preparatório para o casamento, noivos já assumem que buscam morar próximo dos pais; consenso para minimizar aspectos com potencial dramático.
Uma tsunami cobre Leonardo e Marta no filme Ninho Vazio (Daniel Burman, 2008); um casal de meia idade que precisa lidar com o vôo dos filhos. Ela, retoma os estudos e às relações sociais; ele, escritor, decide pela introspecção. Crise instalada, a história descreve o interior de uma conjugalidade e o desafio de reinventar-se.
Devemos provocar diálogos com os casais em qualquer tempo. Esta etapa virá. Mas não precisa ser um pântano afetivo. A conjugalidade é das relações humanas a que oferece inúmeros repertórios e possibilidades. Antes de curtir netos, é hora de projetos a dois – cuidar da saúde, exercitar física e mentalmente, redescobrir amigos e fazer novos; ser criativo, lúdico,... Alguém já disse: “Um dia a gente morre, mas, todos os outros dias, não”.
Essa fase desnudará o quanto a relação a dois foi constuida e mantida: A
aliança, o comprometimento, a amizade. "Um ao outro ajudou e ao seu
companheiro disse: Esforça-te" (Is 41.6).
Os filhos irão. Nunca é cedo demais para conversar sobre. "Eles se foram...
Mas eu estou aqui." Os filhos irão, mas a conjugalidade não. E a vida pode
ser/continuar melhor! By Geraldinho Farias
É um momento especial e devemos saber vivencia - lo!
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