SOBRE IRMÃOS METRALHAS E XIITAS

O Corpo de Cristo deve produzir anticorpos em resistência a atitudes que enfraqueçam a comunhão entre seus membros. A comunhão é ameaçada quando um irmão ou grupo de irmãos às vezes bem intencionados, às vezes nem tanto, age belicosamente, contaminando outros com suas insatisfações em relação à liderança ou os rumos que a comunidade escolhe. Esta atitude de “irmão metralha” tem sido a causadora de adoecimentos por aí a fora – na sabotagem de  projetos, escândalos, divisões e enfraquecimento do Corpo de Cristo através de práticas sistemáticas de oposição e intolerância ao ministério praticando “fogo amigo”
  - quando um soldado atinge outro do mesmo exército.

Oposição à liderança é algo comum na Bíblia: Moisés enfrentou a rebelião de Coré, Datão e Abirão  (Nm 16) – invejosos, investiram pesadas críticas contra o líder. Davi foi vítima da perseguição insana de Saul e depois, de Absalão, seu próprio filho. O apóstolo Paulo combateu os falsos apóstolos, sedutores dos corintos, e mencionou entre suas aventuras uns tais “falsos irmãos” juntamente com suas aflições (II Co 11.27); deu “nome aos bois”: Himineu e Alexandre (I Tm 1.20; II Tm 4.14). Sempre que a estabilidade comunitária corria riscos, o apóstolo tratava de forma disciplinar e confrontativa visando sua manutenção (I Co 5. 1-13; II Co 2.1-11).

Jesus partiu o pão com Judas, o traidor; o apóstolo João enfrentou a inveja e concorrência de um “metralha”: Diótrefes (III Jo 9,10).

São muitos os relatos de comunidades com rachaduras. Por quais motivos? Arrisco alguns:

Desamor: O amor é o regulador das relações (I Co 13; I Jo 4.8; I Jo 2 e 3); deve paltar as intenções (I Co 10.31).

Desejo de controlar a comunidade: Por ter sido fundador ou contribuído de forma substancial na congregação alguns reinvidicam proeminência – todos são iguais (I Co 3.4).

Intolerância. Pouco democrático, o insatisfeito não aceita que a liderança ou comunidade seja/viva diferente do que ele pensa. Maturidade é abrir mão daquilo que defendíamos por aquilo que a maioria escolheu/aprovou.

Insatisfação de qualquer natureza. A igreja é um Corpo em crescimento, portanto, não está pronta (Fp 1.6). Quando se vive a expectativa da “igreja perfeita”, buscará defeitos, alimentando insatisfações. Se até no céu houve problemas (=queda dos anjos), o que diremos de uma comunidade de humanos? O Mestre conviveu com um membro que negou-O; outro, ladrão e traidor; alguns ambicionando primazia; e muitos incrédulos! Os “caça-defeitos” devem ler sobre os Corintos: Apesar de “carnais” e “meninos”, o apóstolo Paulo afirma: “Vós sois o Corpo de Cristo”. Alguém já disse: Quem vê defeito em tudo, verá defeito até no céu.

O modelo de liderança e a liturgia do culto. Ora, existem tipos de liderança com pontos positivos e negativos, afinal, as pessoas não são iguais. E a liturgia? Se fossem sob nossa encomenda não seria dito que deve haver unidade na diversidade (I Co 12.4-7).

A Bíblia apresenta posturas a serem seguidas pelos membros de uma comunidade:

1. A atitude predominante:

“Nada façais por contenda ou vanglória... tende em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus...”– Fp 2

“Tudo o que fizerdes seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus” – Cl 3.17

“...Que faleis todos a mesma coisa, e que não haja divisões entre vós...” – I Co 1.10

2. Atitudes dos Ministros de Cristo:

“É necessário que o pastor... Seja modesto... Inimigo de contendas.” – I Tm 3.2,3

“...Que evitem contendas...” – II Tm 2.14

“É necessário que o servo do Senhor não viva a contender... Disciplinando com mansidão os que se opõe” – II Tm 2.24,25

 “Que a ninguém infamem nem sejam contenciosos, mas modestos...” – Tt 3.2

3. Sobre Contendas:

“O que ama a contenda ama o pecado” – Pv 17.19; 15.18

“Porquanto havendo entre vós contendas e ciúmes não é assim que sois carnais e andais segundo os homens?” – I Co 3.3

“Ora, as obras da carne são: ...Inimizades... Discórdias, dissensões, facções... – Gl 5.20

4. Disciplina do Novo Testamento para os “Xiitas”

“Exorto-vos, irmãos, que admoesteis os insubmissos” – I Ts 5.14

“Evita o homem faccioso, depois de exortá-lo primeira e segunda vez” – Tt 3.10

“Rogo-vos, irmãos, que noteis aqueles que promovem divisões... em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles” – Rm 16.17

Líderes devem ser abertos a sugestões e críticas quando resultam de corações desejosos do progresso da igreja. Também, estejam atentos a corrigirem grupos “xiitas”  quando ameaçarem sua comunhão.  O que deve nortear as nossas relações não são as razões que alegamos possuir, mas os princípios da Bíblia. Diálogos francos e respeitosos  são necessários quando a temperatura subir.

By Geraldinho Farias - publicado na Revista Vigiai 3, p. 33