O Narciso Virtual é “prato cheio” para um Analista. Vejamos:
Há quem viva de “curtidas” do que publica nas redes sociais. O indivíduo pode se deprimir ao conferir que sua novidade ou imagem repercutiu menos que imaginou.
O “Narciso analógico” – aquele original, da mitologia, poderia se afogar em sua imagem refletida na água; o digital, pelo contrário, reflete seu alterego.
Há quem faça da rede social seu diário ou agenda – descrevendo passos, planos e sonhos.
Outros, seu terapeuta – ali é o seu divã - depósito de mágoas, frustrações e encantos.
O homem, ou este “outro” ser subjacente da fibra ótica, usuário, há tempos perdeu seu nexo, suas noções e limites. Não há mais público e privado. Uma confissão íntima é pulverizada e estará à céu aberto ao bel sabor de interpretações, juízos de valor e achismos.
Nunca nós, terapeutas, descobrimos tantos bipolares. O sujeito é um nas telas e redes; é outro completamente diferente ao vivo e em cores. Lá é capaz de enfrentar terroristas munido apenas de uma funda; cá, é tímido e amedrontado. Lá é um desinibido protagonista; cá, um recolhido apequenado.
O sujeito não viaja para viver uma experiência. Ele viaja para exibir a cena. É personagem de si mesmo. O que conta não é a experiência, mas a exibição dela. Aquilo que não se publica, é como se nunca houvesse acontecido. Então, tá.
O bisbilhoteiro, voyeurista, fofoqueiro, esse tal que concebe a vida alheia e a própria como um reality show. Consumidor de novidades. Confessemos: Isso condiciona, vicia, transtorna.
Aqui na Terra, na realidade nua e crua, como dizia Nelson Rodrigues na vida como ela é, o viver ainda não é um Conto de Fadas. Enfrentamos a velhice, o câncer e o desmatamento. O estético ou “cosmético” de fato seduz poderosamente, mas, a realidade não é vitrine ou cenário. O mundo é odeia global de invejas, comparações e disputas.
Mesmo negando limitações e frustrações, precisamos de oxigênio e da vivência relacional. Sabemos que nem só de clicks, selfies e curtidas viverá o homem.
Parafraseando
Chico: "Procurando bem/ Todo mundo tem pereba/ Marca de bexiga ou
vacina... Só a bailarina e o internauta que não tem"
(Ciranda da Bailarina) By Geraldinho Farias
para o homo sapiens, muitas vezes o "parecer" é mais importante do que o "ser*
ResponderExcluir